COMENTÁRIO DE MINHA "SECRETÁRIA-POETISA" ANA JÚLIA MACHADO AO TEXTO /*HARMONIAS LÍRICAS, CELESTIAIS*


EURITMIAS POETISAS DIVINAIS



Que deambulem asnos e criaturas na via – pretende consonância mais verídica, exemplar?! Intelecção e falta dela. Aos asnos, a intelecção; haverão o que confecionar com ela; se desconfiar, serão competentes de auferir divinos elogios pelas enormes ações à gente, à estirpe toda; quiçá no instante da “medalha de ouro”, não será pronunciado pelo mestre-cerimônia: “perdoem-me os convenientes e moralistas, protestantes e religiosos, mas Divo enganou-se dês a perpetuidade. Se aos anos tivesse doado o intelecto, todos as dádivas e habilidades da alma, o universo seria bem distinto”. E as obscuridades no firmamento – se mourejassem permutadas de loco, revolvessem aplicadas na terra, acautelaria que alguns indivíduos não locomovessem de cabeça para apeio, a fim de afetarem as negrumes com os pecíolos, e, nelas, jornadeando abeirassem ao firmamento mais velozmente, a chola consistiria no seu sítio conveniente. As negrumes no firmamento, se as possui – pronunciam que isto é delírio, tudo é oco no área e os entendimentos na cachola, se os fruem. O assunto embaraçoso não se é na cabeça que os entendimentos encontram-se, se os homens são detentores de ideias, mas é a de alguns conterem os entendimentos nos elmos, e quando marcham abalam disseminando recados ao extenso do trilho. Não possuo réplica para isto. Asnos e homens são a luminosidade do universo. Existe quem adverse isto, não lhe apartando o raciocínio; os homens desde os princípios da existência, abrilhantam a terra, e por que a terra só habita na opacidade, nas tenebrosidades? A claridade deles não é completa, completa. Quem embate um interoceptor, nunca mais ateará metade da luminária, fração é luminosidade, porção é insignificância, mesmo que exista alguma imperfeição na ligâmen, a luminária ache-se com alguma dificuldade, objeto de produção. Escasseavam os asnos para complementar a luminosidade, a alumiação completa. Declaro que, depois possuir isto sabido, habito alegre da existência, dando pulinhos pelas vias – evidente, certa descontentamento existe nisto: porventura conseguisse arrastar uma carriola, aí a dita ordenaria plena, a minha essência seria irrepreensível, porção homem, mais do que apetrechado de intelecção, porção asno, mais do que apetrechado de pressentimentos. Agregando, aquiescendo, abraçando homens e asnos, a terra completa será profetisa, não existirá mais pretume, não existirá mais ignorância, os coriscos da luminosidade sobrevindos do intelecto e intuição resplendecerão por todo o perene, os homens mais não se inquietarão com a porção do universo em cegueira, o que poderão atuar para isto abolir, qual a sagrado feito deterão de conceber para isto executar. Quem descobrir alguma silhueta, auferirá recompensa nunca mais delegada a um homem, desde a perpetuidade dos galardões, autenticações, apreciações, será, desde já, apreciado quem descobriu obscuridade na beleza, mesmo nos períodos de tenebrosidades e trevas, as silhuetas aportaram exemplares, nenhum livre-pensador, psicotécnico, antropólogo, humanista e filantrópico apontou incorreções nos vultos Existe, sempre existiu, desde primitivos períodos de nossa culteranismo, temporadas deveras douradas, que penacho ou cor delineou-as até a contemporaneidade, um testo, que queira um na cabeça, seja para reconhecer a proveniência, rústico, caboclo, seja para exibir status social, política, financeira, cultural, sabedor, em ambos os factos as sensibilidades de ufania e prazenteio, com a capacidade e domínio com que os utilizaram, empregaram. Assim, alguns idiomas das mais ferozes pronunciaram que estavam carecendo assentar uma círio ateada de por apeio de seus testos para ser exequível avistar-lhes mediana luminosidade ou labareda nas suas cabeças, mesmo que de por apeio do testo. Não existe o que argumentar, algumas cabeças encontram-se carecendo de claridade, mas o pior seria se alguém com a dádiva de olhos de lobo-gato enxergasse e verbalizasse: “a círio de por apeio daquele testo acha-se ateada, mas a cabeça dele acha-se na repleta, cegueira. É só parecer, embuste. Quem cogita que