#DELÉM - A ESPIRITUALIDADE DA POIÉSIS# Manoel Ferreira Neto: CRÍTICA LITERÁRIA FOTO: TIRADA NA SECRETARIA DE CULTURA, Prédio do Banco do Brasil, onde Delém trabalhava como funcionário.



Post-Scriptum:

Razão In-versa Suplemento-Caderno Literário-Filosófico para a sua primeira edição em junho de 2007, no TABLÓIDE "E AGORA", de Geraldo Magela Abreu, recebeu contribuição para a compra da folha de Antônio Nilzo(Eliete Araujo Duarte), Roberto Figueiredo(Contabilista), Joãozinho proprietário do Restaurante e Churrascaria Espaço Livre, dentre outros. Neste tablóide foram publicados somente 3 edições, tornando-se independente, e seu lançamento fora na Associação Comercial e Industrial de Curvelo, Edifício Pioneiro.

Na segunda edição, escrevi este Editorial em homenagem ao grande amigo Delém(Marcos Matias), poeta e escritor. Aquando desta edição, leitor dissera-me: "Manoel, seu suplemento é de alto nível e você publica coisas de Delém, um poeta pegajoso de tanto romantismo.", respondendo-lhe eu: "Um grande poeta e por esta razão tenho orgulho em publicar suas 'coisinhas". Comentei o fato com Delém. Soltou os cães em mim. A partir de então, passou a correr de mim quando me via, esconder-se dentro da banca de revista, próxima à casa de Nilzo Duarte. Durante dois anos não mais falou comigo. Em 2010, num sábado, pela manhã, estava descendo a avenida Dom Pedro II, próximo à Praça Benedito Valadares, alguém tocou-me as costas. Virei-me, era o Delém. "Manoel, perdoe-me por meus comportamentos ridículos. Esqueça-se do que aconteceu", respondendo-lhe: "Somos amigos, Delém". Fora o nosso último encontro. Faleceu ele em maio de 2010.

Manoel Ferreira Neto

Aquando nos conhecemos, ou melhor, começamos nossas relações, final do século XX, princípio do XXI, estava publicando a minha novela Ópera do silêncio. Delém presenteou-me com o seu livro De Cachoeira a Inimutaba, obra histórica retratando a passagem do distrito de Curvelo, Cachoeira, à cidade de Inimutaba, já comentada por mim noutras páginas. Em sua primeira página, escrevera como dedicatória: “Ao amigo escritor Manoel Ferreira. Não tenho um novo caminho. O novo que tenho é um jeito de caminhar. Abraços do sempre Delém 21.07.00”. Em nossos constantes encontros, dissera-me: “Sonhar é importante, mais importante ainda é realizar os sonhos”, presente nesta obra, o que fundamenta radicalmente a vida.

O sonho habita-nos o espírito, é a pedra de toque da construção de nossa vida, de nossas real-izações, de nos tornarmos homens, de nos espiritualizarmos. Lembram-me estas palavras deste amigo por quem alimento sentimentos os mais sensíveis, amor, consideração, carinho, re-conhecimento e respeito não apenas como indivíduo e homem, mas também como escritor e poeta, suas letras tocam-me profundamente, é a oportunidade que se me a-pres-“ent”-a de um mergulho na alma, espírito, em busca de quem sou, o que re-presento no mundo. Sempre que estou real-izando um sonho é dele que a imagem me vem nitidamente, é de nossa amizade a lembrança transparente.

Assim, não poderia deixar de escrever este editorial de Razão In-versa, quando realizo mais um sonho. Lembro-me dele, e a lembrança se torna a re-presentação de agradecimento por palavras tão sábias, e digo-lhe silenciosamente: “Obrigado, meu querido, por estas palavras; em verdade, tornaram-se o novo caminho a seguir na vida, o novo jeito de caminhar”. Lembrar dele é re-pres-“ent”-ar o sublime do espírito, já que ele é a expressão real do sentimento.

Há quando me pergunto o que habita profundo a alma, espírito deste companheiro de estrada, deste amigo da vida, poeta da espiritualidade, manifestada nas percepções e intuições do quotidiano da vida, da contingência que se re-vela nos desejos e vontades, do estar bem com os homens, com as coisas do mundo, com os problemas da vida, com os sonhos que nos habitam. Pergunto-me por haver ele vivido tantas experiências, trans-cendido e tornado arte, poiésis, poética e cultura o vivencial e vivenciário.

Se mais uma vez tomo da pena para escrever sobre ele – duas foram as vezes que escrevera artigo, uma nota de satisfação por se tornar colunista de nosso tablóide Razão In-versa, na primeira edição passada, e desta feita um editorial de tablóide –, não significa apenas estar delineando a sua espiritualidade que, advindo de suas reflexões e meditações, pró-vem de sentimentos fortes e presentes, sentimentos cujas origens nascem e re-nascem nas palavras poéticas devida e perfeitamente dis-postas nos versos e estrofes, nos desejos e vontades de outros horizontes, outros sonhos logo ao alvorecer dos novos dias, dos novos caminhos a serem per-corridos, dos novos jeitos de caminhar. Desejo profundo dizer o que suas letras iluminam, o que elas contribuem para a real-ização da vida, o que nos faz con-templar ao longo de nossas buscas do sublime, da espiritualidade.

