GRAFITANDO O VAZIO E O NADA DE TRAVESSIAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA/FOTO Manoel Ferreira Neto/Graça Fontis: AFORISMO



Poema po-emático e existenciário a respeito do texto GRAFITANDO PALAVRAS E IDÉIAS, uma homenagem mui íntima à minha Esposa e Companheira das Artes, Graça Fontis, um sentimento profundo do amor às palavras, às imagens, criações, invenções, as dores, sofrimentos da criação, vou além.
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#GRAFITANDO PALAVRAS E IDÉIAS#
GRAÇA FONTIS: PINTURA/TEXTO


Do inesperado, no rubor madrugal algo gélido plantou medo em meu coração, solidificou cinzas na escuridão, desestruturou partes sem furtar as cores, meu vínculo com a felicidade, e no prenúncio do silêncio a pressão dos poros, pelas frestas de minhas pálpebras pirilampeiam o carmim. O meu destino tem olhos purpúreos à observância das palavras ao abrirem as portas do mundo, lapidário do invisível, e é nesta morna invisibilidade no agudo da noite que minha diáfana presença grafita idéias como sopro campestre na disseminação do pólen da vida, que se arraigam infiltrados no imediatismo da vontade, onde só meu vulto vê a erosão das horas no âmago gótico da meditação. Por instante, paro, apalpo-me e passo a reconvocar a reconciliação dos pensamentos dispersos ao meio a tantas sensações profundas e contraditórias, pretextando barulhenta queda d´água, surrando pedras e rapinando um canto de pássaro ainda desconhecido por conta do solitário rio rangendo versos d´algum marujo-poeta mal amado.
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Fito o horizonte com gestos longos, profundos, se é que o vejo na quietude e amplidão das sombras perscrutadoras do coração viajante. Segundos, minutos passam até a decepação de pensares tenebrosos com ares desafiadores e entreveios pululantes antes de requerer o pré-a-mar no campo da batalha já experienciada ao longo de outras jornadas. Que leve um dia, dois dias, meses... anos? Cortarei, quebrarei, arrancarei as sombras? As sombras desaguam no subterrâneo, fogem distantes do meu alcance, e resguardo-me como casulo no tempo, tendo impressões aromáticas do botão segregado num jogo de gemidos e gritos de socorro em céus toldados dos sóis, ofuscados e acoplados aos ululantes ventos outonais a aconchegarem os sonhos dentro de mim insistentes e solitários à procura da porta oculta e rangedora dona da chave e da luz a que se abre diante de mim todas as palavras. Estala a iluminação como lufadas impacientes do vento, tirando o peso de toda a escuridão, e vem a clara claridade da lua e morde-me a mim a outros e outros andarilhos que se tropeçam e entrecruzam-se nestas terras... terras das palavras. E não serei eu a aprisioná-las, quando anseiam o voo, voem, voem, e caso não encontrem espaços e horizontes em suas aventuras pintá-lo-ei para que resplendam nas alturas e consagrem ao ilimitado o valor da voz tal verdade sentida, já que a poesia e a liberdade aguardam, detestam rastejar e tem pressa no voar.
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No interior do meu primeiro pensar, quieta, ausente, presencio a vida, o desenrolar de histórias para a construção sem medo do meu próprio castelo, colorindo pedaços deste continente ante meus passos e mudez das pedras que professam o acervo subjetivo na estante de meu inconsciente à espera da liquidez objetiva da linguagem esquecida. Último ópio a escancarar os portões aos delírios luminosos no afã das descobertas e conquistas, no chão que já existe, rumo ao futuro avanço, tendo na alvorada, a segunda voz, registrando e imprimindo um terceiro ser que é meu estar-aqui, agora, revestida do último som do cosmo, esse ocultador de dúvidas, licenciador de minha passagem por um mundo manipulador de sonhos com seus enigmas e acasos do nascer ao pôr-se o sol em todas as suas veredas belas, irônicas ou agonizantes, expoentes poéticos das emoções dadas a sensíveis elucubrações a transcenderem o inacessível aos olhos do poeta, assim feitos dos sonhos rastros de tintas no aguarde da próxima viagem. Para onde irão? Não sei. Permanecerão percorrendo os corredores escuros, evidenciando novos sons e ecos desveladores em direção à luz de tudo que respira na língua aguada do tempo.
Graça Fontis
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I PARTE


