#OBRA E VIDA# Manoel Ferreira Neto: CRÍTICA HISTÓRICA




Post-Scriptum:


José Paulo da Cruz é nascido no distrito diamantinense, Curralinho, residente em Diamantina. São inúmeros os seus escritos históricos sobre Curralinho, que tive o privilégio de ser Copy-Desk. Por vezes, passava dia inteiro em sua casa corrigindo os seus textos históricos, trabalho este devidamente pago financeiramente. Até quando residi na cidade, 12 de julho de 2014, inda não havia publicado o livro que tinha desejo de fazê-lo. Não mais tenho notícias dele desde então.


Manoel Ferreira Neto


A obra é a origem do artista – diz-nos Martin Heidegger. Se se deseja mergulhar na vida do artista, conhecendo-lhe, investigando as mensagens, visões de mundo, escolhendo e contemplando aquilo que nos ajuda a amadurecer, buscando inteirar-nos de nossos problemas, desejos e vontades, a obra é a porta de entrada para este conhecimento.


A obra de José Paulo da Cruz se nos apresenta eivada de mensagens reais. É obra que tem por objetivo fundamental e essencial a História de Curralinho, a sua terra-natal, personalidades, fatos e acontecimentos que deixaram seus traços e passos na vida daquela comunidade.


Em verdade, conforme nos dissera, iniciara a contar a história deste pequeno lugarejo, os muitos casos, por pedido de suas sobrinhas, há quatro anos, tendo já escrito sobre inúmeras personalidades, casos pitorescos, numa linguagem popular. Não tinha quaisquer pretensões de ser o “pioneiro”, o “precursor” de testemunho histórico. Não se trata de escrever a história oficial, com métodos e perspectivas historiológicas, mas de despertar nas pessoas o interesse de estar sempre contando os casos de Curralinho, conhecer o caráter e personalidade de alguns homens.


O conhecimento de nós mesmos, quem somos no mundo, o que representamos, é imprescindível para a nossa busca da espiritualidade, consciência de nossas capacidades, responsabilidades com a vida.


Para José Paulo da Cruz, é mister o homem mergulhar nas suas raízes, conhecer a História da comunidade, o processo de vida que se foi elaborando ao longo do tempo, diante das tensões entre a realidade e as ideologias, entre o real e os interesses, deixando-a dizer, dizendo, conscientizando-nos de nossos compromissos com a vida, com o mundo. Conhecer a História é conhecer o homem, o indivíduo, a pessoa, inseridos no quotidiano das situações e circunstâncias.


Trabalho como este de um documento, testemunho de vidas e acontecimentos, mergulha-se fundo naquilo que fora sendo esquecido, desvirtuado, tergiversado, tendo como pedra angular os interesses e ideologias. Isto é, o trabalho histórico tem como princípio e essência o resgate da verdade, a recuperação de princípios éticos e morais que se perderam, foram envelados, omissos, escondidos. Em nossa modernidade, a ética e moral estão relegadas, em verdade, a quarto plano, havendo quem defenda que não se é necessário isto, a nossa liberdade é o mais importante. Assim, tudo é permitido. A intenção desse resgate não pode ser interpretado de modo arbitrário, ou seja, o desejo de preservação, conservação do passado, mas que este passado oriente e encaminhe para outros valores, visões de mundo, ajudando-nos à abertura para uma concepção ampla e real da vida.


Assim, a pré-ocupação de José Paulo da Cruz, escrevendo sobre a História de Curralinho, suas personalidades, acontecimentos e situações, é a de uma contemplação da vida de sua comunidade curralinhense, de contribuir com a busca de nossos reais valores, necessidades, urgências, integrando-nos no cenário histórico do mundo e de uma comunidade, seja ela qual for.


José Paulo da Cruz, desde que nos conhecemos há três anos atrás, tornando-me seu secretário, sou quem faz o copy-desk de seus textos, sempre se mostrou homem de conduta idônea e postura ilibada, sendo a sua maior preocupação a de resgatar a história de sua comunidade, ajudar e contribuir para a busca da ética e moral. Homem de princípios sólidos e cristalizados, atitudes e ações fundamentadas no respeito das diferenças e adversidades humanas, sejam nas relações íntimas ou pessoais, sociais ou humanas.


Obra e vida... O comum é vida e obra – assim, o que se coloca em evidência é, em primeira instância, a vida do autor, seus desejos, vontades, sonhos, ideais, utopias, problemas, conflitos, dores e sofrimentos; para depois, o mergulho na obra. Se aqui neste pequeno comentário acerca de José Paulo da Cruz, preocupei-me com a inversão, ou seja, obra e vida, porque o mais importante nele é a visão histórica de sua comunidade, o conhecimento das lutas e dos desejos dos curralinhenses. Assim, lendo os seus inúmeros textos, percebemos com clareza que não é somente os acontecimentos, situações ao longo do tempo que se revelam, se anunciam nítidos, mas a espiritualidade do povo curralinhense se encontra presente em todos os seus escritos. Pode-se dizer com absoluto conhecimento que nos seus escritos conhecemos o homem curralinhense, os seus valores mais recônditos no fundo da alma, as suas virtudes essenciais que lhes garantem a vida eivada de esperanças, de fé na continuidade da vida.
A importância dos textos de José Paulo da Cruz reside na esperança e fé que habitam o povo curralinhense de sua dignidade histórica, de sua verdade essencial. Disse-o e repito-o: ler José Paulo da Cruz é mergulhar fundo na esperança e fé de um povo, no desejo e vontade de Vida, a Utopia do amor e da entrega aos princípios essenciais da vida humana.
Manoel Ferreira Neto: (O9 de maio de 2006)


#RIODEJANEIRO#, 15 DE ABRIL DE 2019#

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