TROPICÁLIA AO SABOR DOS TEMPOS# Manoel Ferreira Neto: DESENHO/GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Tropicália de eternos
Faço das mãos despalmadas
Serenos orvalhos a eternizarem
Solidão de carências
Solidão de volos do efêmero
Solidão de fé, esperança,
Solidão de nous, sofia,
A língua vernácula algazarra o erudito
De tempos inolvidáveis, de tempos enaltecidos
De glórias, nada pode conspurcar os pretéritos
E viva o pastor conduzindo as ovelhas
No silêncio crepuscular da montanha
E viva o itinerante sentado na mesa da vendinha,
Da solidão do bosque noturno, a coruja cantando,
Tomando o seu aperitivo, dedilhando nas cordas do violão
Canção da tristeza no chão de pedras e poeiras,
E viva a gotícula de chuva que pinga solene
Na folha seca da árvore na calçada vazia de transeuntes,
E viva a rosa que des-abrocha esplendorosa na manhã
Primaveril, exalando perfume inebriante...
E viva o casal sentado no banquinho de mármore
No calçadão da praia, de mãos dadas,
Gaivotando o crepúsculo...


Tropicália de vazios
Faço do evangelho da noite
Fosforescentes verbos que aquiescem o calor
Das sensações, sentimentos, emoções,
Do eterno, por mais distante o navegante
Não esqueceria jamais as ondas do mar surgindo
De onde as nuvens do céu cobertas de estrelas
Se perdem nas águas,
Respirando o ar transparente e puro no qual
Caminha com delícias a sabedoria que faz
Dos desertos sagrados a cor-agem para mergulhar
Em reflexões... a matéria viva do desejo do Ser,
E viva o que não está à vista, o que é in-visível,
O que é in-audível, o que é inter-dito,
E viva o vazio que acende a vontade do múltiplo
Na multiplicidade dos ideais e utopias
Que levam a re-conhecer quão grande a alma
Para artificiar a bossa nova de desígnios
Seduzidos pelas promessas com a ajuda dos deuses,
E viva as sereias nas docas refestelando-se
Nos raios de sol incandescentes da tarde,
E viva os caranguejos nos mangues matutinos,
Sob as gotículas da chuvinha fina,
E viva o clérigo que no momento do sermão
Observa os mendigos a pedirem esmola
Na porta da igrejinha do lugarejo...


Tropicália de efêmeros
Melancolia,
Nostalgia,
Eclipse oculto, nada acaba, nada perece,
Alguma coisa está fora da nova bossa,
Da Manhã Preambulando o Bom ritmo
Das Quatro Estações,
Russando o verbo, remando o sonho,
As emoções dóceis,
Saudade da alegria,
Saudade da felicidade,
Saudade do prazer,
Saudade do pensamento que pensa o pensar
Das virtudes,
E que viva a dialética do tempo e do vento
De travessias e sibilos,
E que viva a contradição do bem e do mal
De nonadas e liturgias da palavra
Palavra que verte lágrimas pela vaca profana
Que derrama o leite na cara dos insurrectos, corruptos,
Palavra que compõe do brilho dos olhos do boêmio
A verdade do vai-e-vem do amor e do verbo de amar...


Tropicália de nadas, minha Shangri-la,
Todos os caminhos trilham
Para o encontro da visão do que há-de ser,
A qualquer distância o outro é força para
O coração atentar para o Ser,
A alma se inspirar na água que cai fora da choupana
A canção do que não morre,
Do que não entristece,
Do que não agonia...


Tropicália é fruto do bem-virá
Tropicália é semente da terra,
É húmus do mundo
Que formoseia todas as minúcias,
Todos os mistérios, todos os enigmas
Que se escondem nos porões das contradições,
Nos abismos
Do re-verso re-verso do ad-verso,
Do in-verso re-verso do in-verso
Das razões in-versas que suplementam o tempo.


#RIODEJANEIRO#, 09 DE NOVEMBRO DE 2018)

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