#DIALÉTICA DA CRIAÇÃO E DO AMOR ENTRE OS DIVINOS TRÊS# (UMA LEITURA DE ‘A SANTÍSSIMA TRINDADE É A MELHOR COMUNIDADE, LEONARDO BOFF) GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: DISSERTAÇÃO EM TEOLOGIA




I PARTE D


Completamente preso pelo mistério da cruz, Bonhoeffer escreveu também um ensaio de vida espiritual muito edificante: Nachfolge, que tem por tema a imitação de Cristo. Imitar Cristo constitui a essência da vida cristã. Ora, imitar Cristo “significa aderir só a ele, imediata e totalmente”, e imitá-lo totalmente significa reproduzi-lo em todas as fases da sua vida, na encarnação, na crucificação e na ressurreição. Porém, na vida presente o discípulo deve exprimir sobretudo os dois primeiros mistérios, porque Cristo na terra foi sobretudo encarnado e crucificado. Como Cristo encarnado, o cristão não deve ser um monte, um segregado, um estranho em relação ao mundo; mas deve viver no mundo, penetrar no mundo, aceitar toda a realidade mundana. Como Cristo crucificado o cristão é sobretudo o homem do sofrimento, da cruz, do martírio.


Certamente, o cristão possui a graça, mas esta não o exime do sacrifício e das boas obras, proque a graça de Cristo é “uma graça que custa”. Não é uma coisa cedida “barato”.
A metáfora do mundo como montanha e da montanha como doadora de vida materializam-se na pirâmide com uma literalidade espantosa ( o Senhor nos ensina no Sermão da Montanha que o espírito da nova aliança convida-nos a ser a bondade em pessoa como o Pai celestial é todo bondade, estendendo sua misericórdia tanto aos justos como aos pecadores [ Mt 5,48]. “Vosso Pai celestial é bom para com os ingratos e os maus. Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” [ Lc 6,35-36] ) - como tudo terminaria, num único ponto solitário, significa, numa experiência prática, "Se o Ser se faz continuamente, a continuidade é também o Ser", como bem o diz Dr. Paulo César Carneiro Lopes, na Introdução de sua tese de mestrado, "UTOPIA CRISTÃ NO SERTÃO MINEIRO - UMA LEITURA DE A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA , DE JOÃO GUIMARÃES ROSA". A beleza é uma experiência de purificação que nos permite conhecer as coisas como elas são de fato, em seu mistério.


Não podemos exaltar a graça de Deus e viver de acordo com sua lei, se não apreciarmos todos os dons de Deus, principalmente a beleza e a paixão do homem pela beleza, tal como Platão e outros grandes pensadores a cantaram. O eros é a ascensão às alturas mediante o poder atraente da beleza do bem e do verdadeiro.


Não posso, em hipótese alguma, deixar de manifestar a discordância de Rudolf Bultmann quando escreve que “a idéia do belo não possui significado vital para a fé cristã”. Ele vê no belo “a tentação de uma falsa transfiguração do mundo que desvia a atenção da transcendência”. Para ele, a arte não revela a fé cristã nas profundezas de sua realidade, pois esta “não pode ser captada através de uma avaliação desinteressada a respeito dela, mas apenas mediante o sofrimento”. É claro que não podemos ignorar a escola do sofrimento a serviço do próximo e as dores de parto na esperança de um mundo melhor.


A arte sacra, particularmente na liturgia, representa um meio importante na proclamação da Boa Nova da Salvação. Por isso, ela tem de ser fiel aos mesmos requisitos que atingem o kerygma e a liturgia, embora de acordo com seu caráter específico e dentro dos padrões que regem o belo. É chamada, sobretudo, a ser fiel aos sublimes mistérios que pretende glorificar e proclamar. A arte sacra, no seu estágio mais nobre, refletirá a misericórdia do Verbo de Deus, que aceitou fazer-se servo humilde e modesto. Por um lado, ela sempre deverá evitar o inautêntico, o superficial e fútil, pois que, aqui, o contraste provocado por um gosto mau ou equívoco deixa marcas profundas. Por outro lado, enquanto a verdadeira integridade artística o permitir, a arte sacra precisa adaptar-se aos gostos e aos sentimentos das pessoas. Logicamente, isso exige muitíssimo dos artistas. Em todos os tempos, a arte religiosa tende a promover um novo encontro com tudo o que há de vital e vivificante no espírito da época; mas, em todos os tempos, no seio da maioria de nossas culturas mais dinâmicas, tal encontro suscita, em inúmeros níveis, problemas críticos para a arte sacra.


Para toda pessoa, a experiência do belo abre caminho, de maneira singular e inevitável para uma experiência de valor, para o bem como doação gratuita, para a bondade e para a verdade, no esplendor atraente e específico de cada um deles.


No autêntico encontro com o belo, transcendemos o reino do lucro e da utilidade. Igualmente, deixamos para trás uma moralidade que fala a linguagem de um “tem de ser” totalmente destituído de atrativo. Aqueles que conhecem a beleza jamais escolherão uma moral do “tem de...” separada de qualquer valor. Ao contrário, com admiração, gratidão e alegria, percebem o belo em toda a sua delicadeza e finura, e não tardam a descobrir que a beleza na natureza e na arte abre novas perspectivas para a corrente de beleza que irriga a terra através da sensibilidade moral de seus povos.


Como a beleza é simples e plenamente um Dom, nossa relação com ela é irrestrita. No entanto, a verdadeira gratidão, que nos torna capazes de nos regozijarmos com ela, leva-nos a cultivar o belo em nossa vida. São necessários espaço e tempo na organizaçào de nossa vida, não apenas ao lado de outras dimensões, porém, como uma força formativa de todas as outras facetas da existência.


A moralidade da beleza é algo de muito mais profundo do que a moralidade do “tem de...” e do “deve”. Sua experiência é inevitavelmente pessoal, e consiste num modo suave e agradável de encarar a vida. A plenitude do ser é experimentada como uma dádiva beatificante, como um convite atraente que solicita uma resposta de amor. Qualquer pessoa que admite o belo em todas as suas dimensões, ao assimilar sua mensagem, sabe que a vida possui um sentido e que constitui uma oportunidade e um dom maravilhosos. Quem, por exemplo, pode comover-se com a majestosa beleza das obras de Dostoiévski, Machado de Assis, Lúcio Cardoso, sem experimentar a presença da plenitude, e não achar que a vida vale a pena ser vivida? A fragrância e a beleza de uma única flor, assimiladas com gratidão, aproximam-nos mais do doador de todas as dádivas boas.


Como a criação é essencialmente um Dom imerecido, um sinal da bondade de Deus, sua beleza só pode ser percebida por aqueles que exaltam a Deus em suas obras. A beleza é uma prerrogativa essencial da criação e da redenção, já que todas as coisas provêm do amor e do poder superabundantes de Deus. Tudo o que Deus cria e faz proclama sua beatitude e santidade; e seu povo pode compartilhar de sua glória e regozijar-se com ela por meio do louvor e da ação de graças. Sabendo que fomos criados pelo amor e pela liberdade infinitos de Deus, nossa gratidão e admiração incessantes permitem-nos descobrir e acolher a beleza em qualquer lugar onde nos encontremos.


#RIODEJANEIRO#, 26 DE JANEIRO DE 2019#

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