**SONHOS DE FUTURAIS PARTICÍPIOS** - Manoel Ferreira


Trans-literal-izadas utopias do além póstumo
Aglutinado aos in-fin-itivos de gerúndios de sorrelfas compactas
Re-finadas nos ventos uivantes das colinas longínquas
In-terditas nos prazeres lúdicos do panorama do vale edênico.



Uma brisa sopra nesta noite, empurrando bolas de nevoeiro pelo chão. Caminho em campo aberto por um momento, logo sou engolido pela névoa espessa, volto a emergir num trecho limpo. À luz das estrelas, posso ver as bolas prateadas de nevoeiro rolando pelos campos ao redor. Sorrio de mim mesmo, prosseguindo em meu caminho, pensando como tenho a capacidade de alterar a natureza – enfim nestas terras não cai neve -, para ajusta-la aos meus próprios pensamentos, para ajustá-la aos halos de vaga melancolia, já que é um dom do espírito desvencilhar-se daquilo que a consciência se recusa a assimilar.



Nas adjacências do uni-verso, que re-flete sombras líquidas,
Ah, éritos do pretérito consignados aos sonhos de futurais particípios,
Havendo finos indícios de horizontes perspectivados de liberdade
Espiritual nas imagens que se esplendem nos imperativos do tempo,
Luzes emitem aos confins do in-finito, compondo a face
Egrégia de semblante angelical onde se lê a sutileza do espírito puro.



Numa refração de ouro claro, surge o momento em que palpitam as asas de uma águia, recolhendo a sin-fonia de águas revestidas de silêncio. Surpreendo a sombra e o deserto sob a ambigüidade. A face dos ventos arrasta e dispersa as nuvens, agora tudo se amassa em encantamento ou em indiferença ou em absurdo, e faz sair um brilho nos olhos, que experimenta a vereda, que evoca com as asas ensopadas, o horizonte em que me encontro é a distância verdadeira, sigo-o como cumpre fazê-lo. O sol deita-se e as nuvens azuis colorem os terraços brancos. Afigura-se-me haver distendido uma mola no interior. Parece-me, em princípio, haver sentido uma eclosão, por haver dito com o mais singular, manifestando-me para além do inteligível. Na límpida transparência das águas, a luz segue o itinerário sem limites, sem pressa, sou eu quem aspira e ins-pira a vida, à procura da fonte originária que a busca do mar alcança. Ás vezes, penso que o desejo de amor só vive de entrega, com saudades, são estas o rosto da eternidade refletido no rio do tempo, com ternura, e sou eu quem desperto o infinito e o profundo, desejando a Vida.



Velas velando veladas dimensões da etern-idade
Eterna eternizam com as chamas do fogo milenar
Solstícios do crepúsculo de flores que exalam perfumes
No amor
Eivado de volos espirituais, ex-tases do sublime.



As águas, aquando tornam a cair sobre si mesmas, rompem o silêncio com um som similar àquele do vento entre serras, um som sibilante. Quanto a mim, sei que as águas me precedem e me seguem, elas sabem que o amor existe. Se antes houvera dito que uma coisa estranha sobreviera ao meu espírito e não sabia como explicar, é que perpassara no espírito que a noite não cai sobre as águas de um rio, ela cai sobre as montanhas, sobre as colinas.



A noite emerge do fundo das águas.



Manoel Ferreira Neto.
(19 de maio


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