acha-se embaindo?” Na minha frugal conspeção dos factos, parecer sobre, perspetiva a obediência , não se coloca uma círio ateada de por baixo de uma chapéu, pois assim se licenciam o testo e a círio. Linguareira alguma exprimira ser imprescindível assentar uma círio de por baixo do testo de um asno para que algum intelecto desmanchado, desprestigiado, arrevesada da veracidade, do autêntico terrestre afigurasse os cérebros deles habitavam nas tenebrosidades, opacidade, lhe aconselhe os andares na sua jornada, arrastando carriola, conduzindo os favores, regressando para agarrar distintos. Bem... Discorramos no acontecimento!... Alguma incorreção na minha coerência, seja facturada na soma de que sémis de mim é asno, a outra é homem. Adquirindo em apreciação a dimensão das aurículas, o testo aplicado permanecerá um pouco longínquo da cabeça, correspondente a dimensão do coto de círio, não arderá o chapéu, abonar-lhe-á um parco de quentura, causando com que as aurículas do meritíssimo e altíssimo besta experimente-lhe a consequência, estaque agitada, expirando uma vez por todas com as intuições, exatidão da casta e estirpe, de empachamento, caturrice, caminhará, caminhará, não interessando se no raso, se em ascensões abruptas, encostas asneiradas. Os homens cumpridores, ponderados, pronunciando: “Lá caminha o asno com a círio de por baixo do chapéu alumiando os locos por onde galga, alumiando o universo e a existência”. Ledor, não aquilateis que advenho debelar os feitos defeituosos – os homens serem a chama do universo reverteu em cegueiras e ignorância, dimanam em constrições e cóleras, melancolias e prostrações, pois que somente uma porção das realidades do universo eram profetisas, susceptíveis de reprimendas, constrangidas a inquirições penetrantes, indeferíeis pela sensaboria, regatearia, vulgaridade de seus primórdios pensantes, ideologias -, advenho emendar os feitos desconcertados; confecionaram o movimento instintivo do asno, expatriaram-lhe à infeliz espécie de apenas pressentimentos. Apareço pronunciar que a euritmia, primórdio e quimera, ânsia e quimera, vontade e fantasia, líricas e celestiais, um equilíbrio, só pode ser realmente vivido, com pujança, a partir do momento em que os indivíduos e asnos se conturbarem, contemplando um asno, possuirá a conspeção de um homem: que alienígena, , um asno regendo uma nação, um asno no local de trabalho dissecando e decifrando os exícios e balbúrdias do ser humano; contemplando um homem, possuirá a conspeção de um asno: que curioso, só não gagueja quando encontra na dianteira e dos flancos quem os enalteça os consumados e convalescidos. ausculto-lhes, ledores, as gargalhadas e cachinadas: “Só pode estar permanecendo demente, imoderado, alucinado; é a consequência disso de apenas cogitar nos asnos como a redenção das cegueiras e ignorância do universo”; não argumento as causas, fundamentos para isto, não possuiria quaisquer considerandos críveis ou ajuizados, ainda que os possuísse seriam susceptíveis de censuras e escárnio, auxiliaram simplesmente para everter a coerência dos factos. Admito, gratulo por reparo tão celestial e exemplar. Isto de perfilhar homens e asnáticos, em pesquisa de euritmia poetisas e divinas, de a luminosidade abrilhantar a gente completa, será ela a figura, serem eles perissologia de idoneidade e misticismo, não é exequível, não é veras. Homens e asnáticos não aparam ser abraçados, suas essências são objetas; intuição não é grandeza incorpórea, é típica da essência, do mesmo modo intelecção não é particular da essência, é grandeza incorpórea – meu Divo, este ludo de locuções aqui fora -me excessivamente problemático de consignas, certa realidade oscilou na minha cabeça, sémis asno, sémis homem, escoltando um arrepio no imo, os cabelos encresparem por todo o físico. A realidade nua e crua, além de obscena, antimoral, é dura de mascar; fosse oferecido aos asnos mascarem seus pressentimentos, com consequência, possuiriam as mais divinais e acidentais complicações, tachas e mais tachas ordenariam fraturadas, dando ou facultando interrogações de suas eras: adolescentes, alvitrariam decrépitas, caducas, opinariam na viçosa era das forragens, ninguém alcançaria