Lourdes Borges COMENTA A PROSA #SOU A VOZ DA VIDA#




É sofisticação, uma sequência de pensamentos que dão lugar a uma produção totalmente peculiar do nobre escritor que às vezes fica aquém do meu entendimento! RS. Boa noite, queridos amigos.


Lourdes Borges


Literatura, Poesia são Sensibilidade, Espiritualidade, Erudição. Todas as suas dimensões que a-nunciam a Beleza devem ser reveladas, mostradas por inter-médio da criatividade. Sem a ERUDIÇÃO não escreveria única palavra, pois que não me seria dado mergulhar na sensibilidade, na Espiritualidade. A Arte é o desejo supremo do Verbo da Vida.


A produção peculiar reside no questionamento, perquirição da Vida em todos os seus instantes contingentes e transcendentes.


"Verneinung", "Verleugnung" são categoria psicanaliticas, estudadas por Freud e Lacan, significando "RECUSA", "ABNEGAÇÃO", portanto SOU A VOZ DA VIDA é um texto eminentemente psicanalítico. Os homens somos a recusa e a aceitação, a abnegação e afirmação da vida. Mister sabê-lo para a busca do Verbo da Vida. O texto é o volos deste entendimento e a confissão da aceitação, e na aceitação desta Dialéctica a busca do Ser.


Seja bem-vinda, Lourdes Borges, ao métier dos críticos. Um grande nosso!


Manoel Ferreira Neto


SOU A VOZ DA VIDA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PROSA


Rouxinóis em colóquios a intervalos, e ouço como voam sobressaltados de um lugar a outro. Um rouxinol tentou instalar-se numa folha de mangabeira num terreno baldio frente à minha residência, e, quando saí à porta, ouvi que se mudara para além, numa antena de televisão, onde trinara uma vez e calara-se, igualmente em expectativa. De que estava ele à espera?


Era em vão que procurava acalmar-me: esperava e desejava algo, e não sabia, de antemão e revezes, se seria realizado, até cria que havia possibilidade de não o ser, por outras razões muito diferentes da que estava a imaginar; e isto me exasperava sobremaneira, uma tristeza muito profunda perpassava-me as entranhas, necessitando de algo que me despertasse a atenção para a vida, para as coisas, para o mundo, enfim, para toda a eternidade.


Ao mármore, pastas, sob o mármore, pasto serás, sobre o mármore, quanto tempo, não mais sendo... quanto tempo, sob o sol, ficarás?


Entre mármore, és, foste, serás: Com ele, por ele, nele, Os Extremos dos matizes Esgotaste e esgotarás, Mesmo que in-vertas, Per-vertas, con-vertas... A ordem natural das coisas...


Decorando-te a noite o dia e enfeitando-se o dia a noite.


VERNEINUNG. - “Ferirei o Pastor e as ovelhas se dispersarão”. - Ainda que todos se escandalizem de ti, eu nunca me escandalizarei... - “Em verdade, eu te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes, me negarás”. - Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo algum te negarei... “E, da mesma forma, diziam todos, também!”


Querendo negar, não negou: Verneinung.
No clímax da saudade alegria não há, prazer não há, felicidade não há, não há sequer miríades de ínfimas alegrias. Não há pecados, nem recados.


Sem querer negar, negou: verleugnung.
No clímax da saudade longínqua, num lugar que não há, sem distância se estendendo, se esconde a razão da saudade em espaços não conhecidos, sabidos.


No entretanto, na ausência de vento, a nuvem desce cada vez mais; tudo se torna mais quieto, mais cheiroso, um cheiro de mato, de serras, de terra, e de repente cai uma gota e como salta sobre a vidraça da sala de estar, onde fumo um cigarro.


O que é isto? Será, de verdade, a voz da vida que me questiona. Talvez não. E a voz interior responde-me: “... sim, é verdade, sou a voz da vida...” Seja sim a voz da vida, gostaria que me respondesse a uma única questão que me venho fazendo desde que me entendo por um indivíduo. Responde-me: para que o sofrimento? Olhando-me de soslaio, um sorriso nos lábios, as faces límpidas, dir-me-ia “...à toa, sem finalidade...”. Só poderia ser ironia, sarcasmo, cinismo da parte da vida, com certeza estava a fazer menos de minha inteligência, um destes pitis de homens que estão prontos e acabados para qualquer eventualidade, para as grandes coisas, mas em se tratando das pequenas são uns fracos e covardes, sabendo de antemão que a resposta não poderia ser outra, a vida é à toa...


Dolmens, menires, cavernas abrigavam o homem primevo. O civilizado erigiu seu teto, de variada forma, palácios, arranha-céus...


Valia-se o primevo da água do mar, do lago, da lagoa, do rio, do arroio, da catarata, da cascata, da bica. O civilizado trouxe a água
para a sua casa...


Lá fora, de dia, arde o sol. De noite, a lua e as estrelas, Com sua vacilante luz. O civilizado trouxe a luz para a sua casa...


Ao amanhecer do devir distintas pétalas brotarão flores selváticas nas sêmitas e trilhos por onde contundir...


#RIODEJANEIRO#, 19 DE OUTUBRO DE 2018)

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