PERSCRUTO UM RECORTE DE MIM# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA


Post-Scriptum:

Há um diamante no céu riscando o etéreo,
Há uma lua esplendendo o eterno...
Há o pretérito, esta sombra e silêncios a serem trans-literalizados,
Há o presente, o aqui-e-agora das dimensões da sensilibidade,
Da razão, do intelecto, da intuição, da inspiração, de todas as coisas,
Amor e Nada são os segredos, enigmas e mistérios do Ser...
Tantos nadas já foram concebidos, gerados, nascidos...
O amor re-vela, vela sua face,
A vida outra que se res-plende na face,
O nada, ontem, hoje, amanhã
Criando, re-criando, inventando, re-inventando,
In-vestigando o há-de ser a Ec-sistência da Vida e do Saber,
O amor, por sempre iluminando as dialécticas,
Contradições do Caminho de Luz nas Artes...
GRAÇA FONTIS é a minha Alma, Espírito, o Ser por que tanto anseio e desejo"
"(Manoel Ferreira Neto)

Vencido pelas marés de tristes tormentos e vendavais sórdidos, desconsoladas angústias e náuseas abismáticas, sentidas nas profundezas da alma a cada toque das ondas nos pés que se trocam ao longo da orla marítima, eu, ilha abandonada ao relento das noites frias e chuvosas, sorumbáticas, dos dias quentes e frios, entre oceanos de lágrimas, o  coração pulsando comedido, versifico as ausências de brisa, ritmo a brisa de ausências, metrifico de solidão os versos ausentes.

Como posso deitar na cama, repousar a face esquerda no travesseiro, destrinçando-me com lâmina tão afiada, os cortes sangrando, e avaliando-lhes com percuciência? Como posso manter-me de pé, insone, carregando cruz pesada? Ninguém dissera seria assim, assim vou pisando no chão com insolência, irreverência, rebeldia. A única coisa que fiz foi a que não fiz. "Diga-me, homem: "Como dorme a noite?" 

No rosto (in)concreto, (in)substancial do sonho, varando o espaço da mente, perpassando as nervuras da (in)-consciência, sento-me circunspecto na quina de um pensamento insolente, pernas cruzadas, balouçando o pé esquerdo – in-verso dos sonhos meigos, idéias infernais, ad-verso às dores e sofrimentos, finjo-me a vítima, tripudio-me o algoz, e choro rios de gargalhadas. 
Aniquilo a transitória, mas poderosa matéria (in)conseqüente, (in)-consistente, insciente, e detenho-me pena. Detenho-me direito e dever de de-penar-me os franguinhos, mas sob aquela luz da ambiguidade: a imagem, re-presentação, o real da existência e contingência?, diria ser autosarcasmo. 

Abro valas em meus sentidos dis-persos, vagos, adormecidos, sem lembranças, sem re-cord-ações. Procuro imagens obliteradas, olvidadas, obtusas, oblíquas, ocultas na brisa pousante, nos flocos dela que pouca na relva de meu destino, construi-o ipsis litteris aos desejos e vontades. Não é a mesma coisa séria, sincera, descrever com sangue as cenas, o que escrevo com tinta de desejos esquecidos e vontades de ausência.

Tenho para o presente segredos profanos, rasgados e gravados nos arquivos da mente - não titubeio minuto sequer em urubuservar-lhes com perspicácia, aguardo do tempo engenho e arte. Quiçá in-vestigue no amanhã anterior a quaisquer manhãs as culpas e pecados dos puros amores, não àqueles amores de homem para mulher, mas àqueles para a vida e as con-tingências versos-unos de liberdade e utopias; passeando pelos caminhos e pelos atalhos, perscruto um recorte de mim, no cimo de uma oliveira, ali como ela há mais de trezentos mil anos, vendo as minhas idéias e utopias ou olhando para as minhas fantasias e ideais, sorrio circunspecta e introvertidamente como quem não com-preende o que diz, fala, recita, declama, rumina, uiva, matraqueia, e quero simular que o faço, dissimular que o patenteio, fingir que o silêncio responde pela autenticidade, inda que imperfeita e defectiva, da voz sonora do antes vivido ou sons ouvidos de um pranto.

Com nada me contento, com nada me satisfaço, com nada me realizo, com tudo me atormento, com o eterno advém-me as mais insuportáveis sensações nauseabundas, com o absoluto me desespero.

Com o Amor e o Nada me entristeço? O Nada está sempre de braços e alma abertos para o Amor, para recebê-lo, e o Amor sempre com aquela vontade e desejo tresloucados de abraçar os outros nadas que ad-virão

#RIODEJANEIRO#, 07 DE NOVEMBRO DE 2018)

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