#DE ESGUELHA NO LINCE DO SOSLAIO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA AFORÍSTICA ----


 

Nadas... nonadas ensimesmadas de surpresas e tristezas

Por não haverem saídas,

Aquando de ausência de inspiração,

De falta de vernáculos e idéias,

A superficialidade se pres-ent-ificando, as tolices se Apresentando pomposas e luxuosas...

Quanto charme, celebridades de primevas estâncias!

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Homens, admitimos qualquer coisa menos a morte...

Letrados, preferimos os fundilhos do abismo,

Os furingos da caverna de Platão,

Não consentimos as polpas dos salauds

Nas cadeiras sacras de Academias,

Se nada expressam ou dizem as letras,

Sensibilizam os atoleimados.

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Ainda pela madrugada, acordei-me com um vozerio alto sem limites e precedentes - havia sonhado estar numa catedral, padre estava encostado ao confessionário; aproximei-me, dizendo-lhe não iria confessar e comungar, estava apenas passeando, respondendo que estava eu livre de qualquer coisa da igreja, da religião, minha presença não era bem-vinda; ao sair, ex-professor sentado no degrau com um pratinho, esperando sua esmola para a sobrevivência, sorri-lhe amigavelmente, deixando-lhe uma cédula; o que é isto colocar a cultura no pedestal das coisas inúteis?, só observar a cidade, eminentemente mal frequentada, na Academia de Letras só políticos sentados, sem palavra alguma; o freio dos asnos foi perdido -, pensando até que isto de ouvir vozes no interior de mim transcendeu a tudo neste mundo, ouço-as a todas as vozes, pensando comigo próprio que estou sendo neste instante uma prévia do alvorecer, um indício da primeva luz do dia, e ouço-as para previar no sonho que vir-a-ser as sombras-luzes pres-ent-ificarão ao longo das circunstâncias e situações.

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Amor, carinho, afeição, afetividade

- quê abraço forte e apertado!

Sorriso dobrado!

Olhar iluminado!

"Eis-nos de volta.

Vamos bailar nos desejos e vontades do eterno,

Ao ritmo sutil dos cinismos, ironias, sarcasmos,

As sátiras re-nasceram,

Refizeram-se inda mais apimentadas."

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Semânticas, linguísticas, sentidos, significados rindo de orelhas a orelhas, quê delícia!... as palavras voltaram - não dissemos adeus um ao outro, despedida nossa, tempinho apenas. Completamo-nos. Não imaginamos o mundo um sem o outro! Que sabor desejá-las novamente, querê-las, tenham entrada no conselho de paladar e o saciar os desejos da sede! Os anacolutos buscam abrigo nos sarcasmos, ironias, cinismos para se sentirem seguros de seus valores e virtudes nas sátiras do tempo e da história. As metáforas se olham de esguelha no lince do "soslaio" - tornaram-se as palavras mais experientes com o exílio de um dia, conscientizaram-se inda mais de que são necessários ensaios, há muito a cavar para descobri-las, verbalizá-las, mesmo assim as eras e épocas são efêmeras, sendo necessárias investigações,

"Vão nos fazer rebolar,

dançando na chapa quente

das dialéticas do efêmero e eterno,

nas brasas da fogueira bailando

Nonsenses e ausências,

Performando os passos de analfas nas cinzas fervendo."

Contudo, as núpcias da alegria e felicidade.

Seres que se inter-agem

Deixam de ser unicamente objetos,

Fazem-se sujeitos,

Relacionados e inter-conectados,

Artificiando complexo sistema

De inter-retrorelações

O universo: conjunto das relações dos sujeitos.

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Então... De início, fonemas de olhos voltados para o infinito do uni-verso à cata do primeiro registro, olhos de desejos, olhos de ausências, enfim o namoro com a lua, estrelas no silêncio da noite esvaziaram-lhes das a-nunciações do inaudito, esqueceram-lhes os verbos, érisis e iríadas do ser. Amam de paixão avassaladora o vazio, dizem que se re-fazem, multiplicando-se.

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Tinham o ser na própria con-templação de si mesmas. Nada lhes faltava, não eram carentes. Perfeitas e completas. Podia ter registrado a plen-itude do momento de namoro nalgum verso e estrofe, num soneto, nalguma prosa, testemunho de que são divinas. Nada de registro. Nada de romantismo de primeira fase, não são elas açúcar ou mel. Poetas por vezes pensam e sentem que palavras são mel e/ou açúcar, devem adocicá-las com a inspiração e subjetividade, e de imediato beberem o néctar do Ser. Quê tragédia das tragédias!, não o são. Os tempos hodiernos estão carentes de um Eurípides, de um Sófocles para encenarem esta tragédia!

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O que viveram, vivenciaram só elas sabem e conhecem, a sabedoria outra que atingiram só elas sentem no mais recôndito das forclusions do nada e ser, a dádiva de poder tocá-las, só lhes agradeço cordialmente - seria que merecesse tanta intimidade? Nada respondem. Direito delas o silêncio. Direito delas as circunspecções, introspecções. Dever nosso respeitar-lhes.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 26 DE SETEMBRO DE 2020, 10:22 a.m.#

 

 

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