LUZ DOURADA DO SOL - Manoel Ferreira
A luz seja palavra
nos corações sedentos de amor, nas almas carentes de sonhos, ilumine de
esperanças o desejo de completude e sublimidade. Ter ainda fé no que ela diz
destina os raios que trans-cendem o presente ao infinito de todas as realidades,
ao horizonte de todas as fantasias e quimeras, re-velam o que há nos recônditos
da alma, e as imagens , eivadas de sentimentos ávidos pela alegria da
real-idade, mostram a vida repleta.
Trilhar veredas, sentir presente e
forte os passos em busca do “ser”, “verdade”, que nos plenificam aos olhos da
vida, dignificam-nos como homens, como criaturas de Deus.
Con-templar as estrelas, no íntimo dos
sentimentos ávidos de completude, integridade, desejos rentes ao brilho perene
do “ser”, “verdade”, que nos iluminam os passos, que nos glorificam as
intenções de vivermos à luz da felicidade eterna.
Amar a vida acima dos interesses
contingentes, acima das vaidades do poder, do sucesso nos rebanhos de homens
engravatados, mulheres em êxtases de prazer e clímaces di-versos, quem sabe
sejam vontades na contramão das hipocrisias e aparências, duas estrelas
brilhantes da nossa modernidade, que despertam valores os mais efêmeros, conquistas fugazes, e na
lápide de mármore suntuoso epitáfio, glorificando as atitudes de não sendo o
mistério, enigma que os séculos e milênios quiseram des-vendar e não lhes fora
possível: “Só a hipocrisia pura des-venda os mistérios do ser e da vida. Aqui
jaz quem des-cobriu as alegrias do “ser-hipócrita”. Que bela, esplendorosa
epígrafe para uma tragédia dos costumes e mortes, valores e esquecimentos,
princípios. Um epitáfio frio e sólido em letras clássicas, id-ent-ificando
perfeito hipócrita quem acumulou medalhas e troféus, conheceu as alegrias mais
profundas, transformado em epígrafe por uma pena insolente, cuja esfera gira ao
re-verso das razões e da vida num mundo entupigaitado de sombras e vazios os
mais lúcidos, cujas ideologias baratas divulgam a essência do nada, e nele
seguimos todos de peito estufado, cabeça erguida, o homem mesmo é o seu tempo,
dogmas, in-verdades, assim se vive, assim de morre de verdade, o resto são
mentiras e frutos da imaginação fértil.
E o poeta? Que faria deste epitáfio na
lápide de mármore do perfeito hipócrita que honrou a comunidade, glorificou a
modernidade, deixou lembranças e recordações no coração dos amigos e íntimos?
Talvez escreve um poema com a pena voltada para as estrelas, e o branco da
página mais transparente, aplausos e críticas di-versos ao poeta que escreve
poema e a pagina permaneceu branca.
Não. Nada disso. O poeta silencioso
apenas leu o epitáfio, não o transformou em epígrafe de um poema, apenas foi
sincero com os seus sentimentos e emoções, nada valem seus versos e estrofes, nada valem seus
sonhos e utopias, a vida lhe interessa, e o seu desejo, sede de con-templação,
fome de vislumbrar as estrelas que iluminam as verdades. Silenciou-se o poeta.
As palavras eram o motivo pleno de sua vida refestelaram-se na rede de tempos
que são vindouros, quem sabe no futuro voltem a figurar nas páginas.
O mundo se calou, nada mais de vento
para refrescar a terra, nada mais de clima ameno e saudável para os sonos
profundos, nada mais de sombras das árvores nas calçadas. Posso então rasgar os
verbos, posso não deixar pedra sobre pedra, posso picar os pepinos em fatias
finíssimas, derramar neles azeite, salgar a gosto e paladar, posso borrifar os
ácidos, mas isto servirá apenas para todos terem assuntos a apresentar e
discutir, reunir para analisar e avaliar o que é fruto de minhas sorrelfas,
enfim o que digo, as minhas opiniões são resultados concretos e sólidos de
minha visão subjetiva, do que ouvi serem verdades, do que ouvi serem
in-verdades, mentiras, do que todos, numa sociedade de dogmas, poder, imposição
de valores e virtudes, querem assuma, assimile, pratique, sem questionamento ou
desconfiança, são palavras minhas, minhas contra as do que já tudo
racionalizaram como a verdade insofismável, em qualquer tempo, geração, será o
que garantirá aos homens a divinidade da vida, ressurreição e redenção, no além
o que imperará, se não prazer, se não alegria, serão as glórias e louvores do
que na terra ficou como obra completa, aberta a todas as análises e
interpretações ao longo dos tempos, sujeita a críticas e revisões de
perspectivas.
