#REDE DEFECTIVA E ANÔMALA DAS MISÉRIAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO ***


Rede de filosofias e querenças,

Ideologias e corrupções,

Fazer cercas de arame farpado e muros,

Pontes levadiças atravessando os despenhadeiros,

Grades de ferro, portão de mola, muralha,

Fazer palavras,

Cunhar moedas de gelo,

Afiar os olhos para con-templar

O infalível falido, a imagem pura da falência,

Noticiários divulgando a lua foi infestada do

Vírus da Touquice,

Não é motivo de medos, não advirá pandemia,

Vai chover estrelas, são elas o antídoto,

Não surtindo o efeito esperado, a lua será retirada do espaço,

As nações se cumprimentam no aperto de mãos,

Amoralismo dos princípios abertos,

Imoralismo das intenções viperinas nos bastidores,

Esculpir a língua para mostrar

O rosto e semblante oculto de silêncio e algazarra...

Amolar as lâminas dos trinques para arregaçar

Os sentidos escondidos nas togas da diplomacia...

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Túrgidas afecções das marcas de passos no chão ingreme, rachado, deixadas às cavalitas de nalgum instante surgirem com veemência, cobrando atenções exclusivas, concebendo bolas de angústia no peito, a alma sorumbática de tanta desolação, vômitos não amenizam, e ainda corcel de crina longa e cinza permanece relinchando no bosque, transeuntes compartilham os desatinos e agruras do coração nas trocas de dedos de prosa, enquanto se dirigem aos afazeres e compromissos, que agonia inominável!, tudo se veste, reveste de uma igual grandeza, aquando a alma entre grilhões as liberdades sonha e, sonhando, as imortalidades rasgam no etéreo o Espaço da Castidade.

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?Palavras ao vento, que a mim importam-me... os ventos as trazem de novo e eu as re-colho, a-colho. Os plenilúnios mórbidos vaporam ... E como que na Sombra da Floresta, plangem e choram cítaras, harpas, bandolins, violinos .. Faço coleção de palavras, tempo de retornar ao tempo, coleção de lápis de cor, coleção de figurinhas, excelente brinquedo, passatempo; coleção de palavras: belo exercício de sensibilidade e inteligência, mistérios e enigmas das entre-linhas, coleção de deveres que não encerram nada de agradável, nada que implique alguém se deixar persuadir pela lisonja, mas que requer submissão, sem contudo ameaçar com alguma coisa que desperte natural aversão, mas que põem simplesmente uma lei, impõem uma só regra, sem exceções, que, por si mesma, encontra acesso ao espírito.

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Cá de arribas, auspício de colina, vislumbrando a paisagem, o panorama à Königsberg do século XVIII, con-templando: o longe, a distância são o que justamente se opõe ao gênio especulativo. Esquece-me o que há de água, de sopro e de inocência no fundo do tempo.

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Rede defectiva e anômala, pensar o pensamento que pensa o aqui-e-agora de daqui a pouco, o pós-de-depois do instante-limite de algures, perscrutar o intelecto que tece os fios dos sonhos e utopias, procurar penetrar no segredo das coisas, escabichar as falácias... escorraçar as oratórias entupigaitadas de premissas e conclusões espalhafatosas.

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Ipseidades e solipsismos do não-ser que vagueia solitário e silencioso, angústia e tristeza por ser discriminado e rejeitado, emudecer qualquer emissão de ponto de vista para não ser tachado ridículo, desconectado do quotidiano das coisas do mundo, da fala da massa, do povão - por que saboreio com volúpia as neuroses de perfeição, as psicoses? -, à soleira do abismo perscrutam as miríades do efêmero que a-nunciam o há-de ser sob a cintilância das cores do arco-íris desejando com êxtases e euforias as nonadas do livre-arbítrio, sorrelfas da consumação dos tempos para nalgum momento do ec-sistir se entregar por inteiro ao vai-e-vem da rede numa noite gelada de inverno rigoroso, a razão ter ainda, pelo menos próprio para seu uso, um sinal negativo, ouvindo os ritmos e acordes do uni-verso,

balalaika do passado em síntese

com o fado do infinitivo dos horizontes,

com o blues dos Númenos da Cochinchina deserta,

com o samba do à priori e à posteriori dos becos sem saídas,

particípio de algures, gerúndios de cafuas,

fez a fama deitou na rede...

"Todo real é racional e todo racional é real..."

ser um só, de todos, sem palavras.

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Há homens que esculpem pedras tão sensivelmente que são capazes de esculpir a discriminação e rejeição e criar o rosto da "bastardia", rebeldia, insolência, irreverência, o que hoje significam as rejeições, discriminações? Línguas já se calaram, bocas já emudeceram, cabeças já se abaixaram, sapos secos instalaram-se nas gargantas. Engoli-los, sentindo os prazeres das incapacidades, ausência de dons e talentos. Aquilo de as razões consentirem e autorizarem a razão contrareá-las significa que a honra se manifestou com todas as suas categorias.

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A sabedoria é sono sem sonhos, bom sono e, mais, virtudes como a virtude da papoula. Ad-versos e per-versos do nada, nada é senão o nada, quiçá esta a perspectiva de olhar os linces da liberdade e consciência, aquém, muito aquém desta abissal re-flexão, intrínseca meditação de quês e porquês de tantas violações, contravenções dos valores do mundo, mas tão somente o nada ser sêmen de ideais e utopias, húmus da liberdade em questão. Resistência? Chupar o sabor do dia a dia! Degustar o paladar das coisas fugazes!

