#ENTRE PENAS IMAGENS E FOGO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA POÉTICA



Sem rota ou pensamento, numa incerta hora gélida, presumo estar livre de tudo, de atingir qualquer porto propício em acordar memórias, lembranças... e as folhas da palmeira crescem, coqueiro-de-espinho desolado se alteia, cactus do deserto à luz do sol incandescente produz a água que saciará um pouco a sede dos peregrinos. Razão sem razão de me agoniar sobre restos de restos, o resto é devaneio, desvairar é resto de devaneios, inclinar aflito sobre vestígios de vestígios, de onde nenhuma sublimação, nenhum alento vem refrescar as chamas voluptuosas do repensamento. Quando só há lembranças, recordações, ainda menos, menos ainda, tiquinho, nada, nada de nada em tudo, não vale a pena acordar quem acaso se refestela na colina sem árvores, no pico sem castanheiras, nas serras sem orquídeas. Se acaso é res-ponder a enigmas inauditos, somar-lhes um enigma inaudito mais alto, a mistérios interditos, comungar-lhes algumas lendas e causos, tomar um copo dos grandes de suco de graviola numa tarde de temperatura a cinquenta graus, quê inferno, nove horas da noite, o suor escorre-me no rosto, caiu-me no colo. Putz.


Nem a hora que passou logra tornar atrás.
nem a onda que passou voltará de novo a ser chamada,
Com passo rápido se escapa a idade, e não é tão boa a que vem depois, quão boa foi a que veio antes.
Com um olhar introspectivo, circunspecto, havendo num dos olhos um pequeno desvio, só mesmo visto com atenção, se observar bem, a todas as coisas, objetos, e com certa reticência o homem, acrescentar-llhe um inaudito e interdito em uníssono em algumas mentiras e lorotas, saltita, sapateia, dança a dança do nonsense e do orgulho congênito. Imagino que luz ele trará à solidão do quarto na madrugada secreta de sentimentos acumulados, pensa logo que des-cobriu enxada para plantar os grãos de pimenta que arderá por toda a eternidade.


De facto, dispomos penas e imagens em filas, [começando pelas mais curtas, a curta seguindo a longa], a ponto de julgarmos crescerem num declive: assim cresce gradualmente a flauta campestre com as suas canas desiguais. Não pesamos nas penas e imagens, e, demasiado alto, não as queimamos o fogo. Voamos entre as penas, imagens e o fogo.


#RIODEJANEIRO#, 20 DE JANEIRO DE 2019#

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