**MOCHILA NAS COSTAS PARA SEMPRE** - Manoel Ferreira


Mochila nas costas.
Imagem nítida, transparente na moldura do tempo à vista nos horizontes, universos, cantos e recantos do mundo. Tempo de re-escrever a história, tempo de re-verter as perspectivas, tempo de apagar as letras na lousa, virar a moldura para trás... Re-começar. Este caminho chegou ao fim.
Não entendo isto de "fim". Fim é princípio de início. Nem a morte é o fim irreversível, e não por pensar na vida alem da morte, como cantam, declamam, recitam as religiões. E para todas elas plena de felicidades e alegrias. Quê agonia felicidade e alegrias todo dia. Morre-se, mas no mundo, na terra ficam os passos e traços. Para o corpo, a matéria sim, é o fim, mesmo assim ao longo de cinco anos até tornar-se cinzas. Na sepultura, os dados do nascimento e do falecimento. Debaixo da terra, há restos mortais.
Bifurcação na estrada. Todos acreditam que a busca de re-velar o amor é chegado ao término, agora é deitar-me na rede, ler Cecília Meireles, com a amada à noite sentado no banquinho de mármore con-templar as estrelas, a lua, entre abraços e beijos. Não, nada disso. Ainda há muitos vazios não preenchidos na alma. Sigo a estrada à esquerda.
Mochila nas escolas. Pedradas. Estou equivocado. Estou fugindo de mim próprio. Estou negando a minha verdade. Palavras ditas no riste da língua. Ninguém anda nos meus sapatos, nada sabem de mim. Porque a imagem na moldura está fixada, à vista de do mundo, não significa estou pronto e acabado. Nem na eternidade, estarei pronto e acabado. Dizem que a vida é eterna, o homem não. O homem é também eterno. A partir do instante que aportou no mundo, começa a sua eternidade. Por que a vida, não apenas dos homens, mas de todos os seres? É algo imprescindível, extremamente necessário? Não houvesse vida, não haveria eternidade. Para que o mundo, a terra?
Outro amor sim... Por que não? Verdadeiro ou não, eis a escolha peremptória. O tempo dirá. Exponho a verdadeira imagem na moldura. A minha verdade sou quem a sabe.
Iríadas da plen-itude. A verdadeira imagem exposta a todos os uni-versos e horizontes. Tudo nos seus devidos conformes. Re-escrever a história com a minha verdade nas mãos feitas conchas, com o amor de mim na vida. Não vou deitar-me na rede e ler Meireles, não vou sentar-me no banquinho de mármore e junto com a amada con-templar as estrelas e a lua. Há muitas estradas a andar, muito a ser re-escrito. Os escritos ficaram no passado, páginas passadas.
São outras páginas agora. As escritas são páginas velhas.
Nada escrito envelhece, torna-se dèmodé, peça de museu. Os escritos de Platão estão novinhos em folha, afiguram-se haver sido escritos hoje depois da meia noite. Por que estou dizendo as minhas escritas são páginas velhas? Estou dizendo asnice, asnada, asneira.
De mochila nas escolas, sigo as asnices, asnadas, asneiras. Fizeram-me eterno e isso não posso mudar, fazer do eterno de mim o efêmero.
Há para quem a eternidade incomodava tanto que ele entrava em crise existencial tão grande que a mulher precisava reanimá-lo com muitas dificuldades. Odiava a eternidade.



Manoel Ferreira Neto.
(15 de maio de 2016)


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