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Então, um sorriso nascera no fundo da miséria e destinara a melhor sentido... O quê?, a melhor sentido. Seria que, se soubesse o sentido apropriado a miséria destinou, o seu conceito, a sua definição, o seu nome próprio, nem seria mister possuir sobrenome, estaria isento de inquietudes, inseguranças, dúvidas irrevogáveis, o sorriso fora exclusivo? Nada sei. Exausto para perquirir o fundo de misérias inomináveis a habitarem o íntimo. Cônscio de que a miséria é polpa dos equívocos e erros cometidos, por mim não há perdão, o fim insofismável é que diluirá culpas e remorsos.

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Metafísicas das sendas e veredas perdidas nas "antanhas" memórias da concepção do caos, a lógica afaste-me os frios privilégios, geração das vacuidades, roa-me o desejo de partir, sumir no vão da estrada, na curva entre desfiladeiros, luz e brilho do vazio, a esquina faça de mim outro homem, trevas e sombras do nada, e tudo libertado se resolve numa efusão de riso e sol, num fluxo de olhares de esguelha, e por toda a continuidade do tempo a razão pura encalacrada de impossibilidades de a verdade ser a luz do espírito que numina os manque-d`êtres seculares e milenares. E se perquiro-me, indago-me, pergunto-me, questiono-me a que venho com estes dizeres, não seria poucochito hermético e complexo elencá-los e descrevê-los: não quero muitas honras, medalhas, aplausos e reverências, só faltando ajoelharem-se e beijarem-me a mão, o Valete de Paus, blá-blá-blá, nem, tampouco, grandes tesouros: isso causa inflamação do baço, tudo o que menos desejo, sou avesso a dores pujantes.

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Sentimentos não são conhecimentos e não indicam, portanto, mistérios e, como o mistério se comunica com a razão sem poder, no entanto, ser comunicado a todos, cada um só tem que procurá-lo (se realmente nela subsistir) em sua própria razão. A deliciosa paisagem tem alfim uma alma; o elemento subjetivo vem coroar os vazios, o elemento instintivo vem corroborar as esperanças do sublime, o elemento sensível vem preencher de expectativas as utopias da felicidade. Ainda que a minha felicidade esteja compreendida no conceito do súpero bem, como naquele de um todo em que a maior felicidade esteja representada como ligada, na mais exacta proporção, com o grau mais elevado de perfeição moral.

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Que felicidade seria esta? Tudo se resume numa única felicidade? Então, a pergunta é única... Todas as outras unicamente fantasias. Que pergunta dará como resposta esta felicidade única?

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Rede de esquecimentos e presenças a extasiarem as volúpias do desejo de sentimentos ad-vindos dos cofres inexpugnáveis da alma, da vontade de verbos que revelem a luz, desvelem os brilhos, estesiarem os volos da querença de in-fin-itivos que concebam sons e palavras, a libido das tesuras do prazer nos recônditos cordiais das vontades gerando a finesse da dignidade. Esquece-me dizer que, no ponto de vista através de que busco compreensões e entendimentos das coisas, um vai-e-vem de rede, é um instante de saborear o amor com o tim-tim das taças de vinho, é um momento inestimável a juros, momento em que tudo o que não fale de "companheiros" é estrangeiro, festa do coração, assim o discernimento pelo afeto, ternura, entrega, carinho. Súbito relâmpago atravessa as sombras do espírito, baladas, baladas... baladas soam e ressoam nos ouvidos uma trajetória... Dos males o melhor, do melhor as maledicências circundantes.

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Rede de sentimentos e idéias a acenderem as achas da lareira da alma sedenta de sabedorias... do fogão a lenha das utopias e sonhos, lembranças de instantes na porta da Taberna do Heresias, princípio de noite, fogueira acesa, amigos ao redor contando os seus causos, churrasco na brasa, aperitivo saboroso, alguém dissera o fogo de uma palavra acende aquela vontade de conduzir manada pelo sertão a fora, tocando berrante no crepúsculo. A face límpida do pote de ouro no fim do arco-íris, imagem e face que originam o rosto das sublim-itudes da sabedoria, sarrabiscada de resquícios, salpicada de vestígios do tempo que re-criam, compõem, poetizam e poematizam mataburros em direção, pro-jetados aos ilimites do além, aos ab-surdos do in-finito, e que as contingências da náusea e desespero expliquem, justifiquem as incongruências do inferno meigo das insolências.

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Se a minha alma rejubilava o destino, minha consciência me acusava de erros, erros que vieram a troco de um sonho que não veio... equívocos que se acumularam a troco de falta de destino, incapacidade de superar os problemas... Deixo-me balançar, ir e voltar na corrente dos sentimentos e idéias, tenho um coração inda muito criança para as letargias, pensamentos sombrios, embora não afaste as con-tingências, carências e faltas, ausências e atitudes de não, encontros e des-encontros, embora não recuse ou repreenda os sarcasmos, ironias, cinismos, são o azeite francês na salada das algazarras, aquele gole de vodka russa para acompanhar a confissão pública regada a churrasco de pernil suíno..

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Homem inda pouco conversado nas cousas do mundo.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 30 DE SETEMBRO DE 2020, 04:43 a.m.#

 

 

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