#DE RAÍZES E RISOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: CRÍTICA LITERÁRIA




Post-Scriptum:


Esta crítica ao livro da escritora Mary Ribas foi publicado pela primeira vez pelo tablóide Centro de Minas, de José Adonias Ribeiro, aos 22 de julho de 2005.


Ah, não vislumbro qualquer sentido em delinear outras características literárias da escritora Mary Ribas senão que suas “estórias” são de ponta a ponta risíveis, de um cinismo e ironia sem medidas. No lançamento da obra Reticências, o escritor-amigo Dalton Canabrava Filho andava de um lado para outro rindo sem eiras, as beiras seriam outros risos. Estas foram as primeiras informações que recebi acerca desta obra.


Dissera eu numa crítica sobre Dalton Canabrava Filho, publicada por este tablóide Centro de Minas, não conhecer escritor curvelano que fizesse o leitor rir por negar o outro o que é inevitável. Referia-me ao riso diante de valores retrógrados que os homens insistimos em conservar, sendo eles o símbolo de nosso atraso humano e existencial. Inevitável que nos libertemos de nossas verdades absolutas. Mas este riso se encontra nas entrelinhas de Aline o melhor no melhor dos mundos. Ironia? Devo antes pensar o que digo; o contrário ou o seguimento virá logo? Enquanto que na obra de Dalton Canabrava Filho o riso se encontra nas entrelinhas, o de Reticências encontra-se nas linhas mesmas em outras estruturas sobremodo ad-versas, explorando os ridículos de cada um em nosso quotidiano.


Fazer o outro rir, o leitor rir durante a leitura de uma obra exige categoricamente dom e talento. Com efeito, re-presentar um drama no teatro, cinema, novelas televisivas é muito mais fácil que fazê-lo numa comédia. Poucos escritores têm dom e talento para mergulharem no risível de nossos hábitos e costumes, das situações e circunstâncias do quotidiano de uma comunidade com suas personagens simples, humildes, também as orgulhosas e tradicionais. Às vezes, é até mais fácil mostrar os ridículos dos simples e humildes, por não terem medo do ridículo, por não conhecerem o sentido do ridículo, do que as orgulhosas e tradicionais, por tudo fazerem para esconder as mazelas e pitis; ambos são risíveis, dependendo dos talentos e dons do escritor.


Lendo as estórias - ou seriam histórias de hábitos, costumes que na memória armazenamos das raízes de nosso povo?; ademais, Mary Ribas não tem pejo algum de id-ent-ificar os personagens da obra com os nomes reais das pessoas, percebemos e intuímos que na continuidade de nossos acontecimentos e fatos do dia a dia tecemos a cultura de nossos acontecimentos e fatos do dia a dia tecemos a cultura de nossos ridículos em busca do riso que enobrece com o seu olhar enviesado de ensinamento e experiência. Mary Ribas sem dúvida registra a história dos ridículos de nossas personagens curvelanas. Se se registra os feitos e nobrezas de alguns na construção de nossa História, por que não registrar os ridículos? Ridículos, feitos e nobrezas são características de nosso povo, de nossa História.


Reticências – título dado por as estórias/histórias sempre terminaram com reticências, no sentido de a conclusão ser do leitor -, de autoria da escritora-amiga Mary Ribas, preenche o sonho de nossa simplicidade, inocência, ingenuidade, a obra transforma os ridículos em Arte p0or terem sido vividos por alguém, pelo tempo os tornarem literatura, os cronistas são os personagens, Mary Ribas se torna a co-autora, registra as vozes e seus achaques mais íntimos. O sonho de nossas imaginações, às vezes sarcásticas, às vezes insensíveis e frias delineia as nossas necessidades de raízes e risos.


“... e tirando do bolso do avental...”, como escreve Mary Ribas, A prova do crime, à página 22, o tecer da linguagem e estilo, a mistura das reticências com que finaliza as suas estórias/histórias, as dos leitores em busca do riso, do que rompe as fronteiras das lembranças tardias e inequívocas, dando lugar ao sentimento, à emoção, construímos a nossa veia satírica – não é a vida que se revela? E tirando do bolso o vazio colocamos as reticências no início de cada crônica, e esperamos pelo belo, beleza, poesia, que se revelarão com novos risos diante de outras situações, que alimentam as dores e sofrimentos com a presença do hilário diante do insólito; “tristeza não, apenas o riso que antecede as circunstâncias e situações de mim, de qualquer um” é o que digo a mim próprio lendo a obra, e a expectativa do novo, inusitado se mostra palavra a palavra e, na mistura dos enredos, o espanto, a imaginação id-ent-ificam a vida de cada um.


Mary Ribas constrói com ironia/cinismo e as contradições da moral tradicional a trama do ilusório/real, e a vida com seus per-cursos e in-cursos res-ponde pela experiência do sensível e intuitivo em busca de valores que alimentam e saciam a nossa sede de espiritualidade. Aliás, qualquer escritor curvelano sempre está mostrando a sede de alguma coisa, a sede do sublime, a sede do sonho, a sede do amor, a sede de espiritualidade, a sede de verdades reais... Mary Ribas faz-nos rir de nossas ansiedades e dramas antes de cada momento de nossas vidas. Faz-nos rir da perda de nossos valores e o inusitado de nossos comportamentos, mas, sublinhe-se isto, em busca de nossa felicidade que são as nossas raízes curvelanas. Esquecendo o riso, quem somos nós?


O que realmente faz fascina na Literatura Curvelana é o estilo de cada escritor mostrar uma dimensão de nossos sofrimentos e dores, angústias e frustrações; a nossa Curvelo em carne, osso e veias habita a pena e os sonhos de nossos escritores pela Vida, e não apenas pelo sentido da vida.


Ouvi dizer, aqui e ali, de Mary Ribas, através de Delém e Newton Vieira. Escrevendo sobre os escritores curvelanos, tive necessidade de ler a obra, procurando-a pessoalmente. Antes mesmo de ler a obra, com as informações tidas do riso presente na obra, decidi escrever por no encontro com Mary Ribas não ter conseguido um momento sequer conter o riso que se manifestava espontaneamente, desde o início até ao final de nosso encontro o riso esteve presente, Mary Ribas mostrou e demonstrou a sua originalidade, a presença dela é o riso sem eiras nem beiras. A expectativa da leitura, o que a obra teria mensagem para os curvelanos, para a humanidade seria avaliado com a leitura.


Algo acolho bem íntimo e presente no espírito: conheci Mary Ribas numa conversa espontânea e real, e dela guardo no íntimo a recusa perene de conservar dores, da alma e espírito. O homem, para Mary Ribas, é a des-coberta do risível, da porta que abre caminhos para o conhecimento dos desejos e vontades que nos habitam, das raízes que habitam o curvelano; a necessidade do riso e da alegria para nos tornar vida e seres humanos.


... (a reticência fica por conta do leitor).


#RIODEJANEIRO#, 15 DE ABRIL DE 2019#

Comentários

  1. https://www.estantevirtual.com.br/livros/mary-ribas/reticencias/2393490241 Oi. O livro da minha mãe também está disponível em formato de bolso no www.clubedosautores.com.br

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