ÁGUAS DE VERÃO - Manoel Ferreira
Passo Ano Novo
sempre em Curvelo com a minha “Preta”. A minha vida como homem e escritor é
Curvelo – desde 2003 que desconheço única vez que tenha desfrutado dias lá
longe de literatura, de carreira artística, minha vida lá acabou sendo só isto,
mas com ela descobri muitos amigos, sentindo-me feliz. Aconteceu de em 2008 não
ir passar o Ano Novo, sai do hospital em 31 de dezembro com mais um enfarto,
três dias no CTI.
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Na passagem de
2009 para 2010, sábado 02 de janeiro, tive uma grande alegria na Padaria Bel
Pão. Fomos “Preta” e eu tomar café por volta das oito horas da manhã. Com quem
me encontro? Encontro-me com Toninho Fernandes, Dr. Antônio Fernandes Drumond.
“Preta” ainda não o conhecia. Convidei-o para o evento de 1º aniversário de
Razão In-versa na Casa de Cultura, não pôde comparecer, estaria viajando na
época, mas mandou sua secretária como representante.
Toninho e eu
somos amigos há muitos anos, desde adolescentes, creio havermos sido colegas de
colégio. Não éramos próximos. Razão In-versa tem-me aproximado de várias
pessoas a quem conhecia, mas não tínhamos relações. Não apenas devido a serem
meus leitores, admiradores, pelo renome na comunidade curvelana, mas por
sentimentos verdadeiros de amizade, carinho.
João
“Comunitário” tem estado sempre presentes em meus eventos desde a apresentação
da peça Pedaços de mim no Sindicato dos
Trabalhadores, presenciando serem muito poucos os presentes, dizendo-me: “Não é
número de presentes que faz a importância de um artista, de um escritor. Em
seus eventos, Manoel, percebe-se serem os presentes pessoas de cultura,
intelectuais, seus amigos verdadeiros”, respondendo-lhe eu: “Com efeito, em
meus eventos a hipocrisia não comparece”. Não saberia dizer se os hipócritas
sabem que “a hipocrisia não tem um leito de flores no regaço de minha alma”,
mas não comparece, sentir-se-iam “peixe-fora-dágua”; no meio de pessoas sinceras,
amigas, cultas, intelectuais, sem interesses, como se sentiriam? Sabem e
conhecem a verdade dos artistas, mesmo que diplomaticamente tratamos com finesse a todos, mas sabemos das
idoneidades escusas e espúrias.
Infelizmente,
alguns curvelanos, quando se trata de uma personalidade de renome cultural,
artístico, intelectual, político, enfim em todos os níveis, estão sempre
presentes, oportunidade de se sentirem importantes, jamais lêem única letra de
uma obra lançada.
Desde o início
de Razão In-versa, Toninho Fernandes vem adquirindo todas as edições. Não me
recorda quando dissera: “Manoel, adoro o título de seu Suplemento, Razão
In-versa. Jamais haverá outro tão sugestivo, diferente. Você estava mesmo
inspirado quando o criou”. Comentários neste nível já ouvi de diversos
leitores, são verdadeiros, mas outros não foram explícitos sobre a inspiração,
sobre a criatividade. Toninho Fernandes é homem de inteligência incomum,
excelente advogado, e gosta mesmo de ler, e quando diz respeito à minha obra
tem prazer em sua leitura, como noutra ocasião me dissera: “nós temos a
obrigação de reconhecer os grandes talentos de nossa comunidade, a você então é
necessário reconhecer, sua obra é mesmo especial”. Títulos devem ser mesmo
chamativos, pois que são os responsáveis por despertar o interesse no leitor de
entrar em contato com a obra, e eu, todos o dizem, tenho uma sensibilidade
especial na criação de títulos, não há único que não chame a atenção. Já tentei
por diversas vezes criar um título que substituísse Razão In-versa, mas todos
deixaram a desejar, não há mesmo outro. À guisa de comentário, se pego um filme
na televisão sem saber o título, não entendo bulhufas, sinto-me realmente
incomodado; preciso esperar os comerciais, saber o título para começar a
entender
Nunca tivemos
oportunidade de conversar sobre suas leituras, discutir sobre as idéias, tem
ele seus afazeres no seu escritório de advocacia, como excelente advogado é
muito ocupado, eu vivo andando para lá e cá comercializando minha obra, não
tenho tempo para conversar à vontade com as pessoas, o que me sobra estou
sentado num botequim, tomando cerveja, fazendo anotações para próximas edições.
