#LONGEV-IDADE: ETERNO DO DESERTO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA




Em minha visão-de-mundo crio, re-crio, invento, traço os seus traços, sinto estar habitando uma choupana numa ilha, quintal arborizado, bosque ao redor, e as mãos daquele que não in-vestigue nentes em ninhos de cobra, tão somente sintam o veneno dos re-versos e in-versos, ad-versos penetrar na carne, espalhando-se na corrente sanguínea, princípio da sensação de que na existência encontra-se o crepúsculo e o alvorecer de outro dia, de outra terra, de outro mundo, e por que não? Basta sentir a sabedoria da utopia e dos caminhos até ela alcançar.


Sendas e veredas à frente estão delineadas, buriladas, com as estesias do nada e efêmero, ondas das travessias e das pontes partidas, ex-tases da nonada e travessia, custa apenas seguir os horizontes do campo de orquídeas e cáctus, sabendo, de antemão às revezes, serem a iluminação nas trevas do inaudito, desconhecido, enigmas e mistérios ipseidados de ilimites vislumbrando os absurdos, segredos facticidados de sem-porteiras-e-fronteiras inundando os vales e campinas de mentiras e in-verdades, vou-me perder nas mil orgias da Ilha de Safo, inexprimíveis delíquios, deidad-ificados de aberturas perpétuas alumbrando outros uni-versos das plen-itudes do deserto que re-flete a longev-idade do eterno. Hora inda mais triste, mais desconsoladora a-nuncia-se, afigura-se: a hora pequena que, desprevenido, colhe a mim e sozinho, na rua, no império, na república, nos emirados árabes(se é assim que se escreve; o que importa a idéia é nítida nula.)


Em meu intelecto cogito um local, uma palhoça, um casebre ou um borralho e os tentáculos daquele que não questione ninharia nesse instante, tão-somente experimente que na existência encontra-se muito mais do que o palpável e sim o sensível, incorpóreo, o visível e o dizível e sim a liberdade e a inspiração, o audível e o in-audível e sim a sensibilidade de ouvir os ritmos e melodias do vazio. Nesse caso apodera-se a nostalgia desse loco que, sem elucidação, apenas o conhecimento que permanece.


A professora nos auges de sua lição literária, eu que as espreitava de esguelha e soslaio - as anotações de suas pesquisas manuscritas, querendo pegá-la num ardor literário, fizera do meu coração e da minha língua carvões ardentes com que me queimaria à busca de sentir a sua magia, curaria a corrupção do espírito, mas de tão prometedora esperança.


O destino se faz nas con-ting-ências da vida, questionando as verdades, perquirindo as in-verdades dos sentimentos, perscrutando as mentiras das relações, indagando as hipocrisias e falsidades, desejando o encontro, síntese, comunhão de sonhos e esperanças que são a luz do verbo "Ser", são o verbo da verdade que se a-nunciará, o sentido mesmo da "ec-sistência" é o pro-jeto de construção de valores e virtudes através de obra que perpasse os tempos, a cada tempo são o outro de dialéticas e contradições, caminhos à vida-para o eidos do Espírito.


Para onde ainda deverei subir, agora, com o meu anseio, com as minhas expectativas? Para onde ainda deverei elevar o olhar, neste instante, com a minha consciência da solidão? O que é isto re-conhecer que não há ninguém por mim, res-pondo por mim nas jornadas crepusculares! Haverá sempre respostas! Somente habitando na casa-do-ser, dançando, festejando, re-presentando gestos e performances, con-sonantes à música do espírito de desejar, à luz das dimensões sensíveis. semelhantes à alma de sonhar, desenhar o sono e o sonho e no pintar as cores re-presentando a liberdade posta em questão, sei falar em imagens das coisas mais elevadas... De todas as colinas, olho em redor à procura de pátrias. Errante sou eu em todas as cidades e um descampar de diante de todas as portas de cidades. Sou expulso de todas as terras pátrias e mátrias. Todas as imaginações fertéis volvem para o pátio na entrada de uma casa ou prédio de dois andares... a alma vagueia pelos canteiros de rosas e orquídeas, lírios brancos...


