#POR QUEM OS SINOS DOBRAM# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA



À Amiga e Companheira das Letras, Ana Júlia Machado, com os meus sinceros cumprimentos.
@@@
Há dias os sinos tocavam e repicavam os ares de um firmamento azul do dia como se fizesse pazes com o mundo, saíam pombos da pequena igreja, esvoaçando baixos, preenchendo os espaços da pracinha, pessoas paradas, observando, no peito ad-miração e felicidade por cena tão mágica e maravilhosa. São momentos de lembranças, são instantes em que a sensibilidade se apresenta sedenta e ávida de vôos profundos, aproveito o ensejo para tecer em palavras o que presenciei naquele dia em que o povo do lugarejo invadiu o templo como se fossem canibais de um mito; os pássaros cantavam suas músicas que, no tempo e este integrava na perfeição de um espaço distante, a brisa da manhã era como o espelho dos reflexos humanos. Sonhei e naquele sonho supus as mais lindas histórias de um conto de fadas e como numa fábula resplandecia a paz que mais uma vez julgava intermediária dos próprios homens.
@@@
As criaturas... pequenas grandes criaturas que formam mito salva uma frase inerte e insensível aos ouvidos, memorizam uma expressão latina que suscita incólume verdade... à loucura... São elas o fulgor de uma estrela de um ponto que esconde e trans-parece lá bem distante, são o brilho atrás da lua que reflete para trás a sua luz branca e resplandecente, incidindo nos campos silvestres, nos chapadões solitários e íngremes, nas corcovas de serras e montanhas, onde as estrelas sinuam por outros trajetos e itinerários, não é negócio velarem os seus osssuários. As criaturas da noite são apaixonadas. Fazem anarquia. Uma farra que descobre sentimentos, que envela dores e sofrimentos, que omitem mágoas e ressentimentos. Que amam a madrugada, o latido dos cães. Que cantam com fervor cânticos os mais di-versos na esperança de a aurora nascer performando novos passos de dança, à luz do corpo, constituído de carne e ossos. Que somem sem deixar quaisquer vestígios.
@@@
Ali, à face da montanha, vejo sumir-se, nos pingos dágua, expressando de outro modo asco e náusea que me habitarão, enquanto for vivo, mesmo debaixo de sete palmos, mesmo por toda a eternidade até a consumação dos tempos, e serão sentidos por qualquer indivíduo, embora a sua sensibilidade seja apenas para sobreviver no mundo, a mentalidade bem menor que o salário do egregíssimo Prof. Raimundo, o milagre da obra humana, a magia das esperanças de algo ser construído à luz da verdade e do amor. Na minha voz tranqüila, impérios ruíram, orgulhos e vaidades escusas desmoronaram, ostentações de moral e ética indevassáveis quedaram sem direito a único suspiro, até as letras, em princípio, uni-versais e eternas conheceram o nada e o vazio do nascimento da razão, uma luta de morte pré-cede todas as mudanças, no sil-êncio da ordem uni-versal rigor da razão cobre o tempo novo, a fé nova que nasceu, as velhas que se transformam, mudam de fisionomia, mudam as faces.
@@@
Todo dia, faça chuva ou faça sol, há o jogo de luz e sombra, jejum repleto de gula, o réptil subreptício com sua gosma de íntimo. Quem não sabe dos buracos negros nas profundezas do poeta? Quem não conhece os vazios e nadas nas pré-fundas do escritor? No observatório do coração alucinado, perdido nas costelas das constelações, nas costas das estrelas e da lua, de sonhos e atônitas realidades, o escritor, o poeta são galileus no breu das inquisições. Todo cair da tarde a toada de medo, de insegurança, poema ou prosa de merda, merda de prosa poética, o morrer que começa feito cócegas nos dedos.


#RIO DE JANEIRO, 14 DE ABRIL DE 2020, 07:13 a.m.#

Comentários