E NA ALMA... IMAGENS!... Manoel Ferreira Neto: CRÍTICA LITERÁRIA



POST-SCRIPTUM

Quarta edição de Razão In-versa - Suplemento-Caderno Literário-Filosófico, setembro/2008, não fazia mais parte do tablóide E agora? Seria a sua primeira edição independente. Dirigi-me à Papelaria Phenix, Curvelo, para encaderná-la. O proprietário, Osmair Calazans, dissera-me que a sua funcionária Ludmila Paixão, jovem de dezoito anos, escrevia poemas, desse-lhe uma chance. Respondi-lhe naquela edição não seria possível, mas na próxima faria o possível. Passou-me ela um caderno muito caprichado com os seus poemas. Li os poemas à noite daquele dia, sentado num barzinho. Arrabisquei um comentário. No outro dia, devolvi-lhe. Retornei a Diamantina.

Na quinta edição, outubro/2008, mês após, esta crítica literária fora publicada, passando ela a ser colaboradora do Suplemento com seus poemas por algumas edições, mas não quis mais fazê-lo, alegando não ter dons e talentos para colaborar com um Suplemento de tão alto nível. Insisti, mas não quis continuar. Soube depois por intermédio de um jovem amigo seu que a família não permitiu que ela se envolvesse com poesia, não queria artista, encontrasse uma profissão digna.
Em Curvelo, acontecem coisas que até o demônio fica de queixo caído.

Manoel Ferreira Neto

Caríssima Ludmila Paixão,

Ser jovem é sonhar; é mergulhar no íntimo, conhecer-se, trazer à luz o que habita a profundidade, iniciar as lutas, empreendimentos, com esforço, perseverança, vontade: “se o Sonho se faz continuamente”, a partir das experiências, vivências, do amadurecimento, que se real-iza no tempo, “a continuidade é também o Sonho”, a vida se fazendo, construindo-se no per-curso das situações vividas.
Jovem, sensível, emotiva, sentimentos e emoções pujantes, a real-idade se revelando, às vezes de modo difícil, frente a inúmeros problemas, sente-se como que perdida, os horizontes se mostram distantes, a vida em passos lentos, o único modo de expressar os sentimentos é tomar da pena e buscar a expressão real e verdadeira do que habita profundamente, definir o que se apresenta confuso, perdido, esclarecer o íntimo, abrindo as janelas da fé, da confiança.

Sonhar não significa estar com esta ou aquela idade, o sonho é dimensão do espírito, é a-núncio de espiritualidade, é re-velação de nossas utopias em direção à vida, aos caminhos que nos levam à transcendência. Jovem, os sonhos são puros, de pureza sublime, originais e autênticos, de onde se contempla e vislumbra a vida. E você, com propriedade, dons e talentos reais, verdadeiros, diz neste poema “(...) basta buscar da mais pura sensibilidade/a ternura e a autenticidade/, da imaginação em continuidade”.

Sonhar é importante, realizar os sonhos, essencial – não se tenha dúvida -, mas, para você, faz-se mister buscar a pura sensibilidade, a linguagem do espírito, o estilo das dimensões sensíveis, ternura e autenticidade, que, comungados, re-velam a poesia da vida, a poesia do quotidiano em relação com as coisas, com os homens e objetos. Sem poesia, não se torna o sonho realidade e sem realidade a poesia não é sonho. A beleza, o belo, a estética do sonho só se fundamentam com o engrandecimento da alma, o desvendamento de fronteiras e limites. Fronteiras e limites são importantes no processo, pois que avivam todas as forças, afloram os desejos mais profundos, e, assim, a luta é mais digna, proporciona concretização. Sonhos “embelezam a vida e trazem dignidade”, mas a beleza e dignidade de todas as coisas que nos habitam trazem-nos a felicidade, a nossa vocação.

Vivemos num mundo de grandes dificuldades, problemas, mudanças de paradigmas que, ao invés de nos ajudar a trans-formar nossas vidas, dar-lhes outros rumos e direções, prejudicam-nos, deixam-nos confusos; hoje, mais do que nunca, precisamos de mensagens, apoios que nos dêem forças e perseveranças, fé, no sentido de continuarmos a vida, de transformá-la. Precisamos de poetas sensíveis, que trazem na alma e espírito a espiritualidade pura, simples, verdadeira, não apenas como recurso poético da beleza, do belo, como linguagem de estilo de sonhos profundos que dentro trazemos em nós, mas para espiritualizar-nos, mostrar-nos a vida em sua essência.

E você, caríssima Ludmila Paixão, mostra-nos isso com perfeição, com este coração de jovem, de adolescente, eivado de grandes sentimentos, de sonhos e utopias os mais esplendorosos, mostra-nos um coração eivado de solidariedade, compaixão, amor aos homens e à humanidade: os sonhos lhe fazem grande, mesmo quando não os conhece em sua profundidade, “mesmo quando são pequenos”, mas você com este talento e dom que alimentam sua vida com suas letras poéticas, torna-lhes grande, preenchendo os vazios, ausências, dores e sofrimentos, revelando VIDA, re-velando AMOR. Vida e amor dão-lhe asas, e você alça vôo, sobrevoando os campos da imaginação, os caminhos do imaginário, as trilhas da sensibilidade em comunhão com as intuições, percepções, horizontes da poética vivencial e vivenciária.

O futuro... Sonhar construir um futuro é antes contemplar, vislumbrar o presente que se nos a-presenta, e nele encontrar a beleza dos sentimentos e da fé. Para que o futuro seja fruto de nossas conquistas, de vermos a VIDA em sua completude e sublimidade, é preciso sabermos, de antemão às revezes, nossa caminhada em direção à espiritualidade. Você bem o diz: o futuro é construído com “magnitude e seriedade”, de que somos capazes, “de que temos em mãos”.

O sonho é “o maior tesouro da humanidade”. Sim, caríssima Ludmila Paixão, e o maior tesouro seu, o que lhe habita a alma e o espírito, é a sensibilidade poética, sensibilidade que encanta, que nos faz mergulhar fundo em busca de quem realmente somos, que nos faz ter fé na vida, na solidariedade e compaixão entre os homens, que nos faz lutar e desejar.
Desejo-lhe, caríssima Ludmila Paixão, que você continue sempre sendo sensível, emotiva, espiritualizada, continuando sempre a escrever suas letras para nos encantar, seus poemas para nos espiritualizar e sermos felizes.

#RIODEJANEIRO#, 15 DE ABRIL DE 2019#

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