Riscar "arco-íris lírico" nos subterrâneos do espírito, "esfarrapar" os sonhos "soniais", "son-estesias" do resgate e recuperação da sensibilidade das dimensões espirituais, viver um viver essencial... um homem vai em passos lentos, um cachorro vai em passos lentos pelo calçadão de Copacabana, um burro vai em passos lentos pela estrada a fora... Em passos lentos os ponteiros do relógio giram. Minha esposa e eu vamos em passos lentos pela orla marítima lembrando-nos de nossos instantes e momentos de alegria e felicidade, mãos entrelaçadas, de nossa Consciência-Estética-Ética das idéias e dos sonhos. Eita vida extra ordinária! Não merece um Oscar por sua extra ordinar-idade, Prêmio Nobel por seu extra con-sentimento do mesmo?


Depois do ato de amor não advém uma certa nostalgia? A da plen-itude. É que a realidade parece um sonho. Acordo-me de fora para dentro. Tudo limpo do retorcido desejo humano. Ofereço-me o que eu sentia àquilo que me fazia sentir. Viver que eu não pagara de antemão com o sofrimento da espera, fome que nasce quando a boca já está perto da comida, só no crepúsculo os sonhos do ser são frutos de vivências e experiências e não de idílios e fantasias, por isto há quem negue certas posturas e condutas de sua obra, des-faz as suas verdades e in-verdades, o nada é o que re-colhe e a-colhe o múltiplo. Tudo como é, não como quisera. Só ec-sistindo, e todo, por inteiro. Assim como existem as montanhas. Assim como ec-siste um vale de flores silvestres.


Falo comigo em tempo metafísico con-tingente, e as palavras des-abrochadas exalam o sentido de fazer, tecer, construir os passos em con-sonância, harmonia, sin-cronia, sin-tonia com a liberdade, a consciência do que habita os interstícios da alma, a solidão do "eu"; e os sentidos exalados são eles mesmos, são a visão da vida interior.


Todos falam de mim, borrifam ideias e ideais que em mim afloram e fluem, quando, à noite, estão sentados em torno do fogo, olhando, observando, perscrutando as chamas da fogueira; falam de mim, mas ninguém pensa - em mim! Digo-me a mim tudo o que tenho para dizer aos outros. Conversa, diálogo com as amenidades da vida, pois, é nelas que se nos encontra a paz interior. O que teria para dizer dos outros?


Sem resquícios nenhum, viver não existe. A vida interior consiste em agir como se o entendimento nada fosse, nada re-presentasse, como se da linha do horizonte é que viessem vindo a luz, o som, o silêncio, a solidão, e na síntese o sentimento visível do invisível, que sequência de "s" interessante, tudo sibilante nas bordas das constelações, uma fotografia colorida fora de foco, e na antítese a emoção invisível do eterno na continuidade do vir-a-ser, em imagem branco e preto que esplende suas sombras e luzes, a soma das sombras é proporcional à soma das luzes e quanto mais forte é a obscuridade que se vê, mais esplendor tem a luz, a linguagem quotidiana está plena de metáforas onde a cor e a emoção são associadas, a lua cheia é de uma insônia leve, entorpecida e dormente como depois do amor, havia decidido que ia dormir para poder sonhar, estava com saudades das novidades do sonho, na tese a consciência do verbo revérbero luminando nos entrepostos o ser apto à vida, o poemático dentro de uma dialéctica contraditória da existência que não vive, do viver que não existe, anti-melodia cromática, onde o poeta se dirige ao intelecto, o intelecto se inter-relaciona com o poeta, não se trata de um gesto de permanente ilusão, mas um gesto que des-venda e re-vela.


É que olhei demais para dentro de mim... É que olhei demais para dentro do...


Cabe ao outro dizer-se a si o que tem para dizer - preferem a algazarra, o burburinho, a "muvuca", o barulho ensurdecedor dos versos, a desordem das estrofes, puras ruminâncias e gemidos da dor, desabafo das angústias e tristezas, a consciência ultrapassa os limites das palavras, seja em verso ou prosa.


#RIODEJANEIRO#, 03 DE OUTUBRO DE 2018)

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