Sinto neste instante em que con-templo
a luz, olhando de soslaio os raios dourados de sol que entram pela janela de
minha alcova, iluminando o chão, parte da cama em que me encontro deitado,
lembrando-me dos sentimentos vividos e sentidos plenamente na comemoração de
nove anos de encontro com a senhora, a paixão inebriante por que fomos tomados,
e todos os desejos eram de trans-formar-se em amor, fossemos felizes,
vivêssemos unidos a vida, encontrássemos o ser de nós, o nós do ser que nos
a-nunciava e o nosso coração pulsava ardente no peito sedento de realidades
outras. Só o tempo, através de nossa entrega mútua, por inter-médio de nossas
próprias verdades, sentimentos, tornaria isto possível, seria nossa realidade.
Res-piro fundo, e quando suspiro de
imediato em busca de sentido para conhecer e saber o que me habita o coração;
por vezes, olhando a vida com percuciência, sentimentos puros e solenes se me
a-nunciam, imagens transparentes, nítidas, mostram-me situações e pessoas com
que convivi, prazeres, alegrias, palavras sinceras ouvidas, então amo de paixão
a vida, desejo conhecê-la em sua essência, mergulho em mim, sinto presentes
emoções, sinto presentes desejos de liberdade, sinto presentes vontades de
integridade, de ser “vida”. Iniciam-se as lutas, questionamentos di-versos,
sonhos e utopias, vôo aos horizontes mais longínquos em busca de realidades
outras, e tudo o que se me a-nuncia são esperanças de nalgum instante, próximo
ou longínquo vivenciarei na carne e alma o “ser” da vida, a “vida” que tanto
co-templo e desejo.
A palavra do amor vive em todos os
homens, habitam-lhes o espírito – des-cobri-la não é nela pensar, des-vendá-la
não é re-fleti-la, encontrá-la não é captá-las pura no recôndito dos
sentimentos, é senti-la presente nos desejos e vontades do verbo e da carne;
vivida e vivenciada na verdade da alma e do espírito, nos idílios e sorrelfas
do coração carente, registrá-la na folha branca de papel, em suas linhas, às
vezes, é apenas desejo de id-ent-ificar uma verdade, eternizá-la, contudo é
pro-jetá-la, lançá-la a horizontes e uni-versos vindouros, no peito a palavra
do amor estará sempre por ser escrita, se a sabemos verdadeira em nós, se a
sentimos espírito nos verbos que nos habitam, aí sim o amor se faz sentido e
princípio de vida.
O calor está insuportável. Os raios
dourados de sol, se ouso olhar de frente a janela, ofuscam-me, nada consigo ver
com nitidez, estrelinhas várias se encenam aos meus olhos, multiplicam-se, e
tenho de voltar-lhes à alcova, observar todas as coisas nele existentes, o
guarda-roupa, a estante repleta de coisas de minha senhora, a imagem da Sagrada
Face de Cristo suspensa na parede, para recuperar a visão que os raios dourados
de sol ofuscaram, e são outras as lembranças que se me a-nunciam da comemoração
de aniversário de encontro com a senhora
na pizzaria. Chovia fino, noite de clima ameno, agradável, a rua
deserta, poucas pessoas conversando em voz baixa, tranqüilidade, e nós
envolvidos em nossas lembranças de quando o encontro a-nunciou paixão, desejo
de vida, vontade de união, pro-jeto de amor e eternidade, sentimentos e emoções
que na continuidade da relação e na dialética da vida e situações, e no pulsar
do coração e no sangue percorrendo as veias todas do corpo, foi-nos unindo,
foi-nos trans-formando, foi-nos re-modelando, tornamo-nos Ser.
