ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ENSAIA A PROSA #ZURZE À BEIRA-MAR#





Este texto do escritor Manoel Ferreira Neto, fez-me recordar Bernardo Soares, heterónimo de Fernando Pessoa, no qual verbaliza que identificar a existência como um molde de alucinação, e, ao mesmo tempo o próprio Fernando Pessoa em que diz
Que o báratro é o muro que tenho
O abismo é a muralha que possui
“Ser eu” não possui uma dimensão.


Admitir a existência como um formato da aparência, e a alucinação como uma figura da existência, é analogamente imprescindível e tal-qualmente supérfluo. A existência meditativa, para tão-pouco permanecer, frui que ponderar os acasos intuitos como proposições espalhadas de um perfazimento inacessível; mas possui ao mesmo tempo que encarar as casualidades da quimera como em correcto jeito merecedores daquela vigilância a elas, pela qual nos transformamos alheados.


Alguma existência, atinente se encara, é um enlevo ou um obstáculo, uma totalidade ou uma ninharia, uma vereda ou uma inquietação. Apreciá-la cada vez de um modo desigual é inová-la, ampliá-la por si própria. É por isso que o espírito meditativo que jamais ausentou-se da sua terra possui todavia à sua posição o cosmos completo. Num cubículo ou num despovoado encontra-se o eterno. Num rebo repousa –se peculiarmente.


Existe, contudo, circunstâncias da reflexão — e a todos quão ponderam elas acercam — em que tudo encontra-se corroído, tudo arcaico, tudo visado, ainda que encontre-se por contemplar. Porque, por mais que cogitemos qualquer facto, e, ponderando-o alteremos, jamais a transfiguramos em qualquer interesse que não seja matéria de ponderação. Avizinha-se-nos nesse caso a ansiedade da existência, de entender sem ser com a erudição, de pensar somente com os vividos ou cogitar de um jeito palpável ou delicado, do interior do assunto reflectido, como se fôssemos linfa e ele esponjinha. Então igualmente possuem a escuridão, e o quebranto de todas as sensações entranha-se como serem comoções do intelecto, já de si intensas. Mas é uma negrura sem tranquilidade, sem lua, sem astros, uma escuridão como se tudo tivesse sido invertido do oposto — o eterno convertido privado e acanhado, a claridade feita enchumaço escuro de um vestuário ignoto.


Mais vale, anuência, mais vale constantemente ser a indolente compassiva que idolatra e ignora, a chupista que é nauseabunda sem o perceber. Desconhecer como existência! Experimentar como deslembrança! Que casos sumidos na trilha viçosa alva das embarcações abaladas, como um salivar enregelado da rédea alta a assistir de nariz sob a vista das alcovas desusadas!


Termino esta superficial análise, intrincada de perceber se certa ou menos certa, em virtude dos textos do autor, poder-nos conduzir a várias análises…com uma frase do seu texto…
Reminiscências de prata na faringe. Covil de sabre o isolamento perturba, imensidão. Reminiscências de riqueza, delineando caminhos distantes, contemplar. Flagela à borda , o maleável de fervores.


Ana Júlia Machado


Começa você dizendo, querida amiga Ana Júlia Machado, haverem-lhe eu e o texto feito lembrar Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa. E você fez-me lembrar um amigo, professor de Literatura na Universidade de São Paulo, Antônio Pasta Júnior, quem escrevera uma tese de quatrocentas e cinquenta páginas com a primeira frase do romance O ATENEU, Raul Pompéia, quando você diz "com uma frase do seu texto..." pode-se analisar e interpretar não apenas o texto em questão, mas a obra reunida. Isto é inconteste. Toda a obra é complexa, hermética, toda a obra é aberta a centenas de milhares de interpretações e análises. Minha mãe-Dinha sempre dizia em outra situações ad-versas: "Pretinho(meu apelido de família) não é fácil..." Creio até que trouxe para a obra esta frase dela: "Não sou fácil mesmo."


As suas análises, críticas, interpretações, comentários ultrapassaram tais categorias e transformaram-se em ENSAIOS, tal a percuciência de suas visões eidéticas, são faces da obra(pensamento/idéias, filosofia e literatura estéticas) refletidas no espelho. Quem no futuro se propuser a estudar a obra haverá de colocar o seu trabalho, de minha Esposa e Companheira das Artes Graça Fontis e da amiga Sonia Gonçalves em instância primeira, pois que vocês compreendem e entendem a obra com perfeição. Hoje só atribuo a vocês três o Conhecimento de minha obra, não há mais quem. E é com vocês três que a cada passo vou-me conhecendo melhor como escritor.


Quanto ao Ensaio sobre a Prosa #ZURZE A BEIRA-MAR#: PERFEITO.


Beijos nossos, querida Aninha Júlia!


Manoel Ferreira Neto


#ZURZE À BEIRA-MAR#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PROSA


Memórias de prata na garganta. Toca de zinco a solidão inquieta, mar. Recordações de ouro, traçando rumos ausentes, olhar. Zurze à beira - mar, o flexível de ardores.


Cinismo roubando a voragem de ideia. Garganta. Mar. Olhar. Luz de rojo despindo sorrisos. Diamantes na infâmia das ambições. Encharcam olhos de Zéfiro. Memórias de enxofre a julgarem que há um olhar comendo as acácias.


Tomba das mãos o cálice. Memórias de sódio postas à margem de todos os banquetes. Debruçam pálidas em todas as loucuras. Memórias de ferro salvando a humanidade do vaso de tumultos. A fumaça deflora o espaço.


Sete águas descendo as encostas do rio - abaixo as docas, pequenas e devolutas ondas... Sete águas derramam no universo a rebeldia e insolência. Sete águas descendo o dorso das montanhas - embaixo, pedras, montes de terra. Sete águas gotejam - húmus do ingênuo, inocente.


Esquecer o sono, acordando o processar das trevas - a narrativa do tempo nas janelas entreabertas; o repouso, despertando o desenrolar da noite; a história da madrugada no vão de todas as portas; a distância, silenciando gestos incompreensíveis; vácuo cerzindo o solitário, apresentando a perda.


Lembrar-me de a fantasia ser vasta, embora caiba num ponto do silêncio. De haver um lampião na luz, a loucura refulge num delírio. De consagrar uma escultura sem sentença direta, um grito agressivo.


De a boca apreciar certo detalhe do corpo sinuoso. De trocar desatino a beleza que perdura. De cingir a morte, sepultura, do olhar; areia rebocando de por trás do inverso.


#RIODEJANEIRO#, 17 DE JANEIRO DE 2019#

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