COMENTÁRIO DA AMIGA, ESCRITORA E POETISA ANA JÚLIA MACHADO AO TEXTO /**TEIA DE ACASOS E ORIGENS**/


TEIA DE ACASOS E ORIGENS
Manoel Ferreira Neto.



Neste texto de Manoel poder-se-ia ir muito longe…como uma Voz isolada, como ele refere, que vem despertando sobre a postura tão grosseira que temos vindo adoptar ao longo dos tempos, como que permutamos nossos criadores clássicos por veículos ágeis, sapatos e capital.
Ainda no século XIX, Nietzsche já nos prevenia sobre a importância de adoptar nossas disposições (mesmo que, aparentemente, ele tenha aberto as represas excessivamente e perecido diante das pujanças desnorteadas). O filósofo asseverava que o caso de termos que coibi-las era a constatação de que habitávamos numa coletividade enferma. Seu exclusivo feito de fantasia, Assim Falou Zaratrusta, é uma metáfora sobre a humanidade nos paroxismos da cultura hodierna.
Concordo plenamente que este é o século das trevas, na Idade Média cometeu-se atrocidade, é verdade...Mas... hoje as atrocidades são ainda maiores...tanta coisa se comete, só que com mais sofisticação....anteriormente, poder-se-ia matar dez pessoas em uma hora...actualmente, dizimam-se milhares em segundos......Parabéns pelo texto....mas dava para uma tese. Tanta ponta por onde se pegar...



Ana Júlia Machado



Relevante você dizer isto, Ana Júlia Machado, este texto dar uma tese. Quando o criei, não projetei escrever uma tese, mas pensei comigo: "um texto que, se alguém, com percuciência e inteligência, debruçar-se nele, poderá defender uma tese".
Quem sabe, hein, você não aprofunde inda mais a leitura deste texto numa tese?! Mãos à obra, amiga, tem todo o meu apoio!!



Manoel Ferreira Neto.



