O QUASE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: POEMA



"O quase, ausência de conquista, é a vitória
Inebriante de todos nós, perdedores!
Vencedores não existem. Ou existem?
O quase consagrou a todos com o mesmo gesto."

O quase, por sua incontida insistência,
É, irrevogavelmente, inapelavelmente,
Impreterivelmente, inarredavelmente,
O ato único de qualquer existência."

O sagrado tem mais poesia
Guarda nos versos dos cânticos o divino e eterno,
Nas estrofes, os cristalinos esplendores do sublime e puro.

O esplendor da beleza é raio criador:
Derrama a tudo a luz
Que evoca a lembrança casta
Do fundo amor do que não ama,
Não sente o lívido suspiro da felicidade,
Não intui a nitidez pura da alegria,
Não con-templa o prazer no brilhar dos olhos.

Quando houver em mim um eco de saudade,
Sussurro de sibilo melancólico,
Balbucio de nostalgias distantes,
Beijarei com sofreguidão e êxtase estes versos
Que escrevo, sentindo reavivar a chama
Do amor que lacera, palpita e soluça.

Virá um dia
De sol ardente, de chuva fina, de inverno ou primavera,
Em que mais sagrados e cristalinos esplendores
Espelharão nas nuvens as estrelas brilhantes do uni-verso.
Divagarei de desejo em desejo,
Em busca de um sonho ou verbo
Que aspire(m) o aroma da poesia,
A última harmonia que desejo
Sentir pulsar no coração,
Vivendo de luz mais viva,
De espírito mais cristalino,
De alma mas resplendente.

"O quase é a negação esférica,
Perda total do tudo.
O mais importante e sublime,
O mais solene e pomposo.

Plenitude do tudo e do nada,
Galardão supremo e eviterno,
Na competição da existência,
Sumo apanágio da humanidade."

Minhas ilusões fizeram-me, talvez, quase criança.
Pretendi dormir nos braços de um querubim,
À sombra do mistério das estrelas e do infinito,
Cheio de amor, vazio de esperança.
Mas eu que posso contra a verdade da vida?

Minh´alma adivinha a origem de meu ser,
A raiz de minhas venturas e dores,
Eidos de meus sofrimentos e devaneios,
Esperanças de felicidade e alegria,
Quero cantar os versos dos cânticos,
Melodia, ritmo criados por mim,
Re-velando o desejo do sublime que em mim habita.

Quero sentir os êxtases do belo divino
Perpassarem-me o corpo,
Perpassarem-me a medula
Com calafrios e sentimentos/sensações
De cócegas;
Quero amar e viver
Os sagrados e cristalinos esplendores
De colher a flor pura
Na solitária fonte do horizonte,
Na ilusão de que deliro
De vida e juventude.

Quando voarem as esperanças
De amor profundo, na existência calma,
Por que verto tantas lágrimas e prantos,
Como um bando de andorinhas
No céu aberto de nuvens brancas e azuis,
Só me restarem pálidas lembranças,
Do que fui, do que sonhei, do que desejei
Encherei os horizontes de minha primavera
Com letras e palavras
De sagrados e cristalinos esplendores,
Abençoarei minhas desventuras
E completarei minha tristeza.

A minha alma não é pura,
Como era pura na tenr-idade da infância,
Quando o verbo não será “ser”,
Era “brincar” à luz do sentir e sonhar a vida.
Eu sei, se sofro agora por sabê-lo não sei,
Finjo saber para sentir, represento saber para escrever;
Tive choradas agonias,
Lacrimosas angústias,
Lacrimejantes tristezas,
De que conservo algum nó górdio inaudito.

Não sei
- quem sabe por sagrados e cristalinos esplendores –
Que fogo interno me impele
À conquista da luz, do amor, do gozo.
Não sei de que movimento
Audaz de um desusado êxtase minha alma se enche.

#RIODEJANEIRO#, 18 DE OUTUBRO DE 2018)

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