(TESE) - EFÊMERO E O NADA - ENSAIO POIÉTICO DOS CAMINHOS DA LUZ - Manoel Ferreira

IV  CAPÍTULO - O NADA E A ARTE LITERÁRIA


4.3 - LUZ DO VERBO DO SER POÉTICO


Os poetas nos levam com frequência entrar no mundo das algazarras, barulheira dos impossíveis, de uma impossibilidade tal que bem os podemos rotular de quimera sem interesse. Sorrimos e passamos, olhamos de esguelha. E, entretanto, muitas vezes, o poeta não tomou seu poema como um jogo, pois que há-de existir ternura, singeleza, carícias nas imagens.
Tais imagens devem, ao menos, ser tomadas em seu ser de realidade de expressão. É da expressão poética que é tirado todo o seu ser, a expressão poética habita no In-finito sob a luz do verbo do ser poético, a realidade de expressão se revela no espaço poético do In-finito. Diminuiríamos seu ser se quiséssemos relacioná-las com uma realidade, mesmo uma realidade psicológica ou mesmo uma realidade que o nada trans-literaliza na sua contingência intencionando a trans-cendência. Elas dominam a psicologia. Não correspondem a nenhum impulso psicológico, afora a pura necessidade de exprimir, num lazer do ser, quando se escuta na natureza, tudo o que não pode falar, assim o inaudito se revela.
É supérfluo que tais imagens sejam verdadeiras. Elas são. Têm o absoluto da imagem. Ultrapassaram, trans-cenderam o limite que separa a sublimação condicionada da sublimação absoluta.
Mas, mesmo tomando em consideração a psicologia, tendo-a como pedra de toque, uma trans-ferência das impressões psicológicas à expressão poética é, por vezes, tão sutil que somos levados, tentados a dar uma realidade psicológica de base ao que é pura expressão.
Como os grandes valores do ser e do não-ser são difíceis de situar! Estivéssemos situados na con-ting-ência, no nada, talvez pudéssemos situá-los através do efêmero, mas a poesia é trans-cendência. O silêncio, onde está sua raiz - o silêncio é dimensão do In-finito, é parte integrante nele, habita-lhe -, é uma glória do não-ser ou uma dominação do ser? Ele é "profundo", profundidade abissal. Mas onde está a raiz de sua profundeza? No uni-verso onde rezam suas preces as fontes que vão nascer, ou no coração de um homem que sofreu, sentiu dores inestimáveis assistindo os efêmeros desembocarem no nada, esvaecerem-se nele? Em que altura do ser devem aguçar-se os ouvidos que escutam?
Quanto a nós, estamos na posição incômoda da dialética do profundo e do grande; do in-finitamente reduzido que aprofunda - redução decorrente do vazio que se revela no esvaecimento do efêmero no nada, ou do grande que se estende sem limite, o grande estende-se intencionando re-colher e a-colher no espaço poético do In-finito o Verbo do Ser poético.
Todo sonhador solitário sabe que ouve de outro modo quando fecha os olhos. Para re-fletir, para escutar a voz interior, para escrever a frase central, condensada, que vai ao "fundo" do pensamento, quem não põe a mão na fronte e aperta as pálpebras com pressão forte? Então o ouvido sabe que os olhos estão fechados, sabe que a responsabilidade, o compromisso do ser que pensa, que escreve, está nele. A calma virá quando a pessoa reabrir as pálpebras.
Colhendo todos os documentos da fantasia e dos devaneios que gostam de jogar com as palavras, com as impressões mais efêmeras, confessamos uma vez mais uma vontade de permanecer superficiais. Exploramos apenas a camada mais fina das imagens nascentes. Não há duvidar, a imagem mais frágil, mais inconsistente pode revelar vibrações profundas. Mas seriam mister indagações em outro estilo para separar a metafísica de todos os "além" de nossa vida sensível. Para dizer como o silêncio trabalha simultaneamente o tempo do homem, a palavra do homem, o ser do homem, necessitaríamos de mergulhar no mundo do silêncio, que é tema futuro.









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