mercar-lhes, mesmo que para aparentarem na pastagem ou no curral. Fosse oferecido aos homens mascarem suas intelecções, com consequência, possuiriam os mais possantes e incisivos temores, repugnâncias, contraposições, de se converterem somente pressentimentos, convertessem-se pertinazes, emperrassem a todo instante. Divertido é tal, ledores, se encontrar-me iludido, pasceria que me efetuassem chamada celular ou redigisse-me carta, apontando-me o engano: os homens coabitam ruminando suas melancolias, constrições, devastações, estrépitos e malogros, locuções de não que lhes são prescreves a todo instante de suas existências, e ainda não se exauriram delas, mas isto meramente é a asnice dos homens, do ser humano: repisar não alcança abolir, alcança ampliar ainda mais. Um enorme amigo meu, assentados éramos no degrau do escadório da escola de filosofia, falara-me: “Resolução sagrada para isto de ruminar é ir-se no infundíbulo”. O resplendor, na sua feição habitual, enviou um de seus coriscos mais aprazíveis e intensos no meu semblante, que desta ocasião o auferi sem meiguice nem reconhecimento. De hábito, presenteava a este corisco querido todas as propagações de uma alma novel, determinada a acoitar e hospedar todos os momentos, usufruir-me dos alegres e divertidos, baldear os outros ao ócio ou ao acaso , descobrissem quem andasse muito precisado de plangência, constrição, angústia. Mas após de duas horas, intentando, premindo os cérebros, para enredar as melodias poetisas, divinas da eucaristia dos homens e asnos, intelecto e pressentimentos, não incumbia mesmo auferir as radiações solares com ebulição e carinho, exaltando a nova existência que alcançaria com esta meditação, cogitação, acatando-me subterfugiar os meus trilhos e sémitas. O resplendor, atónito da displicência com que lhe arrecadei – provavelmente nem fosse insensibilidade, fosse respeito, apreciava-me por ter premeditado nestas coisas do pressentimento e da intelecção, facto que nenhum mortífero ainda possuíra a bonomia de executa -lo, os homens quando tencionam sabem ser comovedores. Desde quando alguém atinge arquitetar um asno de chapéu, puxando carroça? Dês quando alguém aporta engendrar um coto de círio de por apeio do testo de um asno? Dês quando um homem de tanto esmoer sua intelecção alcança findar arrastando carriola com um coto de círio de por apeio de seu testo, de botas para os pecíolos não macerarem de tanto andar, trotear pelas vias, avenidas, quelhos da burgo? Só na cachimónia de um tresloucado isto é exequível; até que cogitar, considerar, ponderar aparam ser obras, obedecer é não revelar. O astro-rei, porém, não suspendeu o seu trajeto; possuía outros homens que felicitar, uns jubilosos, outros chorosos, outros inertes, mas todos homens. Quem conhece, no outro dia, cogitava o resplendor, abalando cumprimentar os homens, após da lua enchente não regressasse eu a ser homem simplesmente, e não sémis asno, sémis homem.



Ana Júlia Machado.



**HARMONIAS LÍRICAS, CELESTIAIS**



Que andem jegues e pessoas na rua – quer harmonia mais real, perfeita?! Inteligência e ausência dela. Aos jegues, a inteligência; saberão o que fazer com ela; se duvidar, serão capazes de receber divinos louvores pelos grandes feitos à humanidade, a raça toda; quem sabe na hora da “medalha de ouro”, não será dito pelo mestre-cerimônia: “Desculpem-me os cristãos e católicos, evangélicos e crentes, mas Deus equivocou-se desde a eternidade. Se aos jegues houvesse legado a inteligência, todos os dons e talentos do espírito, o mundo estaria bem diferente”.
E as nuvens no céu – se fossem trocadas de lugar, fossem colocadas na terra, evitaria que alguns homens não andassem de cabeça para baixo, a fim de atingirem as nuvens com os pés, e, nelas, caminhando chegassem ao céu mais rapidamente, a cabeça estaria no seu lugar devido. As nuvens no céu, se as há – dizem que isto é ilusão, tudo é vazio no espaço -, e os pensamentos na cabeça, se os têm. A questão delicada não se é na cabeça que os pensamentos estão, se os homens são portadores de pensamentos, mas é a de alguns terem os pensamentos nos cascos, e quando caminham vão semeando mensagens ao longo do caminho. Não tenho res-posta para isto.
