ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ANALISA E INTERPRETA A FENOMENOLOGIA DO TEMPO E DA LINGUAGEM NO TEXTO FILOSÓFICO #O NADA E A ARTE LITERÁRIA#





Neste complexo e excelente texto, do escritor Manoel Ferreira Neto, constata-se uma ironia à atual escrita literária, onde inicia com o Hodierníssimo manjou o carácter da Arte Literária, linguagem e género harmoniosos, propendendo a demanda da formosura, com indolência e presunção, imergindo no precipício mais abissal do fútil, do inconsequente, da insignificância. O Estruturalismo comenta que o homem não vive mais, tudo são construções. O Neologismo súplica que a Arte Literária não permanece mais, tudo são psitacismos das literaturas.


Aqui não posso deixar de frisar Carlos Drummond de Andrade, em seus poemas, pensa esteticamente o ser, o tempo e a linguagem, emudecendo seus ledores para que neles se manobre a pujança do nada. Meditar o tema do nada nos poemas do poeta é contundir um curso em seu espírito, apalpando, como poeticamente ele o compõe, “o domínio do verbo e o poder de mutismo” de seus poemas para constituir o ser. Conferimos, ao dissecar seus cantos, como o poeta espelha sua idade e seus enigmas superiores, aperfeiçoado com as distintas matérias da erudição e com as contendas principais de sua era. A partir disso, contata-se o que percebe o sentimental por eu, poesia, inspiração, idade e emudecimento. Designados estes sinais, converte-se exequível compreender como os poemas nos atormentam e nos inibem no nada, anulando-nos e corrigindo-nos no cogitar inspirador de Drummond.
Há quem se importune ao encarar-se com um texto de compreensão poética. Há quem subestime a poesia. Há quem inquira: porque carecemos de poesia?


Contudo, a escrita que bajula com o cunho inspirador é sempre torção dos hábitos, daquilo que já nos é tão dia-a-dia – o rotineiro. Ao propagar esse que é o comum da existência, no modo de verbalizar que repudia o medíocre, a poesia bajula com sentidos renovados, flerta mesmo com a faculdade de novas diegeses ou representações. Todavia, mesmo nesse jeito de ser desafiadora (ou recordativa), a escrita poética não abdica as figuras e teores usuais de forma integral. Não. Ela se ampara precisamente naquilo que de algum modo é sabido – o que se institui como âmbito normal da percepção – para anuir a outras áreas de sentido. Na realidade, a causa para a escrita inspiradora é a anuência que o escritor dá a si mesmo para superar o raciocínio usual e ofertar um trajecto interpolado para acercar mais além, em outra significação do recitar. O autor que se coloca no zelo de executar poeticamente retira da dissertação vulgar o sentido banal para nesse caso desenhar algo que é, ao primeiro observar, esquivo. Em natureza, a poesia é o que sobrepuja do vulgar e a partir do usual, na rédea do raro. Porém, de algum jeito, atingível.


O que verdadeiramente está incluído no compor poético é o cunho de contráste – o que é ou está no outro, mas que não forçosamente já foi sabido do modo como nos foi presenteado. Escrever poeticamente é colocar-se defronte de, estando junto com o outro de forma similar, mas não sobreposta; estar com o outro conforme, mas autónomo. Enquanto delata a intimidade do verbalizar, aproximando a diegese frequente com aquilo que ele ostenta como novo, o escritor (no modo de preparar poeticamente) convida-nos à proeza, a investigar a área que, até então, nos era estranha. Esse aceno sucede como reflexão do cunho interesseiro do sentido, arraigado naquilo que a ideia – a partir dos teores banais – é apta de traçar como desígnio da língua enclausurada pelas libertinagens da diegese comum.


Necessitamos da poesia para restituir no mundo da língua os sentidos que foram extraviados pela vereda, sentidos desprotegidos em benefício de um verbalizar tão-somente proveitoso e aprisionador. Esse incentivo ao novo, esse incentivo ao enternecimento de outras faculdades para reconsiderar o universo é inadiável. É preciso crer na idoneidade do outro em compreender, desde esse decoro, que a faculdade de ser de outro jeito impõe a reflexão dos sentidos usuais e que isso repõe escritor e ledor no modo de reedificação dos valores de bem ser somente desigual e não antagónico.


Sim, a poesia exige. Carecemos da poesia. Mas para tanto, é preciso aconselhar toda uma criação a transitar os rastos mais longínquos da linguagem, daquela linguagem que, em distintos tempos, era unívoca de bem reputar-se.


