AS PALAVRAS E OS SENTIMENTOS# GRAÇA FONTIS/Manoel Ferreira Neto: POEMA/GRAÇA FONTIS: PINTURA




Lembranças inestimáveis
A solidão presente presencia resquícios de pretéritos
Outrora de sonhos esquecidos
Tempos de nada, instantes vazios
Olhares alheios
Dista a distância remota, olhares perdidos
Congruência de sentimentos introspectivos
Agora, sei não, o que importa saber pouco
Saber com que intenção, passaram-se as ilusões
Quimeras, fantasias
Cartas jogadas aos naipes de horas olvidadas
Neste navegar a todo pano, mar melancólico
Em que a prudência surda aflição
Serpenteia densas nuvens à placidez do olhar
Onde as palavras caem, acolho-as
E no ranger de vozes reverbero todos os prazeres
Dos vícios acautelar-me-ei
Aguçando mais e mais as sagácias contidas
Repelindo resignações quando o acaso imperativo
Tenta abater os sonhos
E da janela da vida a vontade impera com coragem
Por todos os ventos antes de perecerem no vazio.

Entender, explicar o inaudito cancioneiro
Do tempo, sobra tempo para investigar
Os liames entre o medo e o sonho
De liberdade, livres as razões de ser,
Ser menos que os princípios,
Ser mais que os dogmas de outrem
Autentificar os sentimentos cordiais, pensamentos mentais
Ser silêncio, ausência de palavras sem tréguas
Vislumbrar a vida, conotar as idéias
De perquirições, as atitudes mudas dizem a alma solitária
Por que a algazarra e não o silêncio?

São pensamentos dentre fumaças intermitentes
[São verdades solenes dentre luzes perspectivadas
De sentimentos, de que a solidão é íntima,
Ser liberdade é almático]
Antecipação das horas entre meio querer
Das virtudes e renúncias no íngreme sólido do mundo
Fincando raízes na terra do futuro inda nada
Valham-me sonhos, estes são infurtáveis
E que o próprio precursor execute canto de antecipação
Do abençoado sol e seus mistérios
Do ranger de vozes omissas, segredadas.

Silêncio... Palavras comungam-se nas linhas
Conotam as luzes do espírito, denotam o brilho das emoções
Mudez, nada a conceituar, definir
Dizer, digo a mim,
Falar, falo a outrem
Sem intenções de revelar o ser de mim,
Pertence-me o mundo de ser solidão
De ser nada,
Vazio
Mesmo radiantes, sombrias no irrisório destino
Recolhidas pelo coração, mediante coisas futuras
Aventuras conscientes e metas registradas no feito
Da realidade inda sob espesso véu no rosto pasmo
De medo nas longas noites dormitadas
Ajustando todas as possibilidades nesta aventura
Sem porto de chegada, para atracar
Seria que o nada a habitar o ser-silêncio
Houvesse de gritar a solidão à mercê da ec-sistência?
Seria que o ser-[de]-ser a residir as entranhas
Houvesse de entregar-se ao outro de pensar?
Ser o que sou no ser quem não sou
Vice-versa
Ser o que sou e não ser o que sou
Silêncio
Vivo entre parênteses: primeiro parêntese, nascimento
Segundo, a morte
Sou quem o sabe, pertence-me esta sabedoria

Donaire da vida íngreme e desigual
São nestas ladeiras mal calçadas que sinto nos pés
As dores contidas é um caramanchão invencível
Desejos secretos e sombrios
Quiçá rezem a evidência de minha fraqueza
Até uma alegre a sacolejar-me o ego
No escape a tantos olhos
No pavor incutido de mistérios a mim cabem
Nu como ao mundo cheguei
Eis-me aqui.

Silencio-me entre os homens
Ouço-lhes as vozes, algazarras
É isto o que me cala a alma
Voo aos horizontes, universos da solidão
Amanhã serei o existir pleno e vazio.

Tépidos substratos sentidos cegos
Amarantos efusiantes de palavras
Na longitude sem passado ou futuro
Bela flor primitiva
Impactando simetricamente as sombras
Inconscientes da verdade do existir
No caminho caucionador de palavras assimétricas
Ao destino do nunca, rapporte com a humanidade

A vida são as palavras que em mim habitam
Sou palavras e nada mais
Diluam-se no tempo ou não
Inda que só a mim ditas
Inda que sentidas por mim só...

#RIODEJANEIRO#, 21 DE OUTUBRO DE 2018)

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