OPOSIÇÕES NO SENTIR A VIDA - Manoel Ferreira
A prática,
ou seja, a verificação no cotidiano das informações evangélicas, irá
conduzir-nos à experiência da “aletheia” – esta palavra que, habitualmente, é
traduzida por verdade, quer dizer “desvelamento do ser, saída do lethe, o
esquecimento do ser verdadeiro”; com efeito, escutar e pôr em prática as
palavras do Cristo é um meio hábil para nos conservar na memória concreta do
ser e libertar-nos do esquecimento ou da ignorância do que vivemos realmente em
nós e através de nós.
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Esse estado de “aletheia” – estado de
despertar e de vigilância – torna-nos livres. Em primeiro lugar, livres da
ignorância de nosso ser verdadeiro; em seguida, livres das marcas e memórias que,
incessantemente, projetamos sobre o real. A palavra de Cristo é convite
concreto ao amor. Ao pedir-nos para amar “o que é”, em vez do “que deveria
ser”, ela não nos permite afastar-nos do real.
O real é o outro, amado na essência de
seu ser e em sua outridade; nada poderá obrigar-nos a amar dessa forma, nada
poderá impedir-nos de fazê-lo, somos livres para preferir o real.
A reflexão sobre a existência histórica
do homem encontra, como tarefa imprescindível e fundamental, a elucidação
filosófica do problema do outro; de sua existência e de seu reconhecimento.
Problema da “comunicação das consciências”, que se impõe cada vez mais como um
dos temas maiores da reflexão filosófica contemporânea a partir do momento em
que esta reencontra a ambição hegeliana de refletir a história. Sim, a
existência como história só pode ser refletida pela consciência-de-si, e a
consciência-de-si se constitui fundamentalmente na relação com o outro[1].
Nosso intento primordial nas páginas
deste capítulo é desenvolver uma reflexão sobre autores que, influenciados por
Dostoïévski, permite-nos conceituar adequadamente a existência histórica, o
processo histórico e a forma do processo histórico, ou seja, a cultura e suas
implicações, e estabelecer um confronto de todos estes temas, e das posições
teóricas sobre eles alcançadas, com o tema clássico do Absoluto, isto é, com o
tema de Deus, tema sempre presente nas páginas dostoïévskianas.
O Desejo do Outro, vivido por nós na
mais banal experiência social, é o movimento fundamental, o elã puro, a
orientação absoluta, o sentido. Em toda a sua análise da linguagem, a filosofia
contemporânea insiste, certamente com razão, sobre sua estrutura hermenêutica e
sobre o esforço cultural do ser encarnado que se exprime. Não se terá esquecido
uma terceira dimensão, isto é, a direção para Outrem, que não é somente o
colaborador e o vizinho de nossa obra cultural de expressão ou o cliente de
nossa produção artística, mas o interlocutor: aquele para quem a expressão
exprime, para quem a celebração celebra, e que é, ao mesmo tempo, termo de uma
orientação e significação primeira? Noutras palavras, a expressão, antes de ser
celebração do ser, é uma relação com aquele para quem eu exprimo a expressão e
cuja presença já é requerida para que meu gesto cultural de expressão se
produza.
O Outro que está diante de mim não está
incluído na totalidade do ser expresso. Ele ressurge por detrás de toda reunião
do ser, como aquele para quem eu exprimo isto que exprimo. Eu me reencontro
diante do Outro. Ele não é nem uma significação cultural, nem um simples dado.
Ele é primordialmente sentido, pois ele o confere à própria expressão, e é por
ele somente que um fenômeno como o da significação se introduz, de per si, no
ser.
Um livro curioso, inacabado, é Cemitério
dos Vivos, memórias e reflexões em torno da vida num manicômio que Lima Barreto
observou in loco, quando internado, por duas vezes, por motivos de alcoolismo,
no Hospício Nacional.
A relação que estabelecemos com o
diferente é bastante conflituosa e na maioria das vezes sofrida. Até mesmo as
pessoas que se julgam muito abertas e pouco preconceituosas se surpreendem com
a dificuldade de conviver com determinadas diferenças. Conforme as escolhas que
vamos fazendo ao longo da vida, aceitamos determinadas diferenças, a
determinadas distâncias, outras, não.
Sem querer entrar nos méritos e
deméritos de uma militância que se colocou no Brasil a partir dos anos 80 do
século passado, pensamos que é oportuno lembrar o diferente que por vezes é o
menos tolerado na nossa cultura: os loucos, os “portadores de sofrimento
mental” como chamados recentemente. Lutar contra o manicômio como instituição
de castigo e exclusão é extremamente necessário, ainda que variáveis nesta
batalha tragam muitos problemas ainda sem solução. Sempre que nos reportamos a
este movimento social, vem-nos à mente a necessidade de uma luta ainda mais
difícil neste campo: a luta contra o preconceito arraigado na cultura,
veiculado pela linguagem, seja ela da ciência, da filosofia ou do senso comum.