**TEIA DE ACASOS E ORIGENS**



Estou alegre, porém, lâmina em golpe firme, quem sabe até uma metáfora muitíssimo inspirada, o instante puro da anunciação e revelação, destes que não se podem jamais esquecer, significaram a consagração, a partir daí dera um rumo e um destino irreversível à vida, podendo até dizer que nele estava presente tudo o que antes houvera sido feito, desejado, sonhado, realizado, daqui em diante, se antes havia alguma dúvida a respeito, podia ser como podia não ser, manter um nível assim não é para todo o sempre, há caídas bruscas, impossível conservar por muito tempo, mas a partir deste instante podendo sim considerar antes e depois deste momento, e interessante é que ambos formam um único ser, com suas diferenças e características particulares e singulares, mas unidos, reunidos, conciliados, em harmonia e sintonia.
Lâmina em golpe firme... Que precisão de intuição! Este sentimento que já me vem rondando, impondo-me, cortando-me o riso pela metade. Quase tudo já se desfez de sua memória, e não apenas da memória, mas apenas agora uma cena volta, isolada, não a parte de um todo, mas um todo em si. De imediato, necessitava por inteiro expressar este momento!... Talvez houvesse alguma dificuldade mais próxima e mais real, isto de revelar algo que se anuncia de imediato, num passo de mágica, e nesta anunciação estar toda a semente de um tempo, de um novo tempo, de apenas realizações e prazeres, não é assim tão fácil. Há sempre aquela dúvida de se não estar com expectativas, criando e recriando realidades a partir de situações e circunstâncias, vistas através de meus olhos, ainda muito apaixonados.
Corta-me o riso por inteiro. O coração acalentado por uma alegria boa. Uma promessa de felicidade.
Um homem descendo em passos firmes e convictos uma escada, parando por um tempo de nada, com a mão direita no corrimão, olhando as serras de longe, a mão avançando novamente, seguindo o corrimão, instantes de alegria, esperança nos olhos castanhos...
Contudo, uma imagem, uma simples visão, uma figura suave, delicada, algo que mais intuo que propriamente enxergo, consegue abalar profundamente o meu mundo, mundo que tão solidamente sonhei e desejei, mundo que podia ser sim construído, instituído com toda veemência, empáfia, embófia, salvo a alguns olhares um merecimento e um reconhecimento. Estar aberto para todas as oportunidades, todas as possibilidades, outras em decorrência aparecem, anunciam-se, revelam-se, um caminho do campo, este só é a partir das oportunidades e possibilidades reais, se se tornarem realidades, ótimo, se não se tornarem possibilidades, aberturas para outras tantas realidades, a perder de vista, enfim, posso compreender bem o que dissera amiga: “Gente é para brilhar, não para morrer de fome”.
Sinto aquela beleza com a revelação de insuspeitáveis potências em meu interior, o despertar de inimagináveis energias. Creio que só agora estou compreendendo muito próximo isto de a vida ser mágica, acontece num passo, até desaparece num traço mal feito, sem qualquer entrega e doação, mas para desaparecer teria sido necessário que acontecesse, e se não pude com um ótimo traço traçar todas as suas realidades e possibilidades, isto é lá comigo que não tive a mínima consideração por este momento, sugeriu-me que fosse uma fantasia, uma quimera, fruto único de uma imaginação fértil. Um mundo que escondido numa noite escura se mostra sob um raio de luz.
Tomado pela vertigem do próprio vazio, individual e íntimo, agarro-me aos mais inexpressivos sinais de identidade. Esta expressão, homem de espírito, não anuncia nenhuma pretensão, é uma arte que exige cultura, é uma espécie de profissão, de confissão, e como tal expõe à inveja e ao ridículo. Esta arte consiste em não me servir simplesmente da palavra certa, da imagem certa para a palavra certa, da intuição certa para a verdade, que não diz nada de novo; exige o emprego de uma metáfora... sendo até necessário que tenho sim o prazer de dizer, repetir que, não tendo um caminho novo, a vida é feita de caminhar, e isto pode até exercer sua influência para uma dúvida atroz que surge, que se revela, de ainda não haver encontrado nenhuma palavra certa para expressar uma idéia, uma intuição, uma inspiração, um sentimento... Exige o emprego de uma metáfora, uma figura cujo sentido seja claro e cuja expressão seja enérgica, a expressão de algo vivido e experienciado, uma contemplação.
Até concordo que nem sempre pela metáfora me exprimo espiritualmente, o que me custou algumas pequenas depressões e angústias, pensando que, enfim, havia encontrado um limite para as criações, as recriações, e isto nunca pode acontecer, pois que, se houver, com certeza, não será tão agradável de conviver com a idéia de que encontrei um limite, as minhas forças todas reunidas não conseguirão isto vencer. As insinuações, as alegorias, as imagens são um vasto campo de pensamentos engenhosos, de idéias artísticas, de sentimentos humanos e divinos, de emoções transcendentes, enfim, das águas límpidas do rio que correm sem cessar, sabendo de antemão e revezes o seu destino, a sua aspiração, a sua vontade, o seu desejo, muito embora estas águas deem muita importância ao nosso destino, à nossa aspiração, à nossa vontade, ao nosso desejo, e não como desejam alguns que a natureza pouca importância dá a nós, os seres humanos, os homens, embora nisto exista até uma verdade inconstestável, a nossa insistência em compreender a vida a partir da razão e do intelecto, quando ela é a vida a partir da sensibilidade, da fragilidade, enfim, de sua verdade.
Os efeitos da natureza, a fábula, a história, presentes na memória, fornecem à imaginação bem-dotada frases de espírito que ela emprega na ocasião conveniente. Se existem espíritos, inteligências, sabedorias que isto podem captar, intuir na fonte originária, creio que o espírito seja algo difícil de definir, é uma qualidade do discurso que se considera reveladora de uma qualidade da alma, isto se penso em uma luz, algo que ilumina a idéia, o pensamento, revelando a sua essência, a luz. O espírito afirma a possibilidade de produzir o novo, a partir do feito de caminhar, sem nada mudar na ordem antiga; a escolha de uma estética leve e enxuta, límpida e clara, o contrário da pesada pompa que acompanha a influência sensual da razão, a influência corporal do intelecto, se assim posso dizer, e alguns doutos podem com isto não concordar, enfim, de definir uma vida cuja excelência se defina pelo saber, pela experiência, pelo sonho e utopia.
Alguns galgam paciente e prudentemente, um a um, os degraus do reconhecimento, que costumam corresponder mais ou menos aos da fortuna. São degraus que exigiram sim o movimento das pernas para que os pés os alcançassem, sentissem no solado do pé, se isto não é uma imagem bem vulgar, mas não conheço da linguagem própria do corpo, em termos científicos. Primeiro, é mister que se conscientize de um dom divino, um dom gratuito, algo que transcenda aos limites todos, que os homens normais enfrentam a todo momento... Também se não houvesse falhas no esforço e no talento, não seria algo verdadeiro, estaria negando o que possibilita sim a luta, a busca, a tensão entre o sim e o não, mas que exige uma atenção e uma perspicácia de intuição e inteligência para compreender e entender as estratégias do destino e dos sonhos.
Antigamente, estando a escrever algo neste nível, com esta profundidade, tendo, antes dado um título, pois que jamais soube escrever algo se antes não intitulo, mas que, no percurso e decurso da escrita, encontro uma imagem destas, antigamente até modificaria o título, ao invés de ser “Teia de Acasos e Origens”, mudaria para “Estratégias do Destino e dos Sonhos”, mas devo sim dizer que antigamente desejava sim negar a inspiração, aliás, é até compreensível, pois que percebo hoje que esta questão até mesmo questionável por inteiro, isto de não querer que exista a inspiração, era uma fuga da dificuldade de escrever, de início na carreira de um escritor ele só quer e deseja o mais fácil, com o tempo é que percebe as dificuldades da escrita.
Um lugar de agradáveis discussões, a discussão do talento e do dom num mundo em que se dá primazia ao simples, ao supérfluo, ao que responde pelos interesses da ideologia e do modismo, mas que nada permanece, se antes disseram que a Idade Média foi o Século das Trevas, não se soube dele, aliás, fora sim o Século das Luzes, e hoje, é que se deveria enxergar este século como o das trevas, e só por muito milagre pode se salvar de tão triste conceito e definição.



Manoel Ferreira Neto.
(24 de maio de 2016)


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