Dom e talento habitam-lhe o espírito, mas não seriam origens e raízes de sua vivência, se não comungassem suas experiências, buscas, utopias e sonhos. Quem não se lembra de seus programas no Rádio?! – velhos tempos, velhos dias, mas que nos interstícios da memória re-nascem a cada alvorecer, tomam forma, linguagem e estilo de poiésis, de poética, dá-nos força e presença para a continuidade de nossas lutas e empreendimentos para a real-ização íntima e da vida, cuja trans-cendência manifesta o desejo da espiritualidade.

Não posso afirmar com categoria haver sido no programa Curvelo em revista, do amigo e locutor Geraldo Magela de Abreu ou no programa do amigo e locutor João Comunitário, durante uma visita de Delém. Verdade é que fiquei sobremodo extasiado, admirado com a intimidade de Delém com o microfone, o microfone se metamorfoseia em suas mãos, torna-se o sentimento puro e sublime por seus ouvintes, amigos e admiradores; trans-cende-se, tornando-se o objeto intermediário entre ele e os seus desejos de os ouvintes real-izarem a felicidade que lhes fora vocacionada desde toda a eternidade. Exatamente por isso, considerado por nós os curvelanos o “divino locutor” de nossa História.

Sempre que Delém iniciava seus programas, recitava, declamava e espiritualizava trova de seu “poetinha” amado e con-templado, Padre Celso de Carvalho, “príncipe dos trovadores”, quem, com efeito, delineou e espiritualizou o seu espírito, mostrou-lhe os novos caminhos da vida. As trovas do poeta transformaram sua sensibilidade; nelas, o poeta Delém trans-literalizou sua afetividade, a dimensão da “cáritas”, a koinonia do vivenciado e do contemplado; e sua poiésis, que lhe habita o espírito, linguagem e estilo da ética evangélica e bíblica, re-nascida e re-literalizada, despertam-nos a sede de conhecimento, a água que saciará o deserto de nossas solidões, o Saara de nossos medos e resistências, tornando-nos sendeiros da luz eterna. E, como agradecimento e reconhecimento de todas as trans-formações que as trovas e amizade com Padre Celso de Carvalho operaram em seu espírito e alma, Delém criara a Academia Literária Padre Celso de Carvalho, sendo dela vice-presidente.

Falar de Delém é falar do sino, re-presentado pelo som de cada batida de nosso coração, de cada pulsação dele, que faz o sangue percorrer as veias em cujas raízes e origens os sentimentos de amor, compaixão, solidariedade buscam e con-templam a comunhão dos homens e da humanidade, desejam o som nítido e real do Amor de Deus. Falar de Delém é falar de espiritualidade, de sensibilidade, de amor, sobretudo de cristianidade, devoto que é de nosso querido São Geraldo Magela. Falar de Delém é falar de Vida, de Sonhos e Utopias, de desejos e vontades de felicidade, paz e integridade espiritual.

Lembrou-me no lançamento deste tablóide a trova que compusera de imediato para a poetisa Ludmila Paixão, a quem Razão In-versa estava lançando. Não me lembra as palavras de sua trova, mas falava de amor, de carinho, sentimento sublime pela poetisa, que nos fez, a todos os presentes naquele evento, sentir sensibilizados, emocionados. Olhava eu a poetisa, enquanto Delém recitava a sua trova; se durante todo o evento Ludmila Paixão estava em estado de graça, extasiada e estesiada, com a trova de Delém, em sua homenagem, a presença da graça nela se tornou ainda mais real e transparente.
No instante de sua recitação, o que esteve presente nos sentimentos e na sensibilidade foi um dos itens de seu texto publicado nas páginas deste tablóide, Como dizia a vovó!... De bem com a vida: “Seja franco a ponto de dizer a quem você ama, que realmente o ama de verdade e em todas as oportunidades que surgirem”. Estava Delém dizendo a Ludmila Paixão que a amava de verdade, que re-conhecia a sua sensibilidade, os seus dons e talentos de poetisa, de mulher, de adolescente que é.

Delém é Vida... E, com efeito, todos nós os artistas, escritores, poetas, atores, músicos, personalidades, autoridades, que tivemos a oportunidade de ser entrevistados por ele, que temos a oportunidade de usufruir sua amizade, somos unânimes em dizer: “Você, meu querido Delém, mostrou-nos os caminhos reais que devemos trilhar na vida e nas artes. Obrigado por tudo”.

Manoel Ferreira

#RIODEJANEIRO#, 09 DE ABRIL DE 2019#

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