O próprio EU e o que dele,
de há muito,
encontrava-se no recanto mais insólito
de uma gruta, disperso em meio à escuridão,
por vezes de uma caverna,
perquirindo o que habita a identidade,
observando os pingos dágua das estalactites
caírem na lagoa,
em meio a todo o vazio e nada,
por entre as nonadas e equívocos,
tornou-se o
verdadeiro refúgio, e como todo
refúgio revela perigo,
tornou-se o perigo in-audito e inter-dito,
"... o valor da voz tal verdade sentida,
já que a poesia e a liberdade aguardam,
detestam rastejar e tem pressa no voar...",
tudo fala, tudo silencia, tudo emudece, tudo grita,
tudo uiva, tudo é assoalhado,
tudo sarrabisca e sarapalha,
infinitiva, gerundia, participia, genitiva,
E o que era segredo, quiça enigma in-audito,
e reserva de almas profundas,
requer outro aquisidor,
outros estilos de borboletas,
esvoaçando canteiros de rosas,
ao redor das flores, sobre elas,
esperanças, bem-te-vis,
de outras linguagens da serpente que
se entrelaça aos troncos, galhas
de lado contrário do pecado e castigo,
Re-quer saber que "nada" cai em poços profundos.
***
"As sombras desaguam no subterrâneo,
fogem distantes do meu alcance,
e resguardo-me como casulo no tempo..."
sendas e veredas das metafísicas do encontro e des-encontro do verbo in-trans-itivo da perfeição-imperfeita do espírito, em cuja luz contínua de cintilâncias, brilhos, mora a eterna sensibilidade e subjetividade do **thelos** e **nous** do vernáculo linguístico e semântico da esperança que abre os braços aos sonhos de vernáculos que traduzam o que vai no espírito sedento de verdades inscritas nas páginas, imagem e palavras conciliadas, o outro "eu", o "nós prosaico-plástico".
***
Antes da madrugada de vida, sombras do crepúsculo na vegetação do quintal, a arte das palavras, sendo tragada indiscriminadamente pela garganta aberta e bocejante do insaciável desejo de distração, devorando pensamentos e ideais...
***
...não mais pensar o que deixar registrado
na página do caderno,
lince invisível do visível das vontades da
plen-itude da verdade,
e ainda sentem o sabor trans-cendente do
prazer e gozo do sublime,
a alma em seu instante de lazer vislumbra
nos baldios de outroras re-feitos de
quimeras e fantasias o vale de panoramas,
a ilha de paisagens das orlas, do Bosque das Estrelas,
e paisagens que se esplendem insustentáveis
de leveza aos recônditos abissais do tempo,
em cujos movimentos de passagens e travessias,
cores, traços, luzes, contraluzes habitam versos,
o único e elevado pensamento "...tem olhos purpúreos
à observância das palavras ao abrirem as portas
do mundo, lapidário do invísivel..."
***
As almas vão pairando e,
esquecendo ser a palavra-imagem de rosto, faces,
que já se esquivam,
tornam vagas e brandas ao olhar,
mensagens mais secretas e mais nuas,
"... onde só o meu vulto vê a erosão
das horas no âmago gótico da meditação...",
uma lareira a arder no deslizar a pena,
"E não serei eu a aprisioná-la,
quando anseia o voo,
voem, voem,
e caso não encontrem espaços e horizontes
em suas aventuras
pintá-los-ei para que resplendam nas alturas e
consagrem ao ilimitado
o valor da voz tal verdade sentida..."
***
Brilho do desejo, os sonhos da plen-itude do amor,
cores dos sonhos ardentes, calientes,
as esperanças da peren-itude da solidariedade
acompanhada da ternura e afeição
pelo sublime habitando o outro,
"... e vem a clara claridade da lua
e morde-me a mim, a outros e outros andarilhos
que se tropeçam e entrecruzam-se nestas terras...
terras das palavras...",
o mito não repousa sobre um pensamento,
o ritual, as imagens, o senti-las, o degustá-las,
assenta solene sobre os ideais, utopias
"a cabeça do vento não pensa,
reconvocar a reconciliação dos pensamentos dispersos
meio a tantas sensações profundas e contraditórias,
pretextando barulhenta queda d´água,
surrando pedras e rapinando um canto
de pássaro ainda desconhecido por conta do solitário rio
rangendo versos d´algum marujo-poeta mal amado",
"o pré-a-mar no campo da batalha já experienciada
ao longo de outras jornadas",
maduros frutos daquela essência
para épocas longínquas que sempre
querem a criação, a mais nobre inquietação,
a do ato re-novador,
" em direção à luz de tudo
que respira
na língua aguada
do tempo."


