**POESIA: LÂMINAS DE ÁGUAS CRISTALINAS** - Manoel Ferreira


No meu jardim havia flores de todas as belezas... Rosas de contornos enrolados, lírios de um branco amarelecendo-se, papoulas que seriam ocultas, se o seu rubro não lhes não espreitasse presença, violetas pouco na margem tufada dos canteiros miosótis mínimos, camélias estéreis de perfume... E, pasmados por cima de ervas altas, olhos, os girassóis isolados fitavam-me grandemente.
Série de sonhos, busca de esperanças, querências do ser, abismos de silêncio, grutas de solidão, quiçá os horizontes de além entre-lacem as estrelas cintilantes, brilho da lua, re-vel-ando o esplendor estético das éresis do tempo, quiça os uni-versos do vazio des-velem os mistérios inauditos da alma, enigmas indevassáveis do não-ser, éter do nada, éter de nonadas, travessias, passagens, ocasos de luzes res-plandecendo o crepúsculo, miríades de raios numinando o anoitecer, anoitecer de idílios, anoitecer de esperanças, pretéritos subjuntivos acendendo na lareira de defectivos gerúndios a memória do genesis.
Encostado no parapeito de minha janela, vidraça aberta, a chuva fininha caindo, olhava o jardim, sentia-me extasiado, indagava-me, com um sorriso sereno nos lábios, a razão de meu jardim ser tão lindo só nos dias de chuva fininha. Não encontrava res-postas, mas o espetáculo fascinava-me, então quando um vento sacudia as flores e pingos de água se espalhavam entre os espaços vazios de um pingo e outro da chuva, a alegria que me habitava resplandecia, e era quando olhava para o infinito.
Palavras retrógradas configurando metáforas, zagaias de outrora, zagaias do inolvidável - sentidos do nada que me perpassam o âmago recôndito, pleno interstício do ser, abóboda do perene símbolo do que efemeriza as esperanças do sonho no sono notívago das angústias, tristezas.
Quiçá os versos sejam ininteligíveis, nada apresentem de significações, letras escritas a esmo, enfim a inspiração refestela-se na rede da varanda na tranquilidade, serenidade, suavidade da noite plenifica de estrelas, boêmios seresteiros deixaram a viola no canto do quarto, encostada à parede, são andarilhos do tempo-nada, são sendeiros do tempo-vazio, são vagabundos do tempo-melancolia.
O meu sonho de viver ia adiante de mim, alado, e eu tinha para ele um sorriso igual e alheio, combinado nas almas sem me olhar. A minha vida era toda a vida... O meu amor era o perfume do amor... Vivia horas impossíveis, cheias de ser eu... E isto porque sabia, com toda a carne da minha carne, que não era uma realidade... A chuva cessaria, passadas algumas horas ou mesmo poucos dias, o sol voltaria, seus raios secariam as plantas, as rosas murchariam, cairiam suas pétalas secas.
Nada dizem estes versos, nada expressam estas estrofes, nada significa este poema, o nada de um poema é o não-ser da poesia, poema são estesias da poesia, poema são êxtases da poiética do ser do espírito que sonha a contingência
Do vir-a-ser, a melancolia do efêmero, poema são clímaces das dores, sofrimentos ec-sistenciais à luz da tristeza do ser que sobrevoa a floresta silvestre das memórias pretéritas do caos, na dialética do efêmero habita solene o absoluto vazio do não-ser, na dialética do eterno habita pomposo o divino sentimento dos horizontes des-vencilhados, des-cartados, des-velados no deserto do silêncio, no mar sombrio da solidão habita o espírito da felicidade re-versa às trans-cendências da morte, à alma in-versa às contingências do ser-sublime, a-nunciação, re-des-velação do ec-sistir.
Com poesia, Vertente são águas límpidas, seguindo a trajetória da vida em busca do Amor e da Verdade; com poesia, vertente é fonte de emoções serenas, sensibilizando casais enamorados da orla; com poesia, vertente sacia o amor de verbos, sonhando a plen-itude do espírito; com poesia, vertente são mãos tecendo a beleza do verso, engendrando estrofes no soneto do Eterno; com poesia, Vertente é...



Manoel Ferreira Neto.
(29 de maio de 2016)


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