Jegues e homens são a luz do mundo. Há quem contrarie isto, não lhe tirando a razão; os homens desde os primórdios da vida, iluminam a terra, e por que a terra só vive na escuridão, nas trevas? A luz deles não é inteira, completa. Quem toque um interruptor, jamais acenderá meia lâmpada, parte é luz, parte é nada, mesmo que haja algum defeito na ligação, a lâmpada esteja com algum problema, questão de fabricação. Faltavam os jegues para completar a luz, a iluminação inteira. Confesso que, após ter isto descoberto, vivo feliz da vida, dando saltinhos pelas ruas – óbvio, alguma insatisfação há nisto: quiçá pudesse puxar uma carroça, aí a felicidade seria absoluta, a minha natureza seria perfeita, parte homem, mais do que provido de inteligência, parte jegue, mais do que provido de instintos. Re-unindo, ad-erindo, com-ungando homens e jegues, a terra inteira será iluminada, não haverá mais treva, não haverá mais escuridão, os raios da luz ad-vindos da inteligência e instinto brilharão por todo o sempre, os homens mais não se pré-ocuparão com a parte do mundo em trevas, o que poderão fazer para isto extinguir, qual a divina obra terão de criar para isto real-izar. Quem encontrar alguma sombra, ganhará prêmio jamais legado a um homem, desde a eternidade dos prêmios, re-conhecimentos, con-siderações, será, desde então, considerado quem encontrou sombra na perfeição, mesmo nos tempos de trevas e escuridões, as sombras foram perfeitas, nenhum filósofo, psicólogo, antropólogo, humanista e humanitário mostrou imperfeições nas sombras
Há, sempre houve, desde primevos tempos de nossa civilização, épocas realmente áureas, que pena ou tinta traçou-as até a atualidade, um chapéu, que ame um no cabeça, seja para id-“ent”-ificar a origem, matuto, caipira, seja para mostrar importância social, política, econômica, cultural, intelectual, em ambos os casos os sentimentos de orgulho e lisonja, com o critério e propriedade com que os usaram, utilizaram. Assim, algumas línguas das mais ferinas disseram que estavam faltando colocar uma vela acesa de por baixo de seus chapéus para ser possível ver-lhes alguma luz ou chama nas suas cabeças, mesmo que de por baixo do chapéu. Não há o que discutir, algumas cabeças estão precisando de luz, mas o pior seria se alguém com o dom de olhos de lince observasse e dissesse: “a vela de por baixo daquele chapéu está acesa, mas a cabeça dele está na completa escuridão, treva. É só aparência, farsa. Quem pensa que está enganando?” Na minha parca visão das coisas, opinião sobre, ponto de vista a respeito, não se põe uma vela acesa de por baixo de uma chapéu, pois assim se perdem o chapéu e a vela.
Má língua alguma dissera ser necessário colocar uma vela de por baixo do chapéu de um jegue para que alguma mente des-torcida, des-virtuada, tergi-versada da realidade, do real mundana imaginasse os miolos dele viviam nas trevas, escuridão, lhe guie os passos na sua caminhada, puxando carroça, levando os fretes, retornando para apanhar outros.
Bem... Pensemos no caso!... Alguma im-perfeição na minha lógica, seja debitada na conta de que metade de mim é jegue, a outra é homem. Tomando em consideração o tamanho das orelhas, o chapéu colocado ficará um pouco distante da cabeça, conforme o tamanho do toco de vela, não queimará o chapéu, dar-lhe-á um pouco de calor, fazendo com que as orelhas do digníssimo e diviníssimo animal sintam-lhe o efeito, fiquem excitadas, acabando vez por todas com os instintos, verdade da espécie e raça, de empacamento, teimosia, andará, andará, não importando se no plano, se em subidas íngremes, ladeiras jumentadas. Os homens sérios, circunspectos, dizendo: “Lá vai o jegue com a vela de por baixo do chapéu iluminando os lugares por onde passa, iluminando o mundo e a vida”.
Leitor, não julgueis que venho destruir as obras imperfeitas – os homens serem a luz do mundo resultou em trevas e escuridão, resultam em angústias e desesperos, tristezas e depressões, pois que apenas uma parte das coisas do mundo eram iluminadas, passíveis de críticas, sujeitas a questionamentos pró-fundos, recusáveis pela banalidade, mesquinharia, mediocridade de seus princípios racionais, ideológicos -, venho re-fazer as obras desfeitas; fizeram a instintividade do jegue, relegaram-lhe à triste condição de só instintos. Venho dizer que a harmonia, princípio e sonho, desejo e quimera, vontade e fantasia, líricas e celestiais, um equilíbrio, só pode ser realmente sentido, com vigor, a partir do instante em que os homens e jegues se confundirem, olhando um jegue, terá a visão de um homem: que estranho, um jegue governando um país, um jegue no consultório analisando e in-terpretando as perdições e confusões da criatura humana; olhando um homem, terá a visão de um jegue: que interessante, só não empaca quando acha na frente e dos lados quem os elogie os feitos e re-feitos.
