Palavras ditas
neste humor negro expressam e fazem chorar os homens perdidos em cada sombra
das árvores de morangos silvestres, quando deveriam fazer sorrir os indivíduos
em cada instante de suas vidas. Dito de passagem, estive eu a fazer caminhada,
quando observei um homem com uma perna amputada, sem muleta, pulando, jogando
bola com os amigos. Ainda lhe disse que estava eu muito emocionado com o que
estava fazendo, merecia os meus parabéns. Respondeu-me com um sorriso nos
lábios que a vida não pode parar. Continuei a caminhada. Retornando o rapaz
continuava jogando bola com os amigos, mas naquele momento já com a sua muleta.
De novo, repeti que estava de parabéns, a vida não podia mesmo parar. Sorriu e
continuou a jogar a sua bola.
Deixou-me, sim,
bastante orgulhoso e feliz ouvir que a vida não podia parar, seguia o seu
itinerário, palavras que mostravam muito mais sabedoria e inteligência que, se
voltasse a ter as suas duas pernas, andando com alegria e felicidade. Sabia
este jovem que na contemplação de cada momento no per-curso das horas tinidas
pelos relógios, pelos sinos de uma vasta área de plantações, estaria elevando o
espírito à busca de um sentimento que expressasse a vida, que não a deixasse
inerte por causa de uma infelicidade.
Se não
estivesse vendo a realidade nestes tons, devido à muitas discriminações e
preconceitos, decepções e medos, ainda assim estaria buscando um modo de viver
uma sensibilidade e uma habilidade que necessitam ser expressas, de uma emoção
que a concha de mãos deixa escorrer pelos dedos.
Continuando a
caminhada, lembrou-me de a mamãe chamar-me a atenção, quando se me apresentava
aos olhos alguém com alguma deficiência, dizendo-lhe eu: “Dinha, espia aquele
homem sem os braços”. Dinha dizia-me que não ficasse olhando, a pessoa iria
sentir-se muito infeliz. Ademais, não usasse em hipótese alguma o termo
“espiar”. Algo muito vulgar e digno de pessoas sem qualquer sensibilidade.
Aprendesse a sentir compaixão e solidariedade com todos os deficientes físicos
e mentais.
De outro modo,
não apenas observando o rapaz e a sua deficiência, disse-lhe que estava de
parabéns por estar jogando bola com os amigos, aproveitando os bons momentos da
vida, desfrutando da alegria e satisfação de uma reunião com aqueles que estima
e gosta.
Talvez, e disto
tenho a certeza, havia sim estes pensamentos em seu coração, mas havia muito
mais naquelas palavras, dizendo que a vida não podia parar, dizendo de sua
alegria por haver superado a sua deficiência, podendo compartilhar dos
divertimentos com os amigos e companheiros, desfrutar da alegria que é jogar
uma bola.
Que, se de onde
fremem os ventos houvesse um gesto de solidariedade, sentiria a presença de
vasculhar cada palavra e a extensão de cada linha. Se de onde sinto este brusco de compaixão e
solidariedade, de alegria e misericórdia, com alguém que, mesmo deficiente,
sentiu que a vida merece ser vivida com paixão e esplendor, desato a observar
todas as coisas, todas as nuanças e veredas, de novo a vibração guarda um sabor
úmido a carne que não esquece, a humanidade que não finda, a compaixão que não
se esvaece.
Poderia ficar
aqui toda uma eternidade e nunca seria capaz de abarcar todos os sentidos que
percebi nas palavras do homossexual cego que não podia ver a delícia de homem
que passava na rua, e o outro tentou ridiculariza-lo, esquecendo-se de sua
própria deficiência. Também a do jovem que perdera uma parte de sua perna, mas
jogava bola, e, quando o parabenizei pela sua superação da deficiência,
disse-me que a vida não podia parar.
Sempre houve
pessoas deste nível, que exigem da vida o que ela tem de mais alto e digno e
não podem aceitar com simplicidade as deficiências e os obstáculos. É precisamente de seus limites, obstáculos,
deficiências, impossibilidades que cada um tira proveito e glória, e eu,
certamente, ainda mais que os outros. Não haja qualquer discussão.
O que ocorre é
que a inteligência é tão perspicaz, e seu sentimento é tão discreto, o vazio noturno
revela-se como uma cortina estirada de um canto ao outro da parede, que
re-constitui8r e partilhar outro palco onde habite esse sorriso que é o de
superação saboreado, da alegria contagiante, da proximidade, abre o ápice das
piruetas vencidas aos pés do louco, que leva do imaginário ao simbólico.
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