Hoje, infelizmente, qualquer ser escreve apenas porque é bonito, cai-se no ridículo, o nosso português de Camões e outros de renome foi esquecido…Arrepia ver tanta gente a escrever com tantos erros e sem qualquer sentido. O nada…é mesmo isso…é zero…é despojado de qualquer valor. Por isso, o grande escritor ironiza…e com tanta razão…


Um simples exemplo que vi hoje: Fazendo o bem nós fortalecemos e a busca do saber nós blindam.
Vão vir para nós corromper com abraços e sorrisos….


Ana Júlia Machado


O NADA E A ARTE LITERÁRIA#
Manoel Ferreira Neto: DESENHO/GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: FILOSOFIA


A Modernidade comeu o fígado da Arte Literária, linguagem e estilo estéticos, visando a busca da beleza, com cebola e salsa, mergulhando no abismo mais abissal do nonsense, do absurdo, do nada. O Estruturalismo reza que o homem não existe mais, tudo são estruturas. O Modernismo reza que a Arte Literária não existe mais, tudo são verborréias das letras.


Felizmente que o Nada, dimensão con-tingente da Arte Literária em nossa modernidade, está presente em toda a sua eidética, é uma pedra de toque para recuperar, resgatar os valores estéticos da Literatura e Poesia.


O nada tanto pode ser um atalho que conduz mais rapidamente ao destino visado, a estética, a beleza, pois que ele, nos efêmeros da linguagem e estilo dos tempos, períodos literários que serviram aos interesses e ideologias, ligados à história em suas manifestações sociais, econômicas, religiosas, que desembocaram nele, dando origem ao vazio, são perspectivas lançadas ao In-finito, projetadas ao verbo Litteris da visão-[de]-mundo, quanto pode ser um desvio strictu sensu, levando quem o escolhe (ou nele simples cai) a perder-se sem que o destino intencionado jamais venha a ser conhecido. Este caminho é o literário-filosófico e se encontramos ao final um sujeito construído ele mesmo como forma amalgamada e metamorfoseada em linguagens claras e distintas que se concebem nascidas e existentes como sensibilidade, subjetividade, podemos imaginar, não apenas o que lhe teria acontecido se houvesse encontrado um desvio, mas outros caminhos para a construção da subjetividade que não re-presentassem apenas a chance de perdição. É o "eu" literário, o "eu poético" ao final do caminho da projeção do Nada para o In-finito poético. O sujeito iluminado, o "eu poético" iluminado, produz-se no ato mesmo em que é posto um sujeito não iluminado, o nada, constituído na sombra do vazio.


Considere-se que, sob o sujeito moderno, o "nada poético" ofuscado por sua luz e que ele possa ser descoberto numa in-vestig-ação, análise e interpretação dos vestígios da linguagem e estilo que se foram perdendo ao longo do tempo, ao longo dos períodos literários, "às sombras", "às penumbras", aos "crepúsculos". Se o "eu poético" é todo luz e está à luz da literatura, da poesia, este sujeito está à sombra também da história da Literatura, e da História da Subjetividade, da busca da Estética, da Beleza, da Espiritualidade, da Sensibilidade.


A imagem poética é uma emergência da linguagem, está sempre um pouco acima da linguagem significante. Sine qua non criar, in-ventar, re-criar os traços, um croqui da imagem poética, para sentir esta emergência da Linguagem. Ao viver os poemas, tem-se pois a experiência salutar da emergência. Emergência sem dúvida de pequeno porte. Mas essas emergências se re-novam; a poesia põe a linguagem em estado de emergência. A vida se mostra aí por sua vivacidade. Esses impulsos linguísticos que saem da linha ordinária da linguagem pragmática são miniaturas do impulso vital.


O nada, como já dissemos, é a pedra de toque para a recuperação, resgate da imagem poética, o "eu poético". Neste nível de nossa in-vestigação sobre o Nada e a Arte Literária, intencionamos a busca do Verbo Poiético do Eu poético, para estabelecermos a Estética. Tudo o que se é imaginado, tudo o que se é sonhado, toda a Liberdade entregue a Utopia da Estética... Uh, uh...


O nada de re-versos in-versos, avessas ad-versidades, in-versos avessos re-versos agradam-me sempre... Tem por vezes, o que fascina e extasia, o arzinho sem-vergonha, trigueiro, de que vai aprontar alguma, mas não é para o ledor, é para mim mesmo este arzinho, seduz-se a con-sentir os novos desafios, são sempre sen-si-bi-li-da-de, e a "Gente" viajando na alma sente saudades do Espírito, no trapézio sente saudades da rede, na rede sente saudade do trapézio. .


#RIODEJANEIRO#, 15 DE OUTUBRO DE 2018)

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