#NÃO FORCE O PEPINO, NASCE MOFINO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA DO DESATINO ----


Se amanhã houvesse de..

Se amanhã houvesse de...

Se amanhã houvesse de...

Se amanhã houvesse de ser o verbo da carne...

Se amanhã houvesse de ser o destino da face oculta

Ou mesmo a face oculta do destino...

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Eis o "sou" de mim.

Eis o "tecedor de palavras" em nome da busca da expressão do Espírito do Verbo, em comunhão com as con-tingências da alma, brincando à revelia dos ritmos e dos vernáculos, exceções e despautérios da língua, sentimentos e ironias, emoções e cinismos, consciência e sarcasmo, imperando o nonsense, devaneios e desvarios incólumes. Não estaria assim de pilhéria com algo de inestimável valor, cuja intenção é a negligência? Eis o fruto, eis a polpa! É de se admirar, estremelicar no chão como homens reconhecidos, celebridades, havidos como perspicazes julguem encontrar diferença entre faculdade de desejar inferior e superior naquilo que as representações que são unidas à sensação de prazer tenham a sua origem nos sentidos ou no intelecto. Compreendê-lo - que des-afio homérico! Ou deveria dizer num sentido elevadíssimo das virtudes e etiquetas, isto sem qualquer intenção de satirizar as cositas mais sagradas das contingências "Praesumptio juris et de jure", presunção absoluta que não admite prova em contrário.

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Se amanhã houvesse de sonegar - sonegação explícita e eivada de insolências, cláusulas e emendas justificam as razões e teatralidades intelectuais, explicam as diferenças entre causalidade da razão e razão especulativa com esmero e tanta engenhosidade, não havendo boca que não babe diante das fundamentações e dos fundos - as etiquetas do ácido crítico às trafulhas inconscientes do nada e vazio no pôquer das solidões e silêncios, para, neste estilo e linguagem, sem quaisquer privilégios extra ordinários, extra singulares, haver de fingir comedimento e afetação no modo de expressão, deveriam compensar pela ausência de sabedoria e de maturidade intelectual, riria a todos os ventos, riria como um copo entornado, desvairado só por sentir, roto por me roçagar contra as coisas alinhavadas de perquirições cujas faiscas de sinistros mistérios libertam intempéries e desesperos, indecisões acumuladas que revertem as perspectivas de vestígios e lapsos da razão;

talvez se pedisse encarecidamente à natureza

a continuidade do saber,

parasse de morrer,

pudesse violentar a morte,

abrindo-lhe frincha para a vida,

começar do in-verso

para abraçar sofregamente o di-verso.

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Se amanhã houvesse de jurisdicionar os perpétuos confinamentos entre quatro paredes, hui-clos, diria ao estilo irreverente que o fundamento subjetivo da determinação da vontade de contravenção, da vontade de um ser cuja razão, por uma dis-posição natural, não se conforma necessariamente à lei objetiva, a mola ou o motor da vontade humana não pode ser outro senão a lei moral, e a moralidade neste espaço de tempo entre agora e o amanhã seguindo trilhas in-versas a qualquer modo ou estilo de pensar, os ponteiros do relógio girando ao inverso, falácias, despautérios, como poderia provido de inteligência e perspicácia fazê-lo, não me é dada esta peripécia tão delicada e sutil, contudo em contra-partida diria que os perpétuos confinamentos entre quatro paredes podem ser deleites com muitos privilégios e regalias ao subjetivo, à sensibilidade, isto é o que chamaria, com os trinques da língua cínica e sarcástica, "regalias subjetivas", fazem bem enorme à doença psíquica conceituada "corrupção." Tais confinados nada desejam, se não for em razão de um bem, nada rejeitam, se não for em razão de um mal.

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Se amanhã houvesse de numinar o ipsis das metáforas da plen-itude que re-versa o além das contingências com os confins do abismo, quando a re-novação das esperanças se faz no entre-laçamento nupcial dos volos de verbos cujas gerências

são lumes da dialética do nada e ser,

monoléctica do som e vazios de sibilos,

na koinonia simbólica dos latinos

lácios do infinitivo

circunvagado de versos e estrofes

do perpétuo nada,

perene vazio,

poiésis e poiética da linguística pura

e prática do oco,

poemática do contínuo.

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Alvorecer de hoje visto sob os linces de amanhã, visão do imperfeito subjetivo das quimeras e fantasias, perfeição do indicativo que verbaliza os particípios do tempo idealizando as peren-itudes de arribas em pleno baile de balalaikas e fados de nostagias e melancolias, saudades circunspectas, faltas introspectivas, medos e tremores retrospectivos - a terra-mãe das depressões, angústias insofismáveis, alguns ainda acreditam haverem casas mal assombradas, ainda haverem tesouros inestimáveis, ouro, escondidos nalguma gruta, nas paredes dos casarões históricos.

