Manoel Ferreira Neto ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO ENSAIA FILOSOFICAMENTE O POEMA #ESPORÁDICO# DE Sonia Gonçalves $$$


A relação afetiva, amorosa pode ser considerada experiência dionisíaca, pois quando se conquista a intensidade do amor ocorre uma fusão interpessoal na qual os parceiros se fundem como que em um só ser. Neste poema, ESPORÁDICO, o Amor e a Poesia aderem-se. O Amor torna-se caçador de Poesia, pois esta "recicla e inventa", "é coisa benta", é coisa sagrada. O Poema "Finge devorar a esfinge que devora a mente..." O amor é êxtase, pois dissolve a individualidade pessoal corriqueira que mantém a pessoa aprisionada nos limites de sua própria subjetividade. Nesta experiência libertadora, a intensidade amorosa faz com que a pessoa se dissolva momentaneamente no ser amado e vice-versa: "Porém só de quando em quando a mando/Do coração e da mente num dueto imediato/Aprecio mesmo é minha solidão isso é fato..." O poema e o amor se aderem, neste ato da solidão, pois que a algazarra é contrária ao mergulho na alma, só neste mergulho o poema revela o regaço da alma, a alma revela os sonhos da existência. O amor é extravagância existencial, pois que as pessoas vivenciam a loucura da paixão sem a vergonha que tanto impede o florescimento da singularidade: "O tudo que ela(poesia) minudencia" chama alto o amor, chama alto a solidão do ser. O amor é embasado pela alegria, pois é tal afeto que empodera os sujeitos amorosos e lhes dá força para construírem uma história de vida em comunhão, concedendo novos significados para a realidade circundante. O dionisíaco, vale sobressaltar e sublinhar, não é apenas a dissolução individual e a imersão pessoal no devir, mas também a capacidade simbólica de se transformar a existência pelos afetos tonificantes que retiram a pessoa da sua vida banal. Por isso a vivência do amor modifica radicalmente o sujeito: "Por hábito me atenho num voo solo de amor". O amor fati, que é neste poema o eidos da reflexão sobre a Poesia e o Amor, é a adesão incondicional ao existir, a afirmação da vida como ela é, muito mais do que mera aceitação da realidade.

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A poetisa Sonia Gonçalves se apropria das condições adversas da existência e faz de toda vivência acontecimento prenhe de alegria, de reinvenção, de ressignificação valorativa, para além de toda forma de determinação moral. O amor fati, então, é uma espécie de reencantamento do mundo e das suas relações, de modo a estabelecer a alegria de viver como capacidade de se colocar acima das contingências usualmente categorizadas como desagradáveis. Alias, a poetisa numa afirmação diz estar havendo grandes transformações na sua vida, na sua alma. O amor fati não é um caminho fácil de se seguir, mas um estímulo para a mudança do pensamento perante o mundo, cuja consequência é a mudança da própria ação concreta. retirando dela um aprendizado para o fortalecimento da criatividade pessoal. Sonia Gonçalves, por inter-médio do Amor, exaure a vitalidade deste relacionamento, compondo a Arte pelo Amor, o Amor pelo desejo da Espiritualidade Poética.

Beijos nossos, querida!

Manoel Ferreira Neto



#RIO DE JANEIRO(RJ), 18 DE SETEMBRO DE 2020, 00:05 a.m.#

 

 


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