COMENTÁRIO DA AMIGA, ESCRITORA E POETISA ANA JÚLIA MACHADO AO POEMA /**FONÉTICA DE VERNÁCULOS TRANS-LÚDICOS**/


FONÉTICA DE VERNÁCULOS TRANS-LÚDICOS
Manoel Ferreira Neto.



Eu diria que este escrito do grande escritor Manoel, tem muitas semelhanças às Flores do Mal de Baudelaire
Nos escritos de Baudelaire a poesia aparenta ser além-fronteiras: onde é complicado ingressar num universo poético, tal como nos escritos de Manoel. Onde se vacila até então entre dois modos de utilizar a leitura, um mais caprichoso e absorto, desejando de certo molde a omissão do universo tal como eu pensava conhecê-lo, e outro mais factual e persuadido, como que aguardando explanações sobre o mundo, que, com o cessar do tempo, como é instintivo, se exibia para mim cada vez mais desconhecido e complexo. Um dia deparei-me com os cantos em prosa e poemas de Manoel e com algumas lembranças de outros, inclusive de Baudelaire e aí fui apercebendo-me de alguns “conselhos” quase uma imposição, dádiva nos poemas: Como frases “Embriague-se, dizia aquela voz, de vinho, de poesia ou de virtude, à sua escolha. O inebriamento do vinho associava ao adormecimento daquelas leituras de genuíno prazer, consumadas vulgarmente de um só sopro, o inebriamento da probidade eu iniciava a apreciar na exaltação do sentido do mundo e na avidez de modificá-lo que originavam as erudições que eu encarava capazes. Como em Baudelaire eu descobri com o Manoel que uma poesia não é somente um adorno diferente que possibilita omitir por um momento a este terrífico hostil do homem que é o tempo, ou um processo ou uma Arte que agenciava encontrar a pedra filosofal, com que metamorfoseariam em ouro outras matérias, a poção ecuménica, ou o vinho do deturpo que presenteia o adormecimento e solta do temor e do arrependimento; ou o odor de um cabelo que insemina e divulga a prática alucinante — e não raro estupra, profanadora — da pulcritude... Um poema não é somente a enunciação cerimoniosa cruel de uma prática ilusória do universo,
o canto é um vírus que injecta em nossa alma um desassossego que não se desperdiça uma vez finda a prática do inebriamento; que ele é um adulterado cadenciado que, uma vez escutado, nunca mais ab-roga de ecoar à nossa cercania, acusando sarcástica e inevitavelmente (ou o Inelutavelmente…as diferentes fonéticas utilizadas como tantas como no caso de Manoel, que são imensas as formas de se exprimir a nível da fonologia) nosso inevitável desassossego defronte da contraditória espécie humana...
,E, perante fatídica verbosidade da existência. Meu encontro, particularmente com o escritor Manoel Ferreira, instruiu-me, que a poesia — e talento, de uma forma genérica nem absorve do universo nem o aclara, mas afoita a empregar os sentidos para contemplar, escutar, atingir não o que encontra-se por detrás ou para além da encenação do universo, mas o que nele prontamente brota aos olhos, aos escutados, à cútis. E, nesse exercício, votar a achar a candura que faculta a cada um avistar-se, escutar-se, impressionar-se. Poderei dizer que a poesia é o início da reflexão...
E deste poema de Manoel levou-me a esta reflexão……e como ele profere e vem ao encontro deste pensamento…
Opostos bárbaros de deleitosas agonias implorando( solsticiando…aqui outro exemplo de como Manoel usa a sua fonologia nas letras) reminiscências
Proibidas( e mais uma vez dá enfase com o “Inter-ditas” no período irrelevante do suceder “de- correr” após morte de melancolias
Elegidas pela alma ávida da” uni-versal” ecuménica ardentia do arrebatamento absoluto
Desprendido do jugo de proveniências e estirpes da extensão de jogos do involuntário.



Ana Júlia Machado



**FONÉTICA DE VERNÁCULOS TRANS-LÚDICOS**



Re-versos góticos de prazerosas náuseas solsticiando memórias
Inter-ditas no tempo irrisório do de-correr póstumo de nostalgias
Trans-literalizadas de razões in-versas ao subjetivismo sin-cronizado
À luz de ideais do vir-a-ser gerundiado de particípios, caos universal.
Holísticas de utopias in-versas ao baile trans-lúdico do amor
Esplendendo silêncios de luz que versejam e versificam o in-fin-itivo
Lácio das esperanças retrospectivas de éritos da felicidade efêmera
Entre a fonética de vernáculos eruditos e a semântica de letras
Nunciando raios de luz no fundo azul da floresta, dança divina
A reger pelo coração primevos brilhos do sol verbalizado de deuses.
Noite linda e fria, aquecendo as carências e ausências nas chamas
Elementares das achas de lenha crepitando-se na lareira
Velada e envelada de lembranças de instantes de erosias
Eleitas pela alma sedenta da uni-versal ardência do êxtase pleno
Seivado de origens e raízes do espaço lúdico do inconsciente.



Manoel Ferreira Neto.
(17 de maio de 2015)


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