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II PARTE


Cor-agem
esplender idéias, pensamentos,
utopias, sorrelfas de sarapalhas requer
dis-posição para o empreendimento,
trabalho árduo,
por vezes espremer os miolos à cata de gotícula
única de coisas obtusas,
chegará o tempo de, sentada na orla do mar, banhar os pés, a liberdade por todos os cantos e re-cantos, outras ad-virão, levantar-se e continuar as andanças por
todas as imagens,
"...nesta morna invisibilidade no agudo
da noite que minha diáfana presença
grafita idéias como sopro campestre
na disseminação do pólen da vida,
que se arraigam infiltrados
no imediatismo da vontade,
onde só meu vulto vê a erosão
das horas no âmago
gótico da meditação...",
palavras-grafites que vão traçando
traços no mover-se lento até o
surgimento da imagem,
o grafite desliza no imaginário das palavras.
***
Cor-agem
grafitar idéias e pensamentos,
dar uma tragada no cigarro,
expeli-la,
olhando a esperança movendo-se,
andando na parede,
a cadela Layla toda escrachada no chão,
grafitar palavras soltas de instantes bizarros,
requer trazer as nuanças pretéritas
dos becos trilhados,
as sinuosidades do tempo e suas ipseidades,
as intempéries de situações,
circunstâncias, o momento em que tudo acontecia,
o olhar voltado para sítios futuros.
Sonhar sonhando o sonho,
O sonho de sonhar o sonho
das idéias, pensamentos
"Fito o horizonte com gestos longos,
profundos, se é que o vejo na quietude
e amplidão das sombras perscrutadoras
do coração viajante.
Segundos, minutos passam até
a decepação de pensares tenebrosos
com ares desafiadores e entreveios
pululantes antes de requerer
o pré-a-mar no campo da batalha
já experienciada ao longo de outras jornadas.
***
Cor-agem
grafitar idéias e pensamentos
pelo quotidiano no quintal,
apanhando frutas, comendo excelente
churrasco com mandioca,
bebendo uma "cervejinha gelada",
sentimentos e emoções diferentes,
os ponteiros do relógio andando
no sentido horário requer a verdade
inconteste das aquisições,
conquistas, ao invés de férias
merecidas por poucos dias,
depois do sono tranquilo e profundo,
re-começar tudo, seguindo em frente,
"...tendo impressões aromáticas do botão
segregado num jogo de gemidos e gritos
de socorro em céus toldados dos sóis,
ofuscados e acoplados
aos ululantes ventos outonais
a aconchegarem os sonhos
dentro de mim insistentes e solitários..."
***
Cor-agem
Quê ventura dar e receber!
E roubar, ainda maior que receber!
Roubar dos meus cofres inconscientes
as sorrelfas esquecidas,
as fantasias negligenciadas,
os sonhos lastimados,
as esperanças choradas a cântaro.
Falar a todas as coisas e, na verdade,
a imagem da circunspecção, introspecção
"escrever é intensamente difícil.
Pintar é um gesto,
um mover a agilidade de grafitar sentimentos,
emoções,
o desejo,
a vontade da imagem a resplandecer-se,
"...pretextando barulhenta queda d´água,
surrando pedras e rapinando
um canto de pássaro
ainda desconhecido
por conta do solitário rio rangendo
versos d´algum marujo-poeta mal amado."
***
...tudo se reflete na superfície lisa,
no espelho o rosto
de grafitar idéias e pensamentos
""novos sons e ecos desveladores
novas solidões e silêncios,
em direção
à luz de tudo que respira
na língua aguada do tempo..."


#RIO DE JANEIRO, 25 DE ABRIL DE 2020, 13:26 p.m.#

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