**ZAGAIA NO TEMPO DO NADA** - Manoel Ferreira


Nada digo, digo nada. Nada escrevo, escrevo nada. Nada olho, olho nada. Nada vejo, vejo nada. Nada desejo, desejo nada. Nada observo, observo nada. Nada crio, crio nada. Nada re-crio nada. Nada con-templo, con-templo nada. Não ouço, ouço nada. Nada sinto, sinto nada.
Nada de nada. Nada de verbos. Nada de inspiração. Nada de ilusões, quimeras, fantasias. Nada de melancolias, saudades, vazias. Nada de angústias, tristezas, náuseas, Nada de passado, presente, futuro. Nada de desejos, vontades, esperanças, sonhos. Nada de palavras, semânticas, linguísticas. Nada de sátiras, crônicas, comédias. Nada de alvorecer, crepúsculo, entardecer...
E me perguntam como sei tanto do nada, admirado quem quis isto saber. Nada sei do nada. Nada sei de nada. O nada aqui na madrugada. Nada de utopias, ideais, projetos. Nada... Nada no peito, nada na alma, nada no espírito. Nada com invisíveis relâmpagos me atinge, vem, vem, amada verdade do nada. Nada de absoluto, nada de eterno. Nada de in-finito, uni-verso, horizonte.
De nada Deus lhe pague. De nada Deus o abençõe, proteja nas sendas e veredas de nada. De nada Deus lhe inspire para debulhar as contas do terço, rogando o nada como único pertence para seguir as trilhas sem margens, sem extensão, sem poeiras metafísicas, sem psicanálise metafísica do inferno. De nada Deus o ilumine para versejar, versificar a meiga insolência da morte, sagrado coração do nada, as meiguices insolentes do inferno nas chamas do caldeirão. De nada Deus o santifique para escrever os dogmas e preceitos da bíblia cristã, da bíblia pagã.
Será que a pessoa quem num comentário perguntou-me como sei tanto do nada faria esta mesma pergunta? Questionaria com critério e categoria: como pode nada saber do nada? Responder-lhe-ia: "Nada sou e, sendo nada, nada posso saber do nada" Nada de verdade, in-verdade, mentira. Nada de pés na estrada rumo ao in-finitivo do verbo nada, com aquele sentimento de nada que ele se tornará a etern-idade, a vida eterna. Nada de risos, sorrisos no tempo de Zagaia, nada de galhofas, ironias, sarcasmos, cinismos com o tempo do Onça que se explende a todos os nadas, esperando encontrar o templo do nada absoluto.
E se nada você entendeu, compreendeu, tente sentir profundamente o Zagaia no tempo do nada senão fique curtindo o vazio do nada. Nada de vazio, nada de vácuo, nada de abismo.



Manoel Ferreira Neto.


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