#PARA QUE SERVEM A CIÊNCIA, OS CIENTISTAS?# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA



Post-Scriptum:
Graça Fontis produziu ontem, 17 de abril de 2020, uma Pintura para marcar inda mais a sua presença artística, intelectual, humana neste instante-já de angústia e desespero da humanidade com o Coronavírus, intitulando a pintura LETALIDADE VIRAL. Pediu-me que produzisse um texto para o seu trabalho. Prometi-lhe pensar. Tenho dificuldades de escrever algo encomendado. Pensei, pensei, pensei... Hora de pensar a Ciência, os Cientistas.
Manoel Ferreira Neto
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Tempo de pensar... tempo de refletir... Pensar o pensamento que pensa, desejo de compreender, entender as coisas do mundo, da existência. Pensar custa uma vida, pensar dá muito trabalho. Contudo, faz-se mister.
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Não desperta surpresa, não causa espanto, não estupidifica o modo, estilo sui generis com que a nossa época, conjuntura histórica, social, política, econômica cultiva, alimenta, seiva as ciências. Os hábitos, costumes estão solidificados, o mesmo gerencia, regencia as coisas. Sabemos disso porque fazem parte de nossa vida. Queiramos ou não admitir, custa-nos muito, é por essa razão específica que ninguém indaga radicalmente o que poderia resultar, as consequências que advêm disso para a civilização, se seria benéfico ou falta de ética, embora consentindo que sejam encontrados em quaisquer lugares, sejam palhas no agulheiro, os mais dignos talentos, egrégios dons e a autêntica vontade de serem úteis à civilização.
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Não seria o instante-já de perquirir a natureza do homem de ciência, sem trafulhas, tramóias, sem jogos da razão e do intelecto, sem o pôquer das ideologias, se não encerra um paradoxo sem fronteiras? No homem de ciência o paradoxo, a contradição, o nonsense estão presentes insofismavelmente. O homem de ciência age, comporta-se como se fosse um dos mais vaidosos, orgulhosos, um deus supremo, rindo de orelha a orelha, desocupado da felicidade, alegria, prazer. Quê inestimável orgulho! A humanidade precisa dele a todo momento. Age e comporta como se a existência não fosse algo funesto, de incólume gravidade, mas um patrimônio assegurado para toda a eternidade. Julga poder permitir-se elucidar, "aclarear", tornar transparente problemas que, no frigir dos ovos, não deveriam ser de interesse a alguém que se tivesse assegurado toda a eternidade para ele. Inda mais alucinante que isso: herdeiro de reduzido número de horas fugidias, de momentos esparsos, vê ao seu redor com os linces mais aguçados do olhar os mais surpreendentes abismos; cada passo à frente deveria recordar-lhe, lembrar-lhe: Para que isto? Para onde estás indo? De onde vens? Isso não irá causar danos irreversíveis? Isso não é desrespeito ao direito do homem de viver? Onde fica a Ética? Mas sua alma regozija-se, inflama-se inteira com a ideia de sua tarefa, servir à civilização, servir às carências humanas, mesmo que seja contar os espinhos de cactus, as pétalas de rosas ou quebrar pedras à beira do caminho, enfileirar conchinhas na orla marítima. Entrega-se todo a este trabalho, impulsionado por todo o peso de seus interesses, de seu prazer, de sua alegria e felicidade, de sua força e de suas aspirações.
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Esse paradoxo que é o homem de ciência recentemente é tomado no mundo inteiro, a ciência produz a erradicação da raça humana, a raça humana exige da ciência a solução do problema, a ciência se tornando a fábrica da morte, a ciência se tornando a fábrica da vida, cada minuto perdido, gasto acarreta caos maior. Aí está ele agora com a brasa nas mãos, trabalhando como se pertencesse ao estado dos escravos; o estudo, as pesquisas para ele não se enquadra mais em uma ocupação, mas um caso de necessidade, soluciona o problema que ele mesmo causou, criando vírus em laboratório para a erradicação da raça humana, para defender os interesses do Poder, ou ele também será erradicado, suas vaidades, orgulhos da estirpe de nada valeram, e como homem de ciência a efemeridade das coisas não pode existir. Não olha nem para a esquerda nem para a direita, suporta o trabalho árduo, a sua existência também está em xeque.
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Curiosamente, nossos cientistas, nossos sábios não se preocupam sequer de se questionar no que tange à coisa mais evidente: para que serve o trabalho deles? Não seria para conquistar honrarias? Não seria para satisfazer a luxúria, o poder? Esforçam-se como lídimos indigentes e esfomeados, destroem até mesmo os pratos da mesa da ciência com cega sofreguidão de mortos de fome. Se, como homem de ciência, procede com a ciência como os trabalhadores com suas labutas e tarefas, impostas pela indigência e miséria, que há de ser de uma civilização que está condenada, efetivamente diante dessa atividade frenética, sem fôlego, descabelada, desenfreada, precisando até de um divã terapêutico, psicanalítico para suportar as tensões da conjuntura política, histórica, social, humana, com um vírus letal, esperando a libertação?
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Por que a ciência não tem tempo para a vida? Por que a ciência não tem tempo para a humanidade, para os homens? Não podendo responder a estas indagações, não havendo meios/condições de fazê-lo, alfim é muito difícil, complicado pensar a resposta, responda pelo menos a esta indagação: para que serve toda a ciência, os cientistas, se não forem para o bem-estar dos homens, se não forem para a continuidade da vida?
#RIO DE JANEIRO, 18 DE ABRIL DE 2020, 05:03 a.m.#

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