#CORDISBURGO DE VEDAS E VEREDAS# GRAÇA FONTIS: FOTO Manoel Ferreira Neto: POEMA PROSAICO




Post-Scriptum:

Foto tirada em Cordisburgo, Museu Guimarães Rosa. Sentado à mesa do imortal e eterno escritor, onde garatujara Grande Sertão Veredas. Como estava em Cordisburgo como Embaixador da Cultura Curvelana, promovida pelo tablóide E Agora?, foi-me concedido este privilégio de foto sentado na mesa do escritor. Não é permitido a ninguém sentar-se à cadeira.

Retornando a casa, na viagem pensara num poema a ser escrito, garatujei algumas cositas e guardei num Arquivo do Windows.

Manoel Ferreira Neto

Afadigo-me após afadigar-me,
Desbasto-me após desbastar-me
Exausto após devaneios e desvarios
Suplico à minha alma que se aquiete…
Que leve às flautas as inquietações...
Não anuar as corricas acercarem e in-veterarem-se,
Res-folega re-entrante, na ex-sudação do pudor em insânia
Na incúria dos intelectos esgotados das ante faces
Se exibem a si inerentes, sem parar.

Pós de quaisquer éresis ilusórias da lírica
Insones por revelarem de si a face des-figurada,
Bastarda de qualquer revelação, doação, entrega
De empatias, sem serem antipáticas,
Nonadas crepitando nas chamas
Ardentes dos éritos e érisis do in-audito
Centelhas etéreas,
Às cavalitas o vento
Antes de quaisquer esias versais
Reconhecem-se semblantes de miseráveis pessoas joviais,
Recheando as algibeiras, entoam, gracejam, rodopiam,
No potencial da existência versada sem vida.
Nessa rotina de ser sem existência, na intrujice
Simulam ao paladar do oxigénio que aspiram,
Atentamos perplexos, sem refutação...

É preciso prestar atenção ao que o silêncio diz, atenção livre, deixá-lo perpassar-se em todas as dimensões íntimas da alma, da inconsciência, da memória, o mesmo que viajar con-templando as paisagens do campo, re-colhendo e a-colhendo as imagens, sem qualquer pré-ocupação com os símbolos, signos, metáforas, construindo, elaborando, delineando as perspectivas e ângulos em que a eidética da beleza e do belo se pre-"en"-fica, apres-ent-a.

Após a visita à casa do imortal e eterno escritor Guimarães Rosa, os privilégios recebidos do Museu Guimarães Rosa, os seus representantes oficiais, prazeres e alegrias em companhia da escritora D. Ernestina, sério e sensível intercâmbio cultural e intelectal, observava, retornando à casa, com atenção a natureza, as condições precárias, e lembravava-me de uma estória de alguém haver encontrado um tesouro precioso, por anos a fio trabalhou-o, isto para mostrar às pessoas a sua obra, e quando isto realizou compreendeu e entendeu, e disse aos que lhe interrogaram: "O tesouro inda reside, habita em mim. Apenas libertei os pedacinhos que recusei." O que mesmo observava, naquela secura, árvores mortas, poeira, ingreme natureza, se me revelaria no futuro. Não me lembra em que lugar hei lido uma frase de Guimarães, se na rua do Museu, nas ruas entre os bares e lojas, em verdades becos, mas guardei-a bem "sussurro sem som/onde a gente se lembra/do que nunca soube..." Por onde se vai em Cordisburgo há uma frase dele nos muros, paredes de casas residenciais, botequins, bares, restaurantes. O que nunca soube das experiências e vivências, do que aquela visita contribuiu para o pensamento e as idéias está aqui representado.

A analítica existencial da pre-sença há-de resguardar uma clareza de princípio sobre sua função ontológica. Por isso, a fim de des-incumbir-se da tarefa preliminar de explicitação do ser da pre-sença, ela deve buscar uma das possibilidades de abertura mais abrangentes e mais originárias dentro da própria pre-sença. O modo de abertura em que a pre-sença é colocada diante de si mesma deve ser tal que, nele, a pre-sença se faça, de certo modo, acessível da maneira mais simples. Com o que nela se abre deve vir à luz, de forma elementar, a totalidade estrutural do ser que se procura. É sendo pre-sença que o silêncio diz. É habitando no silêncio que a verdade se diz.

Nessa rotina de ser sem existência, na intrujice,
Simula ao paladar do oxigênio que aspira,
Atentamos perplexos, sem refutação
Ao sonho demente da perfídia admitida pela comunidade.
E finda-se a narração, pois assim pretende-se
Reflectir esgota o encanto,
Da inconsciente população que somos no planeta…
Se é que se pode apelidar planeta
Que população,
Que porvir,
Que ética,
Que preceitos,
Normas ou regras
Quando se vive em uma anarquia e sem rédeas
Resta-me o que não desejava,
Sojornar na angústia de haver que aquietar a minha alma
Como? Não sei… e as pelicas porfiam em surgir, por via da minha inquietação…

#RIODEJANEIRO#, 31 DE OUTUBRO DE 2018#

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