Contudo, no pouco tempo de nossas conversas fizera comentários sobre a
linguagem e estilo, diferentes e autênticos. Diante de todos os comentários que
ouvi de Toninho Fernandes, sempre me veio à mente alguns que ouvira a respeito
de minha prolixidade, complexidade, difícil ler minhas obras, as pessoas têm
dificuldades. Em verdade, criaram um mito em cima disto para me prejudicar, não
ser lido. Já perguntei a alguns leitores sobre isto e me responderam que não,
não é difícil assim ler minha obra. Fosse verdade tanta prolixidade, não seria
lido por um delegado, empresário, político, pois a realidade deles é bem diferente,
lidam com realidades, verdades, leis, não têm conhecimentos profundos de
literatura, teoria literária, filosofia. Dizer que é preciso ter conhecimentos
a priori para uma leitura profunda é verdade e não é verdade, é uma literatura
filosófica, mas o que é preciso mesmo é experiência de vida, vivência,
sobretudo inteligência, intuição, percepção. Toninho Fernandes é exemplo
incólume destas dimensões, muitíssimo inteligente, intuitivo, perceptivo, pelo
seu jeito mesmo percebe-se tudo isso com clareza.
No último
encontro que tivemos, disse-lhe que por não saber o seu nome completo ainda não
lhe fizera uma homenagem, entregando-me seu cartão dissera: “o que importa,
Manoel, é a sua obra”. Já havia pensado numa coluna para escrever sobre os
amigos e leitores, um pro-jeto ainda, mas o título Amigos/leitores di-versos
veio-me à mente neste encontro com Toninho Fernandes. Saindo de seu escritório,
sentei-me no Bar da Dora e escrevi sobre Dr. Antônio Carlos da Silva. Terminando, lembrei-me do encontro na padaria
com Toninho, escreveria sobre ele.
Em nosso
encontro na padaria, fiz uma brincadeira com ele na apresentação à minha
“Preta”, mas enfatizando ser ele excelente advogado, éramos amigos há muitos
anos. Depois ela comentara comigo que era um homem muito bonito, e homens
bonitos assim chamam a atenção das mulheres, perguntando-me se era paquerador
na juventude. Se fora, eu não saberia dizer, não conhecia o seu passado. Também
comentara que tinha mesmo jeito de advogado, um intelectual. Verdade mesmo...
Toninho Fernandes é um homem especial, quem o conhece sabe de sua sensibilidade
exacerbada, ser profundo em sua visão de vida e mundo. Desde este encontro, um
de meus maiores desejos é surgir uma oportunidade de tomarmos uma cerveja
juntos e conversarmos, conhecer as suas idéias. Dizem que a obra de um escritor
é boa, quando o leitor sente vontade de conhecer o escritor, trocar idéias com
ele. Um homem para mim é especial, quando, através de sua sensibilidade, sinto
vontade de conversar com ele, aprender com ele outras realidades, sentimentos e
emoções. A sensibilidade que sempre senti em Toninho Fernandes tornou-lhe aos
meus olhos muito especial, ademais sabendo que ama a leitura.
Toninho
Fernandes, aqui nesta homenagem que lhe faço, gostaria de, cordial e espiritualmente,
agradecer-lhe por sua amizade, por seu carinho por mim, o que me deixa mesmo
sobremodo orgulhoso, e também por seus constantes reconhecimentos e
considerações por minha carreira, por minha obra. Ter um amigo como você, meu
querido, é motivo de alegrias, orgulho; ter um leitor tão assíduo como você de
minhas obras é motivo sim de valorizar minha vida, sentir que estou de fato
realizando o grande sonho que me acompanhou por toda a vida, entregar-me de
corpo e alma à literatura, à filosofia. Realmente, tenho de agradecer muito a
Razão In-versa por me aproximar de pessoas como você, conhecer outras,
tornar-me amigo de outras. Sempre pergunto aos leitores se já tiveram
oportunidade de ler a nova edição, tive e tenho necessidade de estar presente
em suas vidas. Alguns já disseram que isto mostra o meu interesse e amizade por
todos. E lhes respondi: “Não entendo escritores que se interessem apenas que o
leitor adquira sua obra. Comigo a coisa é muito diferente. São vocês que me
ajudam a realizar os meus sonhos. Sem vocês, nada sou”. Toninho, fica aqui o
meu “muito obrigado”, mesmo, por tudo, desejando que a nossa amizade continue
por sempre.
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