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Se amanhã houvesse de omnipresentar a luz cristalina que incide no riacho de águas noctívagas, os raios numinosos do sol que incidem nos campos de flores de inúmeras espécimes, e a sombra na calçada da tabacaria resplendendo de serenidades a imanência das glórias, diria mesmo em-si dos orgulhos, e à soleira das grutas de estalactites o canto da coruja saudando o silêncio milenar do genesis, solidão secular do cântico dos cânticos sob a cintilância da lua nova que perfect-erseja o sublime de miríades do verbo do infinitivo;

hoje simplesmente estivera eu

sentado na rampa de meu casebre,

a-nunciando o alvorecer,

ouvindo o trinar de um pássaro

- que nome teria não o sei!

Vou chamá-lo "Abecê"...Trinar lindo

senti-me leve, tranquilo -

que me inspira a solicitar do que

trans-cende o além, o forclusivo ritmo

da etern-itude e no de-curso e per-curso

do dia alumbro os nadas e vazios

à luz interstícia e inter-dita do sublime,

creio, e re-crio imagens e faces do vir-a-ser,

pensando, espremendo os miolos, elucubrando

sobre isto de começar no in-verso para atingir o

verso verdadeiro,

montanhas abismos, não,

mar, docas, ondas, ressacas, montanhas, distância, sim,

o verso verdadeiro, o mar

Dies posterior prioris est discipulus,

com o tempo vem o tento.

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Se amanhã houvesse de memorizar as pers de pectivas do instante vivido e vivenciado de sentimentos e emoções, dores pujantes, mágoas e ressentimentos misturados a angústias e tristezas, as pers da cuciência per do logus e gnoses da liberdade e consciência, quando os uni-versos e horizontes do há-de ser abrem suas venezianas para os solstícios do trans-cendente, quando a neblina nívea perpassa as brumas do nada, feliz e saltitante por vislumbrarem a travessia do vazio em direção às forclusiv-itudes da esperança perfeita,

dina da ribalta do silêncio,

picadeiro da solidão,

tablado wagneriano encenando a Ópera do Desatino,

onde não vez por todas

mas todas as vezes digo a mim

nalguns momentos como este,

momentos em que penso antes tinha eu um jegue,

o seu nome era Lúcifer,

Era sarcástico, satírico,

Amava-o de paixão, apesar disso,

sentado no centro do picadeiro,

em posição de re-flexão,

meditação, um palhaço que conquistou

diferentemente, com as letras que sou,

sou as letras que buscam a expressão

do Verbo do Espírito,

em comunhão com as contingências da alma,

hoje tão unicamente estivera eu,

houvera a mim estado, e pensando,

quiçá elucubrando,

as nuvens brancas no espaço celeste,

perfilando o ossuário do uni-verso,

con-templando a montanha coberta de neblina,

sorumbático, cantando aos sussurros

"Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu...",

o tempo nublado, chovera na madrugada,

chuva que só estiou às cinco e meia da manhã,

estivera cachimbando,

sentado na cadeira de balanço,

olhando de viés as coisas e objetos,

estupidificado não sei com o quê,

quero supor com veemência ser com o desatino,

fluxos de desatinos proporcionam bem enorme

às almas carentes de compreensão e entendimento,

fortuitas as idéias que bailavam na mente,

eram três e ensimesmadas.

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Se amanhã houvesse de elencar os momentos de felicidade vivenciados, sorriso de orelha a orelha, o peito arfando, dizendo-me a mim em palavra a vida me fora solidária e compassiva, legou-me inúmeras conquistas, só prazeres e alegrias, hoje estaria escondendo a cabeça debaixo da coberta de tanta vergonha da crassa e ruça mentira de a vida haver sido plena de felicidade e alegrias, coisas do amanhã, prefiro a realidade pujante de hoje, se o amanhã houver, quiça elenque os pensamentos forclusivos da eternidade, quando no mundo só as cinzas de mim misturadas na terra restarão. Aeternitas. Libertas.

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Se amanhã houvesse de re-pensar o supremo bem só é praticamente viável na suposição da imoralidade da alma, perquirir-me-ia eivado e seivado do mais puro sarcasmo a razão de haver espremido os miolos sobre estas cositas tão fundamentais, de admirar-se tê-lo, tão inútil que não obtivera quaisquer resultados, teria estado intencionando a revelação nítida da imoralidade, colocá-la nos auspícios da colina com bandeira hasteada, nela escrito Desatino da Imoralidade e Desvario da Amoralidade, pano de fundo a imagem de um Pico, coberto de neve, o imoralismo é face da Esfínge Sagrada refletida no espelho das culturas e das nações, sedentos da derrota e do fiasco atiram-se nos abismos da hipocrisia, farsa, corrupção, e por esta razão não re-pensaria, os tempos mudaram e quaisquer idéias e/ou pensamento seriam despropósitos, seria até plausível de reconhecimento e consideração acaso assumisse que a vontade que se me anunciou fora de enaltecer tudo que fosse imoral, mas a perspicácia e engenhosidade ensinou-me não forçar muito o pepino, assim nasce mofino.



#RIO DE JANEIRO(RJ), 29 DE SETEMBRO DE 2020, 12:15 p.m.#

 

 


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