#DIALÉTICA DA CRIAÇÃO E DO AMOR ENTRE OS DIVINOS TRÊS# (UMA LEITURA DE ‘A SANTÍSSIMA TRINDADE É A MELHOR COMUNIDADE, LEONARDO BOFF) GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: DISSERTAÇÃO EM TEOLOGIA



I PARTE E


A beleza da criação também ocupa um lugar na liturgia. E não pode ser de outra maneira, pois que tudo isto é uma mensagem e um Dom, trazidos para nós pelo Verbo do Pai. Tudo aponta para o Cristo: “Nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis... Tudo foi criado por ele e para ele... Aprouve a Deus reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos céus”.
Inspirar-se no sonho de Jesus, o Reino, que se realiza já na história, começando pelos últimos e sempre onde houver verdade, justiça e amor. Falar de Deus e de sua graça a partir da experiência do mundo, da história do sofrimento e da certeza que a última palavra não é morte, mas vida, não é cruz mas ressurreição.


"A solidão é o inferno. Ninguém é uma ilha. Estamos cercados de pessoas, coisas e seres por todos os lados"


Jesus pregou o Reino de Deus e não a si mesmo. Reino constitui a palavra-esperança, a realidade do mundo e do homem, pecadora e decadente, transfigurada, reconciliada e sanada pela raiz pela vinda de Deus. Reino não significa o outro mundo, mas este mundo agora feito senhorio pleno de Deus, onde Javé se faz presente e banindo tudo que é adverso, maligno, mortal, anti-divino e anti-humano. Esta esperança, que arranca do fundo utópico mais pro-fundo do coração e da história, é feita objeto da pregação de Jesus.


A verdade da fé só pode ser captada dentro da perspectiva da esperança. Porque a esperança não apenas aponta a meta da fé, mas – o que é mais importante – a esperança é a força intrínseca da fé que faz as pessoas caminharem com Deus, procurarem sua presença e sua glória, e se dedicarem à obra e ao evento permanentes do seu reino. Assim como a revelação e a promessa são inseparáveis, a fé e a esperança também o são.


Cristo nunca será contradito pela história. O Filho de Deus, Cristo Jesus, proclamado pelos apóstolos, “não foi sim e não, mas unicamente sim. Todas as promessas de Deus encontraram nele o seu sim; por isto, é por ele que dizemos “Amém” a Deus para a glória de Deus” (2Cor 2,19-20). Somente Cristo, e ninguém mais, é nossa esperança; ele é o fiel. Mas ele é também o Senhor da história que continua a sua obra. Portanto, ‘a esperança cristã espera do futuro de Cristo não só a revelação, mas também a plena realização” (Moltmann). Não esperamos de Cristo uma repetição eterna, porém a fidelidade de nosso Criador e Salvador, que reserva para nós grandes surpresas.


Karl Rahner fala da “liberdade da esperança criativa”. A liberdade que se mostra fiel ao senhor da história “nunca pode ser uma repetição, nunca pode ser uma cópia dos mesmos modelos... A liberdade finita também é liberdade criativa numa história autêntica” (Karl Rahner, Grace in Freedom).
A esperança fortifica a fé e preserva o fiel da timidez. Ela é o “sim” total à nossa vocação de seres ativos e atuantes na história da salvação. A verdade libertadora da fé só pode ser apreendida dentro da perspectiva da esperança. Por isto, só conseguem captá-la aqueles que, pela força interior da fé, manifestam sua esperança criativa e fielmente.


À luz da escatologia, somente uma visão assim da fé e da esperança, ativas no amor, pode corresponder à visão básica da Bíblia, bem como à plena consciência que o homem moderno possui da evolução e da história” (Teilhard de Chardin, The Future of Man). O Espírito humano ainda está no processo de evolução, e o aspecto mais importante desta evolução permanente é o crescimento da consciência do homem como percepção de que a pessoa humana é chamada a uma liberdade e a uma responsabilidade maiores na esperança. Há duas dimensões inseparáveis: a gênese da humanidade no mundo e a gênese de Cristo na humanidade. A grande mensagem e o grande acontecimento que a esperança exprime e proclama é o seguinte: “a vida é para o homem, o homem é para Cristo, Cristo é para Deus”


A esperança cristã possui uma dimensão trinitária. Ela é um louvor responsável ao Pai que continua a obra que começou na criação e que o levará ao seu pleno desabrochamento. Ela louva o Pai pela ressurreição de Cristo como um sinal de seu poder e fidelidade, e louva o Deus crucificado em Jesus Cristo, em quem Deus, “como se fosse um de nós” (o Filho do Homem), carrega o fardo da humanidade e vence todos os inimigos, inclusive a morte. E ela louva o Espírito Santo que nos capacita a sermos participantes fiéis e criativos que se dispõem a prosseguir o desígnio de Deus.


As dimensões da esperança cristã abrangem o mistério da Encarnação, da cruz, da ressurreição e de Pentecostes. A esperança honra através dos profetas, tendo sempre em vista Cristo Profeta. Os crentes meditam os textos carismáticos, as palavras e as obras dos profetas à luz de Pentecostes, confiando no Espírito Santo. Assim, os textos carismáticos que predizem acontecimentos futuros têm sua influência no presente, e as palavras dos profetas que interpretam o presente exercem seu efeito sobre o futuro.


O reino da esperança não admite crescimento automático; é graça e tem de crescer dentro da liberdade e mediante a conversão permanente. Teilhard de Chardin é freqüentemente criticado por não fazer distinção entre evolução e história, e, conseqüentemente, por não ver o principal caminho para a liberdade. Considero tal crítica injusta. Ao mesmo tempo que Chardin vê a única e grande realidade da evolução preparando a história, também a vê à luz da liberdade divina que pode criar e amar. E, na verdade, ele encara a liberdade à imagem e semelhança de Deus como a meta oculta e a eventual realidade da evolução. “A evolução, pelo próprio mecanismo de sua síntese, traz em si um grau crescente de liberdade”. Como tal perspectiva mostra que toda a evolução e toda a história têm seu centro em Cristo, que está totalmente livre para Deus e para o homem, daí decorrem uma esperança sempre nova e até a experiência de que a verdadeira liberdade não só é possível, mas é “também o impulso essencial sem o qual nada pode ser feito. Precisamos de um desejo apaixonado de crescer, de ser...


A vida é uma incessante descoberta; a vida é movimento”.
O próprio Senhor Jesus diz-nos claramente em sua oração o que deveríamos desejar e esperar. No “Pai-Nosso” ele nos ensina a oração da nova família. Aí, a esperança pede primeiramente a coragem para vivermos como filhos do único Deus e Pai de maneira tão autêntica, que possamos realmente exclamar: “Pai-Nosso”. E, pela coragem com que cremos que em Cristo somos chamados filhos de Deus, podemos esperar que, mesmo aqui na terra, possamos honrar o Pai, único e comum, promovendo a fraternidade entre todos os povos e entre todos os homens. Isto implica a disposição resoluta de agir com grande paciência, confiando na fidelidade de Deus e sabendo muito bem que a manifestação final e completa só virá ao término da história.


#RIODEJANEIRO#, 26 DE JANEIRO DE 2019#

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