**UM LUGAR ATRÁS DO SOL** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA




Quem há como expresso a mim eu?


Talvez ninguém haja por projetar suas angústias e sofrimentos, sou a única responsável por lhe não oferecer o presente, eivado de alegrias e prazer, seivado de contentamentos e glórias, sem quaisquer lutas e esforços os mais difíceis e agonizantes, condenado que está a esperar a morte, o fim último de desejos e fantasias as mais diversas.


Esqueceu-se de sua condição, as dores íntimas construir-se, ascender-se sem em que se justificar.


Mística rodovia em que me encontro, leve-me para casa! Mística rodovia por onde jornadeio, leve-me para casa.


Se contemplo as letras de coevos homens, mergulhados em seus sofrimentos por desejarem a redenção, satisfação de erros e enganos, intuo, de imediato, os louvores os mais íntimos, por lhes fundar os sonhos e quimeras, fundamentar-lhes as esperanças as mais puras, mas esquecendo de eu própria buscar e desejar salvar-me de suas mãos ímpias que me condenaram a representar a condição humana no seu processo, fundamentar as esperanças as mais puras, mas esquecendo de eu própria buscar e desejar os sonhos dentro da ilusão de salvar-me de dedos vazios, ímpios e insolentes, em riste a apontarem-me as culpas.


Se é que se pode acreditar encontram alívio e prazer, fá-lo através de sublimações, fugas, compensações, pois que tudo substitui e endossa outras cinzas e vontades de outras nuvens azuis e brancas que preencham o vazio deixado pela águia que sobrevoa os rios e o seu caminhar sem margens, sem pressa, esconde-lhes as agonias atrozes que lhes habitam a alma, e creem pode seguir satisfeitos, mas um simples gesto, quem sabe por o nó górdio lhes apertar um poucochinho mais as dores entre a noite que vem nas asas do silêncio, que intuitivamente lhes anuncia o menor esforço por lhes tornar real a vida, as experiências de sonhos e amar.


Ao redor de todas as constelações, há um lugar atrás do sol!
Ah não!... As letras nascidas destes homens, desde tempos imemoriais até ao presente – e mais nesta dimensão do tempo, quando a identificação de agonias outorgam-lhes direitos de sobrevivência - enchem-lhes as mãos, saciam-lhes as fomes e sedes, e podem morrer sem haverem experimentado as misérias e pobreza, e nada há que ao menos justifique o não ter algo a ser doado gratuitamente, e qualquer palavra irá definir as trilhas de outroras cinzas – com certeza a miséria precede a pobreza, por o estado espírito mergulhar num sem sentido tal que não lhes restam quaisquer alternativas senão prolongarem-se – o que é a língua, essa com que me expresso a mim, buscando desconhecer certas vulgaridades e picuinhas insolentes que nascem do espírito de só querer, não aceitando os invernos de chuvas bem presentes, até negando e negligenciando certos aspectos não peculiares às leis de menor esforço existentes em quaisquer; poderia muito simplesmente registrar o que a universalidade do sentido, clareza especifica de senso, conhecimento, sabedoria, sou-lhe compassivo a aceitar como minha a ação; poderia tão simplesmente desconhecer as regras de negação que dizem antes dela, a negação, símbolo de justeza e verdade, nascida na semente, que de águas em águas nasceram, este ser que ser podia, e tudo estaria identificado, não restando um único gesto de passo a ser dado, interrompido por não sei o quê...


Sentido tal que não lhes restam quaisquer alternativas senão justificarem-se – a partícula, de cujo nome me não lembra eu, “se”, deveria ser colocada: antes do verbo e que, por intermédio de uma rebeldia diante destas leis de menor esforço ouso desconhecer, em nome de que ouso desconhecer as facilidades, alegrias efêmeras, mergulhando noutros abismos que se anunciam desejos a serem realizados.


Sim... Esqueceram-se os homens de letras de se esqueceram intimamente, e mostrarem a mim, esta condenada a ostentar a velhice, este símbolo das experiências, vivências. Esqueceram-se os homens de que sofro, peno muito diante do que fora a mim imposto representar. Esqueceram-se os homens de letras de que agonizo eu, Atenas Atéia, doida e louca por vir a luz desde sempre escondida das trevas.
Ah, os homens de letras que me louvam, escarnecem de desejos e instintos os mais ímpios e vulgares esperam de mim a redenção e salvação, não são capazes de desvencilhar de suas dores, mostrando as minhas por/de viver para lhes sustentar a vida nas vitrines de ilusões e quimeras.


Tanto que esses homens de letras, unicamente sustentados por tornar a vida um pouco menos dorida, doída, inspiraram-me a dizer-lhes com categoria e insolência “se deixarem a pena buscar os silêncios, advindos de solidões e solitários desejos, mostrando que lhes existo e penso nos ínterins de desejos e realidades, quem sabe as intenções e intuições se tornem não representação, mas a verdade que me habitam.


Mística rodovia em que estou, leve-me para casa!
Mística rodovia por onde jornadeio, leve-me para casa!


Mas, em contrapartida, seguindo outros horizontes, diga-lhes que sou quem veio para ensinar as trilhas de sendas milenares e seculares perdidas num pingo dágua do rio que seguia os seus caminhos rumo à perdição e encontro com o mar, o oceano, mas seguir aprendendo a desaprender o em que outrora defendia a unhas e dentes. Não sou quem se refugiou, encontrou a redenção e consagração nos idílios que vem nos sibilos de ventos de entre as ricas de terra ressequida.


Sou quem em letras distantes e intuitivas vem nas asas do silêncio, esse que me habita intimamente, e a sua presença e vida me entrega às quimeras de outroras envoltas nos sonhos de amanhã; sou quem de sentimento em sentimento, utopias e sonhos, busca na folha de papel branca, o vazio desde sempre inscrito até a minha solidão desejar se expressar através de metáforas e imagens.


E, por essa razão bem profunda, desconhecida de muitos que intencionam apenas as efêmeras circunstâncias de vaidade e egoísmo, busco perder-me e encontrar-me, busco tão só dizer o que perpassa as veias pelo sangue que por elas passam a quaisquer momentos, inconscientes, e símbolos de vida que antecedem as vontades e desejos de alegria e paz.


Se é possível acreditarem estes homens de letras que jamais mostraram a mim, que lhes habito eu desde a Terra Prometida, quando Moisés levou o seu povo indigno... Se lhes possível for acreditar que não sou um deles, que importa a mim com dada letra fazer um alimento para suas almas sedentas, com as angústias e desesperos, momentos sem pés nem cabeça, em que sinto a mim simplesmente posto na sombra de alguém para lhes representar a imagem refletida nos espelho.


Ah, coevos homens de letras, não se esqueçam de lembrar de que, sublimados ou não pelas circunstâncias, represento o lugar onde a liberdade se encontra ávida de se entregar em minhas mãos, e por isto que os caminhos são sinuosos e eivados de não-sentido que só o tempo e as redenções, inerentes às vontades e desejos de traduzir um sonho, um único, tornar-se-ão verdades, e entregue às utopias me busco a mim.


Mística rodovia em que estou, leve-me para casa!
Mística rodovia por onde jornadeio, leve-me para casa!
Ao redor de todas as constelações, há um lugar atrás do sol.


#RIODEJANEIRO#, 25 DE ABRIL DE 2019#

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