Quando encontramos alguém operando no
extremo da injustiça, da desonestidade, da calúnia, da falta de ética,
desavisadamente os chamamos de loucos. Louco é xingamento dos mais utilizados e
da maneira mais cruel e equívoca.
Desejamos apontar unicamente a necessidade de no mínimo compreender
melhor o poder da linguagem no sentido do preconceito e da falta de aceitação
do diferente.
Há momentos que fazem lembrar as Recordações
da casa dos mortos de Dostoïévski, não tanto pela analogia da situação quanto
pela sinceridade ardente do documento humano.
Obrigado a varrer, em público, o pátio
do manicômio, confessa:
Veio-me,
repentinamente um horror à sociedade e à vida; uma vontade de absoluto
aniquilamento, mais do que aquele que a morte traz; um desejo de perecimento
total da minha memória na terra; um desespero por ter sonhado e terem me
acenado tanta grandeza, e ver agora, de uma hora para outra, sem ter perdido de
fato a minha situação, cair tão, tão baixo, que quase me pus a chorar que nem
uma criança[2].
Falando da loucura:
Parece tal
espetáculo com os célebres cemitérios de vivos, que um diplomata brasileiro,
numa narração de viagem, diz ter havido em Cantão, na China.
Nas imediações
dessa cidade, um lugar apropriado de domínio público era reservado aos indigentes
que se sentiam morrer. Dava-se-lhes comida, roupa e o caixão fúnebre em que
deviam enterrar. Esperavam tranqüilamente a Morte.
Assim me
pareceu pela primeira vez que deparei com tal quadro, com repugnância, que
provoca a pensar mais profundamente sobre ele, e aquelas sombrias vidas sugerem
a noção em torno de nós, de nossa existência e nossa vida, só vemos uma grande
abóbada de trevas, de negro absoluto. Não é mais o dia azul-cobalto e o céu
ofuscante, não é mais o negror da noite picado de estrêlas palpitantes; é a
treva absoluta, é toda ausência de luz, é o mistério impenetrável e um não
poderás ir além que confessam a nossa própria inteligência e o próprio
pensamento[3].
A natureza da loucura é ao mesmo tempo
sua útil sabedoria; sua razão de ser consiste em aproximar-se tão perto da
razão, ser-lhe tão consubstancial que formarão, ambas, um texto indissolúvel,
onde só se pode decifrar a finalidade da natureza: é preciso a loucura do amor
para conservar a espécie; são precisos os delírios da ambição para a boa ordem
dos corpos políticos; é preciso a avidez insensata para criar riquezas.
Desse modo, todas essas desordens
egoístas penetram na grande sabedoria de uma ordem que ultrapassa os
indivíduos:
Sendo a loucura
dos homens da mesma natureza, ajustam-se tão facilmente num conjunto que
serviram para constituir os mais fortes elos da sociedade humana: disso é prova
esse desejo de imortalidade, essa falsa glória e muitos outros princípios sobre
os quais marcha tudo que se faz no mundo[4].
Assim nos
descreve o narrador onisciente de Os possessos, G...v, Capítulo IV, A coxa, e
louca, Parte V:
A desordem e a
sujeira reinavam por toda parte; um farrapo molhado via-se pelo solo, ao lado
de uns chinelos. Saltava à vista que ninguém naquela casa cuidava de nada; não
se cozinhava, não se acendia o lume. Os Lebiadkin, segundo confissão de Chatov
nem sequer tinham samovar.
Quando o
capitão chegara com sua irmã, como se encontrasse em situação angustiosa,
começara – segundo disse Liputin – a mendigar de casa em casa; logo, uma vez
repletos os bolsos, se entregava à bebida e as bebedeiras faziam com que se
descuidasse de suas obrigações domésticas.
A senhora
Lebiadkin, que tanto me interessava conhecer, achava-se tranqüilamente sentada
em um banco, ao pé de u´a mesa de cozinha, em um canto. Quando abrimos a porta,
não proferiu uma só palavra, nem se moveu do seu lugar. Chatov disse-me que a
casa não se fechava nunca e que uma vez passara a noite no vestíbulo, com a
porta aberta de par em par.
