#IMPREVISIBILIDADE# GRAÇA FONTIS: PROSA POÉTICA/PINTURA#



Que esta manhã nebulosa
Não turve meus pensares
Nem o olhar vítreo
Vencido pelos signos
Ao declararem angústia e dor
Ainda que haja inspirações suspensas
No varal de meus sonhos inauditos
Com o coração tido em compassos ruidosos
Na regulamentação dos instantes
Ao entorno que revolve, extorna
Impulsos viscerais de trancar o tempo
Para que não se tornem intermitentes
Dias e noites
No grasnar silvestre da dor
Na selva ocre vertentes de muitas lágrimas
Haja o saber, a natureza expõe
Que chore o rio
Lamentem os pássaros
Chore a terra
Suas tetas já murcham
Troncos lacrimejam
Tantos são os emaranhados
Entorsos declinam galhos
Esboços disformes sobrepondo
Difusa nesga do mar
E de encontro ao ciclópico ar maléfico
Que a maresia expele
Deslizante, fétido
Sincrônicas as línguas candentes
Ao crepitarem o verde em desolação
E chore o vento em sua inconstância
Porquanto sol e terra agonizam
Ardem imensurável lamento
Formas redondas entrelaçam-se no ar
Evanescentes as chamas de arrosto
A funesticidade íntima e silenciosa
Das almas tremeluzidas
Nos últimos instantes do presente
Que se tornaram passado
Olhares petrificados conferem
O imprevisível, o caos
No calor da noite
O vento inesperado da morte
Ao antes fértil
Ora esturricado, sem vida
Sob uma luz morna da tarde
Olhos tingidos pela cor dos desvalidos
Onde o cinza se estende nos sombrios vãos
Do que era abrigo de todos os cânticos e cores
Manhãs pintadas de sons
Quando pássaros tinham ninhos
Árvores, suas raízes
Que falem as folhas esmagadas
No abismo da danação
Recônditas lembranças
Simbolos fálicos de cor, sons e paisagens
Fincados na solidão a serem esquecidos
E muitas coisas a serem enterradas
No granítico meio da destruição
Em que o hálito desvairado
Da cobiça oculta crepitou-se como livre dardo
No âmago da terra sem lei.


#RIODEJANEIRO#, 16 DE OUTUBRO DE 2018#

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