#AFORISMO 844/ ESTREBARIAS AO LÉU DO TEMPO, ESPERANDO QUE O DILÚVIO AS CARREGUE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



O alvorecer se anunciará sem mistérios, revelar-se-á sem enigmas, e, sem rituais, sem mitos e miticismos, misticismo, seguirá o sol para o pálido crepúsculo, e a doce magia que segue a noite à luz do ser-só me habitara em forma de silêncio, e o silêncio far-se-á jornada para acalentar meus passos, para amenizar os questionamentos, para espairecer as idéias, para serenar as indagações - nada mais há de ridículo que indagações e questionamentos, res-postas não há. As convicções são estrebarias ao léu do tempo, esperando que o dilúvio as carregue.


Ah, essa vontade imensa do ser, ser a verdade de quem sou, ser a palavra plena que pronuncia, ser o verso divino que crio, ser o amor que sonho... Vontade imensa de cantar o cântico do sublime re-fletido no espelho do tempo sem quaisquer dimensões, de morrer de tão velho que os ossos até tremeliquem, vara de bambu verde à mercê do in-cognoscível, in-inteligível, in-audível. Desejo incólume e simples como as nuvens brancas que deslizam no azul celeste.


Deixai-me com meus lírios e interlúdios, deixai-me com minhas orquídeas e prosas, uma de minhas origens são os "causos", não há duvidar "causos" sem "prosas" não há, e "prosas" sem contos do vigário e monsenhor são lendas fúteis. Hei-de encontrar-me insone e des-variado no meio dos trigais da subconsciência, declamando os versos que Einstein não escreveu, a teoria da relatividade que Rubens Fonseca não des-cobriu.


Busco a linguagem da folha abandonando a árvore, busco a verdade de estar comigo próprio. Em momento algum compreendo-me: se estou alheio não me enxergo, esfrego os olhos como se a tirar-lhes alguma sujeirinha, se estou disperso, não me visualizo, mister lavar os olhos, são os bichinhos das árvores nas calçadas da cidade, embora não visualize ainda, apesar da visão intensificada, se estou em mim, não me trans-cendo, se sou o verbo de mim, não me trans-elevo.


Sou Deus diante do espelho, preparando-me para criar o absoluto da verdade. Sou Mefistófeles frente ao atrás da imagem re-fletida no espelho, urubuservando as maledicências do efêmero perfeitamente apaixonado pelas maledicências do eterno, hipocrisia, farsa, falsidade, seduzido, o melhor seria dizer.


Que farei, eu, sem deuses, sem juízes? quem serei: réu, juiz e deuses? Dançarei o desespero, ópera muda, seresta demoníaca de estar nu ante mim próprio.


Vejo rostos que me amam, dedicam-me carinho e amizade, tentando saber quem fui, querendo traduzir as vozes de meu silêncio...


Sou um retrato, miragem que o tempo dilui. Orquestra e prelúdio. Luzes da ribalta e avant prémier. Metafísica transcendendo em mim.


(#RIODEJANEIRO#, 10 DE JUNHO DE 2018)


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