ESCRITOR -POETA E CRÍTICO LITERÁRIO Manoel Ferreira Neto ENSAIA O POEMA #OBSCURIDADES DO POEMA# DE ANA JÚLIA MACHADO




Aninha Júlia... Aninha Júlia... Aninha Júlia... O que é isso, minha Amiga! Não há palavras de modo algum que possa mostrar poucochito que seja a surpresa, o espanto, a admiração por este poema. Veja bem, estremeci-me, aquelas cositas geladas que perpassam a espinha, calafrio, há aquele estremecimento. Obra-prima em todos os níveis que se quiser ensaiar a sua profundidade, num deslizar de dons, talentos, sensibilidade, sentimentos, emoções, sobretudo o artificiar das ideias, sentimentos, pensares, "... na senda sem perceber o que compor.
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Contemplando o eterno." Isto chamaria eu de "colocar" o ato de pensar a existência, os questionamentos e dores da alma em "parênthesis", cabendo à poesia representá-los, dizê-los, como bem demonstram estes versos "Jornadeando constantemente com as ramificações fendas
Para a imensidão, alvos e áureos ornamentos
De estilo idade e espírito". Coloca entre parêntesis o ato de pensar, para dizer a alma jornadear, mas com a intenção fundamental de resgatá-lo, e neste "resgate", o pensar alia-se à poesia, buscando-se as suas obscuridades, "ornamento de estilo e uma navalha
Que enovelada já não aniquila..." O pensar não aniquila os "espectros e absurdos do pretérito, sim ilumina a procura de "...(...) as estirpes do apego" e o enigma inerente da existência" que se revelam na continuidade do tempo.
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Há-de se tecer esta colocação do "entre parenthesis" do ato de pensar. Não o fazendo, "... a vereda da querença e dos devaneios, atingindo os adejos entre as ansas da inspiração" não seria revelada, e é justamente as ansas da inspiração que podem des-cobrir o enigma da "inerente existência" , a vida fáctica, "... A idade fracturada avassala o endeusado
local e à querença lega-se habitar.../Exclusivamente o suspirar das vagas do sem-fim..." A vida fáctica não é sustentada por nenhuma metáfica, ela se precipita num vazio e se choca com a inerência da própria existência, como assim revela esta personagem do poema, refletindo, meditando as suas contingências, dores, sofrimentos, "Para ela alguns caminhos mais,
algum dialecto submersível a impele...", mas na poesia pode recuperar o apego à existência, pode retornar à vida, cortar seus caminhos de fuga, verbalizar no seu âmago, contemplar o eterno. Questionar a si mesma e à vida e às realizações decisivas é o conceito fundamental de toda a mais radical iluminação.
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O ato de pensar e a poesia estão em in-vestigação. Mister colocar o ato de pensar entre parênthesis para con-templar a poesia, e depois recuperar o ato de pensar como o que ilumina as obscuridades do poema, então a revelação da inerente existência, ser-isso-aí.
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O que surpreende, espanta os "ornamentos de estilo" da poetisa Ana Júlia Machado, e fora justamente este espanto que ilumina a inspiração na investigação do "suspirar nas vagas do sem fim", ou seja, a ansa da descoberta do apego às dimensões do sonho, do desejo da Vida. O auto poema aqui se artificia na poema investigando a sua alma, e o homem investigando o seu próprio existir diante das con-tingências.
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Como bem o dissera a pintora, escritora e crítica literária, Graça Fontis, lendo este poema "Isto é que é poema... Isto é que é poesia". Meus cumprimentos, Ana Júlia Machado, por esta obra-prima da Poesia e da Filosofia aderidas.

Manoel Ferreira Neto
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Obscuridades do poema
Caminha a claridade aparece a escuridão,
ela descobre-se em passada vagarosa...
Jornadeia ilharga a ilharga com você
como o nevoeiro da escuridão.
Indo sem desígnio sem entender para aonde marchas...
Desnorteia-se na senda sem perceber o que compor.
Contemplando o eterno...
A idade fracturada avassala o endeusado
local e à querença lega-se habitar...
Exclusivamente o suspirar das vagas do sem-fim...
Provavelmente desta meditativa vereda,
reflexão do seu espírito.
Os análogos espectros misturam-se
pela beira-mar, nos absurdos
Bisados entre a avidez e o ofusco anseio...
Da sua alma.
Mas regressa mansamente pelas vias lentas...
Jornadeando constantemente com as ramificações fendas
Para a imensidão, alvos e áureos ornamentos
De estilo idade e espírito, um orvalho persistindo no ambiente
Cursa o trilho do Norte...
A sua Lezíria, os indícios e as sedas que ali permutaram-se...
Nessa perfeição inquirem-se restituir no idioma do bem-querer.
Para ela alguns caminhos mais,
algum dialecto submersível a impele,
Requestando-te por entre pretas
arroladas sem seus cabelos eriçados...
Compridas, esguias, débeis e sublimes como as contas...
O avistar-te pelos seus desmedidos olhos cerúleos.
Então verbaliza no seu âmago
Jornadeio meu bem-querer, para tocar essas conchas,
esses peixes lesáveis
Que são as tuas garras...
E, igualmente como fantasiar-me...
Tapada de toucas e ornamento de estilo e uma navalha
Que enovelada já não aniquila...
E minhas ofertas de ouros e carpos odores peculiares e deleite.
Ateou-me a recordação desse lugar e, pela reflexão...
Procurou amaldiçoar “os espectros e absurdos”
do nosso pretérito,
De ganância que injuriaram o solo ilhéu...
Simpatizante a vereda da querença e dos devaneios,
Atingindo os adejos entre as ansas da inspiração
Nos poemas procura descobrir outra vez “as estirpes do apego”
E o enigma da sua inerente existência

Ana Júlia Machado

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