Ouço-lhes, leitores, as risadas e gargalhadas: “Só pode estar ficando doido, louco, varrido; é o resultado disso de só pensar nos jegues como a salvação das trevas e escuridão do mundo”; não discuto as razões, motivos para isto, não teria quaisquer argumentos plausíveis ou razoáveis, ainda que os tivesse seriam passíveis de críticas e mofas, serviram apenas para in-verter a lógica das coisas. Re-conheço, agradeço por observação tão divina e perfeita.
Isto de comungar homens e burros, em busca de harmonias líricas e celestiais, de a luz iluminar a humanidade inteira, será ela a metáfora, serem eles pleonasmos de instintos e espiritualidades, não é possível, não é verdade. Homens e burros não podem ser com-ungados, suas naturezas são ad-versas; instinto não é dimensão espiritual, é característica da natureza, do mesmo modo inteligência não é característica da natureza, é dimensão espiritual – meu Deus, este jogo de palavras aqui fora-me extremamente difícil de registras, alguma coisa balançou na minha cabeça, metade jegue, metade homem, acompanhando um calafrio na medula, os cabelos eriçarem por todo o corpo.
A verdade nua e crua, além de indecente, imoral, é dura de roer; fosse dado aos jegues roerem seus instintos, com efeito, teriam as mais divinas e contingentes dificuldades, dentes e mais dentes seriam quebrados, dando ou pró-porcionando dúvidas de suas idades: jovens, pareceriam senis, senis, pareceriam na tenra idade dos fenos, ninguém iria comprar-lhes, mesmo que para figurarem no pasto ou no estábulo. Fosse dado aos homens roerem suas inteligências, com efeito, teriam os mais pujantes e contundentes medos, relutâncias, resistências, de se tornarem só instintos, tornassem-se teimosos, empacassem a todo momento. Engraçado é isto, leitores, se estiver equivocado, gostaria que me fizessem ligação celular ou escrevesse-me missiva, mostrando-me o equívoco: os homens vivem remoendo suas tristezas, angústias, desolações, fracassos e frustrações, palavras de não que lhes são ditas a todo momento de suas vidas, e ainda não se esvaziaram delas, mas isto simplesmente é a jeguice dos homens, da criatura humana: remoer não vai extinguir, vai aumentar ainda mais. Um grande amigo meu, sentados estávamos no degrau da escadaria da escola de filosofia, dissera-me: “Solução divina para isto de remoer é passar no funil”.
O sol, na sua forma usual, mandou um de seus raios mais jucundos e vivos no meu rosto, que desta vez o recebi sem ternura nem gratidão. De costume, dava a este raio amado todas as expansões de uma alma nova, dis-posta a re-colher e a-colher todos os instantes, aproveitar-me dos felizes e alegres, arremessar os outros ao léu ou a esmo, encontrassem quem estivesse muito necessitado de tristeza, angústia, desespero. Mas depois de duas horas, tentando, espremendo os miolos, para tecer as harmonias líricas, celestiais da com-unhão dos homens e jegues, inteligência e instintos, não poderia mesmo receber os raios solares com fervor e ternura, celebrando a nova vida que adquiriria com esta re-flexão, meditação, cumprindo-me tergi-versar os meus caminhos e veredas.
O sol, pasmado da indiferença com que lhe recebi – talvez nem fosse indiferença, fosse ad-miração, ad-mirava-me por haver pensado nestas coisas do instinto e da inteligência, coisa que nenhum mortal ainda tivera a pachorra de fazê-lo, os homens quando querem sabem ser patéticos. Desde quando alguém vai imaginar um jegue de chapéu, puxando carroça? Desde quando alguém vai imaginar um toco de vela de por baixo do chapéu de um jegue? Desde quando um homem de tanto remoer sua inteligência vai terminar puxando carroça com um toco de vela de por baixo de seu chapéu, de galocha para os pés não ferirem de tanto caminhar, trotar pelas ruas, alamedas, becos da cidade? Só na cabeça de um ensandecido isto é possível; até que pensar, re-fletir, meditar podem ser feitos, cumpre é não expressar.
O sol, contudo, não interrompeu o seu curso; tinha outros homens que saudar, uns risonhos, outros lacrimosos, outros apáticos, mas todos homens. Quem sabe, no outro dia, pensava o sol, indo saudar os homens, depois da lua cheia não retornasse eu a ser homem apenas, e não metade jegue, metade homem.



Manoel Ferreira


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