Post-Scriptum:


Tudo que é presenteado sem interesses deve ser vivido com intensidade, fazer deste presente um olimpo do ser. Aos 24 de novembro de 2015, recebi da inestimável amiga Sonia Gonçalves o presente BLOG #BO-TEKO DE POESIAS, dizendo-me ela apenas: "Sabia cuidar dele, Manu!" Três anos após, com toda dedicação e entrega, vislumbro as realizações concretizadas, reais e verdadeiras


Dias de verão.
Horas de suor.
Madrugadas de mormaço.
Lugar em tédio deixado.
De tudo, sentimento vivido.
De nada, re-versa emoção de lácias dialécticas,
Latinas contra-dicções nas marolas dos desejos,
De vazio, in-versa sensação de egrégias des-razões.
De nonada, per-versa intuição dos nonsenses.
A re-núncia encontrada em nós desta liberdade.


Sibilo de vozes - ouço e nada com-preendo, entendo, apenas ser mister fazê-lo, há o que o tempo realizará e com primor. Perscrutando momentos que a isto precederam, nada há que possa elucidar senão enorme vazio, anunciou-se e de imediato escafedeu-se. Estive procurando ideias inéditas que esclarecessem aquilo de a "Castanheira da Liberdade" deva ser regada não apenas de tempos em tempos mas a cada instante.


Olhar de frente as coisas lineares
Re-nascidas nas veias oblíquas
As coisas verticais,
Re-feitas no sangue obtuso.
Olhar de baixo para cima as coisas ridículas.
Re-feitas de brilho e resplendor.
Gosto do Nada
Assim, assado,
Subjuntivado, gerundiado
Participiado.
Amo o Vazio,
Frio, esguio,
Escorregadio.
Sou fã da Nonada
Declinada, recitada
Declamada,
Preterizada,
A-nunciada
Olhar de esguelha as coisas visíveis
Re-criadas de sonhos, utopias.


Seriam sibilos da consciência, coisas pretéritas a que não dera a mínima atenção, em nada iriam interferir, inúteis e passageiras. Não há duvidar: interferiram, tanto que sinto perdera oportunidades, poderia ter criado uni-versos in-estimáveis, hoje estaria aproveitando delas, curtindo-as. É regar a liberdade com os frutos das vivências.


Vem a imagem de que necessito
Re-tornar à sombra de uma árvore,
A cabeça sobre sua raiz,
E olhei para cima,
Um vazio sem limites,
Mas esta lembrança permaneceu
Em mim desde sempre,
Embora não tenha sentido ou intuído antes.


Fazenda.
Era tarde,
O sol queimava o corpo a qualquer toque,
Um calor infernal,
Fui lá eu sentar-me por baixo de uma árvore,
Jabuticabeira,-
Para descansar à sua sombra,
Fora quando senti um vazio enorme,
E quando desejei ter ao meu lado todos os homens,
De qualquer credo ou raça,
Vi-me caçador do in-audivel, in-visível,
Inter-dível
A terra sugere levantar-se, o céu descer.
As estrelas deslizarem no espaço até caírem.
A lua re-colher seu brilho, esconder-se.
O verão vai chocar guinchos cerimoniosos nas vertigens.
Trans-corre-se ambíguo.
Ab-surdo plúmbeo e clorificado.
Oscila entre sombras, tédio, obscurecimento.
O duplo trans-corre-se.
Oscila entre o pessimismo, nostalgia, paz.
Somos miséria, desgraça,
Somos pobreza de espírito, esquizóides da alma.
A liberdade, luz estrídula: presente e futuro.
Presente mesquinho,
Medíocre, vivido insuportavelmente.
Não vislumbro nele senão estranho e inexplicável
Mostruário de paixões e desejos reprimidos,
De tradições e idéias maquinais,
Neuras ec-sistenciais,
´Coses con-tingenciais,
Tudo mal misturado e ao acaso
No rosto débil e lustroso de um homem
Que orça pelos cinquenta e seis anos,
Tão irresoluto e indeciso agora como o fora na mocidade.


Se os sibilos de vozes que, agora, são lembrancitas deles e das inquietações da alma com o momento de perquirições dos pretéritos de insubordinação, irreverência, rebeldia, desobediência com as cositas da vida, foram aquela chamada para refletir a liberdade é mágica, pode se re-fazer, o atrás ser apenas um ensaio, à frente tudo se construir, instituir-se, a vida se re-velar. Possui o seu fundamento esta reflexão, mas creio ser muito mais que isto, é no crepúsculo que se a-nuncia a maturidade para vivenciar as realizações. Se naquele instante de sibilos de vozes não compreendi o que diziam, agora a música das palavras artificiaram o sentido
que traziam em si.


Com certeza, houve modificações, mas metamorfose alguma.
Nada além que irresolução e indecisão.
Que inventário maravilhoso!
O conhecimento da beleza incumbe-se em ir construindo-se.
A afeição transbordante de calor.
Passo pelo tempo, conhecendo.
E nada vem do chão, e nada vem do abismo,
E nada vem da terra,
E nada vem dos bosques,
Não fora Sócrates quem disse,
“Homem, conhece-te a ti mesmo...”?
A imortalidade viva e perspicaz de ternura.


Se aqui, “ad absurdum”, o conhecimento da beleza
Torna-se ainda mais doloroso,
Empresa de longo fôlego.
Se lá, “ad infinitum”, o conhecimento da beleza
Será apenas idéias de mim.


Só eu sei o que isto significa.
Estar à procura de uma realização,
Não sabendo onde se encontra:
A ausência de compreensão e entendimento.
É muito mais profundo.
Resta-me agora a tarefa mais difícil,
Mas também a mais necessária:
Falar-vos brevemente a meu respeito
Sem pudor nem vergonha,
Sem meias palavras, sem omissões, sem in-verdades,
A fim de dar consistência ao pouco que exponho
Aos senhores até agora.


Porque vos poderia ter sido exposto por qualquer outra pessoa, mas, para ad-quirir um mínimo de valor, deve estar, por assim dizer, encarnado em uma experiência concreta vivida. Melhor dizendo, é preciso mostrar que foi “pago”, porque não foi gratuito, nem muito menos substituível ou suplantável, ou seja, anônimo e anódino.


#RIODEJANEIRO#, 21 DE NOVEMBRO DE 2018)

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