**RECHEIO DA AMPULHETA** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA



Epígrafe:


"O recheio da ampulheta é o Verbo.(Graça Fontis)"
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A pena não mais desliza livre e espontânea
No branco silêncio da página,
No silêncio branco das letras e metáforas,
Penso a pena que me pensa
E, pensando a pena que me pensa,
Não penso a pena a penas,
Por toda parte é bem singular à mística
Re-verter o conceito na contemplação,
Con-templando o branco silêncio da página,
Percebo o milagre de que
"Eu sou"
E de que existe todo um mundo que se
Dá a mim...
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Melífuas dimensões...
Na ampulheta, do tempo, o efêmero
Cinzas do eterno, pó de pretéritos
Poeiras de outrora metafísico conciliado
Ao jamais indizível de saudades nostálgicas,
Sombras de saudosas re-cordações,
Inter-ligadas, entre-laçadas, grudadas
A aspirações outras,
Não ornamento o trabalho com tarefas,
Para um hoje generalizado,
Parto de meu "eu sou",
A origem espiritual,
Aliás, fáctica,
O existir se desencadeia,
Credenciais melancolias preliminam
De melodias ad-nominais de subjuntivos
Sons dissonantes perpassando frinchas
De horizontes por onde as retinas do porvir
Dos espíritos gerundiais das crassas agonias
Das almas infinitivas exasperadas com o fluxo
De angústias à luz difusa da leveza
Do ser sobrelevando tristezas e vazios
Linguística do subjuntivo de subjetivas
Inspirações versejando do belo e estesia
Plástica percepção versificada de dúbios
Símbolos dos volos da perfeição
Esperança da verdade eivada do vir-a-ser
De lácias poéticas da alma carente
Inconsciente solitário de genesis
Da anima, animus do sublime
Verbo-espírito, lúdicas imagens do clímax
Ad-nominado aos dogmas do pecado original
E nada de náuseas numinando
Os baldios terrenos da psique
Inóspitos becos sem saídas do não-ser...
Postura estranha, estrangeira, esquisita
À realização,
Tudo isto nem existe:
O jogo, a música, o quadro,
A religião.
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Tarde de primavera, ser de leveza
Da chuvinha que cai lenta e silenciosa,
Umedecendo com seus pingos finos,
Frios, os recônditos de interstícios
Vestígios de sendas do inexpugnável
Vestígios de veredas do inolvidável,
Por último,
Vertentes de pensamentos e ideias
Mancomunados à feitura dos ideais,
Cujas origens são deles,
Este é o meu chapéu/Este é o meu boné,
Estes são os óculos por cujas lentes de grau,
Enxergo e vejo o mundo, a terra,
A mente não cria,
O intelecto não recria,
A sensibilidade não se inventa,
A razão exausta de questionamentos,
Desejos, esperanças utópicas da linguística
Do prazer corpóreo do ininteligível
Mergulho abissal, abismático,
Além das fronteiras e bordas do sensível,
Além das cercas de arame farpado da razão,
Do Logus,
Declino os lácios latinos das emoções,
Declino a última flor latina dos sonhos,
Ser, estar, ficar, permanecer
No sono, a seiva das energias,
Nestes lácios latinos, o verbo segue o sujeito,
Depois os seus complementos,
Estivesse o verbo no final do verso,
Não seria abertura para inéditas diretrizes dos
Sonhos e suas imagens oníricas?
A cada Língua
As suas características íntimas, particulares


#riodejaneiro, 30 de novembvro de 2019#

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