**SENDAS DE FOGO E INTELIGÊNCIA** - Manoel Ferreira


Sêmitas in-fin-itiva de pret-éritos in-auditos
Ad-jacentes luminâncias o sol regenciadas de particípios
Solstícios cintiliantes do eterno re-versdos de semânticos da solidão
Travessias do ser-tao às semilogias do vale templado de nuvens brancas re-vestidas de símbolos e signos da nitidez nula dos instantes-limites do efêmero
Ex-tases do verbo de in-trans-itivas met-áforas do pleno, sin-estesiando a beleza do belo



Sastre do uni-verso trans-cendido de efígies que ornamentam o além
Sastre da etern-itude da verdade trans-elevada de faces
Que, de fasustos em faustos semblantes e fisionomonias, manque-dêtram forclusions da solidão
Sastre de lâminas de orvalho do alvorecer que pre-figuram o etéreo,
às quiças voláteis e volúveis do absoluto absurdo,
De versos son-éticos poietizando o espírito do ser com alama do sonho...



Quem sabe?!...
Passaram-se segundos no relógio de tempos antes de minutar no papel as primeiras palavras. O que desejo realizar, registrar “quem sabe?!”, não o sei; em verdade, a questão não é entender este momento mágico no percurso das sendas.
Nada desejo saber das possibilidades. É ficar a balançar-me na cadeira, fumando o cigarro que se encontra no início, três tragos apenas, deixando os minutos correrem lentos. Só isto consigo pensar para hoje, terça-feira.
Não pretendo estabelecer quaisquer tributo, apologia ao cigarro; alguém assim o entende, com fogo e inteligência, debruça-se e “empandora-se” - é só se lembrar da “boceta” de Pandora (a origem de todos os males); o termo seria outro: “emboceta-se”, as línguas aí se revelariam sedentas de “invertidas”, imoralismo - a interpretar idéias num estilo que faria Carneiro Leão ajoelhar-se, pedindo perdão por seu estilo, forma, beleza da linguagem, interpretação, análise, havia-se habituado com a sua cátedra no olimpo; compõe as visões das idéias, utopias, a efemeridade de tudo, “que pachorra ininteligível incluir a cultura, as artes, o devir histórico, por ser indiscutível a existência de beleza, estética, estilo nas manifestações artísticas, culturais, históricas. O desejo não é outro senão chamar a atenção”. Palavras precisas são ditas sobre as entrelinhas.
O que está oculto é mistério, enigma.
Haverá quaisquer dúvidas de, nesta imagem, vozes estarem sedentas de ouvidos, de inteligências a traduzirem intuições e esperanças?
A questão é ser quem ama tanto a morte quanto a vida, como toda gente, uma e outra constituem a parte que nos cabe. A experiência deste amor é prolongada por fraqueza; se gira o cata-vento no cume da serra, ótimo, aliás, isto fora desde a eternidade desejado; caso contrário, se se ouve as correntes arrastando-se nas ruas, este é o destino que nos cabe a cada um.
Admira-me a idéia, precisão das palavras, as artes e a história constituem a parte que nos cabe. O desejo íntimo será de lançar o questionamento, em silêncio: “acaso teria deixado as palavras dizerem a sua verdade, antes de atribuir elogios e utopias ao cigarro? A indiferença com o destino dos homens? Acaso, “insigne amigo”?
Diante da surpresa, sorrindo, olhos brilhando, continuaria a idéia esboçada: “E acaso, distinto, deixou as manifestações culturais, artísticas, históricas, revelarem-se, antes de dizer intenções primordiais e fundamentais são de não atribuir valores, amar a vida e morte nada significa, pois que uma e outra constituem o que nos cabe?” Clamo aos deuses do olimpo fosse realidade, nem Deus iria negar, a verdade absoluta, soubesse responder de imediato, e mesmo após longos estudos.
Não saberia dizer que deixo as palavras falarem, dizerem sua verdade, aquando estou a criar, este desejo forte - chama de liberdade e prazer da jornada, adentro utopias...!, - subindo e descendo alamedas, becos, a harmonia da criação e sonho, instante em que homem e devir andem juntos, deixando-se falar, dizer as verdades.
