MANOEL FERREIRA NETO RES-PONDE AO ACRÓSTICO DE GRAÇA FONTIS, ESCRITORA, POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA.




Torna-se assaz complicado res-ponder a um acróstico edificado com o meu próprio nome - aliás, inédito; inda não fora assim louvado. A estrutura de um acróstico é realizada subjetivamente por quem a compõe, de-monstrando características sensíveis, emocionais e sentimentais, valores e virtudes íntimas, dimensões  do eu, de caráter romântico.

Esta não é a intenção fundamental da pintora, poetisa, escritora e crítica literária Graça Fontis: tecer o acróstico revelando o homem Manoel Ferreira Neto, sua subjetividade, sua intimidade sensível, seu eu. Sua intenção transcende a estrutura tradicional do gênero poético. Intenciona sim revelar o escritor, o homem de letras,  seu fazer literário, poético, seu mundo e sua  realidade. A diferença reside neste aspecto, que, aliás, patenteia a alma do artista, a criação, a criatividade, evidente que em termos da mostragem de quem é o escritor mister fundamentos objetivos traçados com percuciência e engenhosidade.

"Mente em transe",  título do acróstico, primeiras palavras do verso primeiro", mostra  a incólume percepção de Graça Fontis a respeito do escritor: o transe da mente, da solidão do homem ao silêncio das palavras. Solidão profunda que faz o escritor "arrancar do ventre", da alma, sentimentos, emoções, sensações, sobretudo conhecimento e sabedoria para lhe aquecer, assim des-cobrindo sonhos, esperanças, utopias que lhe fazem prolongar a existência, a eles se entrega com o desejo de alcançar  o Ser, artificiar-lhe, entrega que "outros não veem", só mesmo a solidão é capaz de enxergar esta entrega, são "formas ocultas na neve prata da poesia", poesia que se fundamenta no encontro do intelecto e da sensibilidade, um caminhar poético no esquecimento, no que fora perdido ao longo da existência e que necessita resgatar, recuperar, fazendo-o na fonte íntima das palavras, onde a solidão se apraz, contenta-se, pode com elas trocar dedos de prosa, tornando-se com elas um "viajante obstinado" à busca do Ser, assim sensibilizando os corações mesmo os resistentes.

A obra do escritor Manoel Ferreira Neto, conforme a visão real e profunda de Graça Fontis, cujos alicerces são a solidão e o silêncio, é o espelho de sua existência onde descobre e descobrirá outras--+ razões desconhecidas para a escultura de seu uni-verso, uni-verso solitário e silencioso. Há-de se ressaltar que não pretende, não intenciona livrar-se da solidão, do silêncio, eidos de sua própria existência, não apenas da obra, nesta busca incansável do Ser, mas adentrar-se inda mais na solidão, no silêncio, ser-lhes. No decurso, percurso desta viagem deixa que as reflexões operem suas secretas e imutáveis transformações, não dissociadas das evidências do outro, o outro que lhe preenche os espaços vazios do terreno baldio de sua alma.

A realidade da crítica literária são as interpretações e análises, as luzes diferem de crítico para crítico sob os prismas e ângulos escolhidos. O artista e a obra permanecem sendo questionamentos e reflexões ao longo dos tempos e das circunstâncias. Mas Graça Fontis, com toda a sua sensibilidade, percepção, intuição, sensações, com a sua própria vida sendo esposa e companheira das artes de Manoel Ferreira Neto, des-nuda, des-vela o escritor com propriedade e caráter, põe-lhe a nu frente aos ledores e seus pouquíssimos amigos.

Poder-se-ia com evidência dizer que a origem do escritor é a solidão e a origem de sua obra é o silêncio, conforme a visão de Graça Fontis, que Manoel Ferreira Neto endossa em todos os níveis e dimensões.

"MENTE EM TRANSE" é um testemunho vivo da existência do escritor, quem é este escritor tão introspectivo, fechado, enchafurdado na solidão

Manoel Ferreira Neto                

MENTE EM TRANSE#
GRAÇA FONTIS: ACRÓSTICO

De Graça Fontis a Manoel Ferreira Neto

M-ente em transe a oscilar o pêndulo eidético de um viajante obstinado
A-ntigo navegante que transcende limites da carne na desmistificação de engrenagens a nudez de símbolos
N-uma terra de habitantes alados, rostos estiolados incógnitos entre evidências
O reter presente assegurando tempo e coisas neste chão de desgarrados que caibam num poema
E seus olhos entre sensações na cadeia de corpos, formas estruturais do tempo sem que as horas importem
L-onge deverá chegar no silêncio da mudez dos vivos, na fala de muitos mortos circundando pomares permanecentes entre perguntas.

F-oi também ontem seu deixar de tantas coisas como os mortos que nada deixam, apenas vísceras, quando atirados no mar
E é nesta temporaneidade, na pressão dos instantes, o arrancar do ventre lenha para se aquecer no inverno
R-evelando em sua alma sem pudor pétalas abertas ao sol, formas de entrega que outros não veem, ocultas na neve prata da poesia
R-esguardado no inacessível, indelével, quiça fuga dentre solidão, apetites, querências, um caminhar no proposital esquecimento
E a canção vibra em segredo seu adejar a fonte das palavras insinuantes e tépidas, circundando o saber como ave errante ao migrar a esmo
I-magens fantásticas incontidas no próprio ser ao travessar vãos escuros e ventos inesperados para de súbito despencar no mar de luzes, prazer possuído de todos os cânticos e cores
R-etornando ao que fazem do riso modo simples e sábio de seguir viagem ao lugares de êxtases que a idade não conta
A-rrancando no ritual preciso em compulsão inevitável, da memória, sacieis aos sentimentos mais primitivos, transcritos assolam corações mesmo aos resistentes

N-este meio tom tudo é possível, é mencionado, mutante hiberno na solidão, verso re-verso do inexplicável, mãos restituídas na noite que é vício
E-m retorno o espetáculo da vida, das forças elementares no corpo em espasmo cedido ao sono, melancolia e sentimento de um breve findar
T-ivesse que estilhaçar-se após um vácuo silencioso, apenas sibilos do vento com seus agudos e céu que a luz extingue-se, um novo ângulo no espelho da existência teu rosto redescobrirá outras razões desconhecidas para serem despidas
O mais deixará que as reflexões operem suas secretas e imutáveis transformações dilatando em si universo dinamizado não disassociado das evidências do outro.

#RIODEJANEIRO#, 08 DE NOVEMBRO DE 2018)

Comentários