Re-flito, medito, penso nas
experiências, vivências, por vezes, sinto-me bem, o coração pulsa de regozijo,
calafrios eriçam-me os pelos do corpo, sobem e descem a medula, fogem-me as
palavras, sou um silêncio inominável e indescritível, olho o mundo ao redor de
mim, olhos brilhantes, nas retinas imagens que não consigo vê-las, por inteiro,
as coisas e objetos que me circundam, mas
por suas perspectivas e ângulos que a percepção, intuição, sensibilidade
afloram vívidos de sonhos, as idéias e pensamentos surgem intensificados, e sou
levado ao infinito, de onde busco re-ver e entre-ver sentimentos vividos,
dúvidas, medos, e só através das palavras sou capaz de dizer o que me habita, o
que me perpassa a alma, o espírito; se alguém houvesse ao meu lado, pedindo-me
dizer, não saberia, perder-me-ia por inteiro, sentir-me-ia incomodado por
inteiro, ficaria mudo, mas se tomar da pena para escrever, embora as
dificuldades peculiares do exercício, particulares da abertura, visto saber-me,
reconhecer-me homem demasiado fechado, o medo de abrir-me por sempre me
acompanhou, não apenas das más interpretações, dos juízos gratuitos, das
censuras, por não saber se digo a verdade de mim, se é apenas uma imagem
delineada e burilada que em mim construí para esconder-me mais e mais, sou
capaz de mostrar sentimentos, sensações, emoções que me povoam, que re-velam um
pouco do que sou no mais íntimo. Sonho a verdade pura de quem sou, sonho
dizê-la nas letras, contudo sei isto jamais será possível em absoluto, nisto
reside o impulso para a vida, viver, experimentar, vivenciar, buscar, desejar,
querer, a vida nas letras não morre, será sempre um passo adiante, será sempre
desejos de plenitude, sublimidade, será sempre visões do além e infinito.
Num instante, assim que chegamos à
pizzaria, o garçom nos foi atender, pedindo-lhe eu que tirasse uma foto nossa,
entregando-lhe o celular, explicando-lhe como operar, intui algo bem profundo
que, de princípio, não pude identificar, mas, passado algum tempo, soube, ainda
em estado de dúvida, algum nível de angústia se me a-nunciou, senti que o Ser
entre duas pessoas que se amam, desejam a carne do amor, o verbo da carne,
espírito e alma da vida em suas dimensões e perspectivas do eterno e da
verdade, é feito das realidades da contingência e dos desejos do espírito.
Sigo as longas veredas, perscrutando a
divinização do sonho que em mim habita e
afirma a criação, como o fiz após ficar algum tempo esperando a chuva passar,
que aumentara, e no caminho de volta à nossa casa, conversando, senti que nossa
vida juntos realizava a luz amena e sensível das estrelas e da lua – senti
haver sempre estado escrita nas estrelas, o nosso encontro e vida juntos iria
isto concretizar em verdade e amor, e seríamos felizes -, em minha imaginação,
no imaginário do amor o sonho, a tranqüilidade da noite perpassando nossos
corpos, nos espíritos unidos viajando nas entre-linhas da palavra “amor”, nas
linhas do “verbo amar”. Marize e eu nos sonhos e desejos da aurora de novo
tempo, tempo que construiríamos em novas entregas, con-templando as realidades
e sentimentos outros de nossa con-vivência e experiências da vida, nossa vida
será questão, e a verdade, outro sonho.
Sonhei luz na palavra que iria dizer no
íntimo de mim, que sentia presente
preste a re-velá-la, mas agora, após preencher tantas linhas, sinto que os seus
raios de verdade batem fortes no meu corpo, deixam-me extasiado de prazer,
elevam-me, e, retornando-me do êxtase e elevação, o espírito sente bem o fundo,
pré-fundas dos desejos absolutos da vida. Amor, Sonho do Verbo Amar, não sei
quando e em dimensões de minha contingência a sublimidade do Ser-eu, do
Ser-Marize serão o que nos tornará uma verdade do amor que sentimos em nós
reciprocamente.
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