Questionaria o insigne amigo acerca da convicção preeminente de sua interpretação. Em verdade, os dedos deslizam nas teclas, desejando originalidade e autenticidade, não mais importando com isto e aquilo - cabem-me prazeres e dores, como para toda gente. Numa escrita sem sujeito, a impossibilidade do estilo torna-se com o tempo superação de estilos conhecidos, o estilo dá lugar a estilo de vida.
Se me legar o direito de questionar se as idéias são coerentes, ao menos neste comenos entre intróito e desenvolvimento, o que preferi buscar fundar com palavras, diria não ver qualquer sentido inteligível, está havendo algo não posso definir. Escrevo num fôlego até sentir ser instante de interromper, deixando tudo de cabeça para baixo, por momento posso sentir começo outra vez. Se a vida é isto aí, então é tempo de iniciar outra, estabelecê-la ao longo de sendas de fogo e inteligência.
Daí, emboceto a árdua empresa de revisão, trabalhando aqui e ali, desejando o que poeticamente me habita; enfim, quem não está diante de homem cindido em dois que tenta soldar as duas metades, do leite ao caldo de pimenta, ao ácido crítico andam as idéias, pensamentos sobre o devir?
Isto sem interferir na estrutura, imagens, idéias, utopias, a partir de ouvi-las dizerem as verdades, e eis a razão de, enquanto crio, ouvir músicas sei despertam sentimentos e emoções profundos, mesmo não os conhecendo, a preeminência do intelecto interfere.
Corro pelos corredores e cômodos de sendas de fogo e inteligência, desejos e vontades, demasiado grande sob o olhar dos homens, indivíduos, cidadãos, isto é, sob o olhar do outro. O livro, álibi e cúmplice de desejos e sonhos, seria o companheiro de todos os momentos. A experiência do engajamento, hoje, está em transcurso: trata-se de saber se existe uma só atitude neste mundo falsificado de que possa dizer tranqüilamente: fi-lo eu.
Reconheço as ações, responsabilidade, desejo de liberdade e consciência? Mas não se tornarão outros ao realizarem-se? Não haverá outros que os prossigam em meu lugar? Outros que me são mais queridos do que eu e que se alimentarão do meu sangue. Sentir-me-ia justificado se ao menos fosse autêntico, original, não arrastasse único passo além da fidelidade.
Esse estrangeiro, no íntimo, decidiu o comportamento, hábitos, valores, ouve os gritos da multidão que lhe habita, algemas e correntes doem nos ossos. Não intuo outro modo de ação, por quem condena a iniciativa e protesta dizendo apenas me comprometer mais e mais – ótimo, não se deseja outra coisa senão fechar as portas, as chaves coloco-as em mão - senão dar as costas, esbagoar as críticas em esquinas, tabernas, tabernáculos. Cabem-lhe o encômio de seus interesses e ideologias, a censura aos outros.
Viva agitação se apodera de toda a gente que não conheço, censura-me as “invertidas”, o caldo de pimenta, ácido crítico que ofereço num cálice, e sob a sedução de contornos e detalhes, outra alternativa não lhe resta senão recebê-lo, degustá-lo com os olhos derramando lágrimas fáceis. Cada uma das palavras, inscrevendo-se na passividade do ser, organiza-se como torniquete cuja imperiosa inércia define o homem quem sou, o estrangeiro, o outro que tenho de ser para lhe dar o primeiro impulso e para o renovar incessante.
Se não se deixar as palavras revelarem-se, quaisquer interpretações e análises serão possíveis e passíveis de desvirtuamento. Alguém das relações íntimas dissera-me: “Deverá estar atento ao que se interpreta, de todos os lados, que se deseja desvirtuar, o campo está minado”.
Quem sabe houvesse possibilidade de algo, em princípio ininteligível, tomado de inspiração e intuição, e deste modo, neste estilo sem sujeito, abordar alguma utopia que foge à capacidade da razão e do intelecto interpretar?!... Fosse necessária leitura atenta e minuciosa, deixando o espírito livre. Não saberia a isto responder. Só seria possível estabelecer, se contemplasse a linguagem sem pressa.



Manoel Ferreira Neto.
(25 de maio de 2016)


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