A luz mortiça
de uma vela engastada em um candeeiro de ferro, pude observar que se tratava de
u´a mulher de uns trinta anos, de constituição enfermiça. Ostentava um vestido
velho de indiana, de cor escura, o qual lhe deixava descoberto o comprido
pescoço; seus cabelos ralos, de tom sombrio, se lhe agrupavam sobre a nuca
formando coque.
Fitou-nos com
expressão risonha. Além do candeeiro tinha diante, sobre a mesa, um espelhinho,
um jogo de cartas usadas, um livro de canções e um pãozinho branco já
mordiscado.
Fácil era notar
que a senhorita Lebiadkin usava enfeites e pintava os lábios. Fazia também as
sobrancelhas, alongadas, negras e finas; mas, apesar da mão de gato, três rugas
compridas vincavam-lhe nitidamente a testa, elevada e estreita.
Sabia que era
coxa; de outra maneira não teria conhecido sua deformidade, já que não se
levantou, nem andou à nossa vista[5].
Michel Foucault lembra-nos em História
da loucura que a loucura existe em relação à razão ou, pelo menos, em relação
aos “outros” que, em sua generalidade anônima, encarregam-se de representá-la e
atribuir-lhe valor de exigência; por outro lado, ela existe para a razão, à
medida que surge ao olhar de uma consciência ideal que a apercebe como
diferença em relação aos outros.
E estes acentos que projetam o desejo
bem dostoïévskiano da redenção pelo sofrimento:
Eu me tinha
esquecido de mim mesmo, tinha adquirido um grande desprêzo pela opinião
pública, que vê de soslaio, que vê como um criminoso um sujeito que passa pelo
hospício, eu não tinha mais ambições, nem esperança de riqueza ou de posição: o
meu pensamento era para a Humanidade toda, para a miséria, para o sofrimento,
para os que sofrem, para os que todos amaldiçoam. Eu sofria honestamente por um
sofrimento que ninguém podia adivinhar; eu tinha sido humilhado, e estava, a bem
dizer, ainda sendo, eu andei sujo e imundo, mas eu sentia que interiormente eu
resplandecia de bondade, de sonho de atingir a verdade, de amor pelos outros,
de arrependimento dos meus erros e um desejo imenso de contribuir para que os
outros fossem mais felizes do que eu, e procurava e sondava os mistérios de
nossa natureza moral, uma vontade de
descobrir nos nossos defeitos o seu núcleo primitivo de amor e de bondade[6].
Detendo-nos ainda em Lima Barreto, numa
outra perspectiva, que em todas as páginas dostoièvskianas é encontrada, a
temática do nacionalismo como valor a ser revisto[7],
Lima Barreto mobilizará um referencial adequado à reconstituição
histórico-ficcional forjando um espaço favorável de confronto entre o
patriotismo ufano/abstrato do Major Policarpo e a realidade concreta do
quotidiano nacional.
Poucos índices podem proporcionar uma
visão tão transparente dos principais campos de tensões históricas que marcaram
o período sob estudo, quanto um cotejamento crítico entre as obras de Euclides
da Cunha e Lima Barreto.
Definindo as perspectivas fundamentais
que se colocaram aos agentes e pacientes dos processos de mudança então em
curso, esses escritores opõem-se num choque radical, envolvendo a totalidade de
suas obras. Desde os tratamentos temáticos, os procedimentos literários,
gêneros e técnicas narrativas, suas obras se contrapõem em sentido
simetricamente inverso, como uma imagem e seu espectro especular, evidenciando
um divórcio irremediável entre as visões de mundo dos dois autores. Centrada nas
práticas da linguagem, essa oposição antitética que separa a ambos enraíza-se
porém nas suas diferentes formas de inserção no universo tempestuoso da nova
ordem republicana.
Uma análise mais metódica nos permitirá
entrever, pois, sucessivamente, o quanto esses autores devem ao patrimônio
cultural de seu tempo; o grau profundo de contraste que os separa; as
particularidades de suas formas de compreensão e o significado do confronto
implícito nas suas obras, para a elucidação de linhas cruciais de tensão presentes
no interior do mundo social da Primeira República.
Um dado essencial a ser ressaltado
quando se busca um fundo de convergência entre as duas produções literárias
citadas é a formação positivista comum aos dois autores. Ambos acompanharam a
expansão do comtismo no Brasil, durante o seu período de formação acadêmica, da
forma a mais próxima e comprometida possível. Euclides o sorveu diretamente de
seu divulgador mais apaixonado e convicto – Benjamin Constant -, por duas vezes
seu professor, no Colégio Aquino e na Escola Militar da praia Vermelha. Quanto
a Lima Barreto, foi recebê-lo pessoalmente nas prédicas dominicais de Teixeira
Mendes, na Igreja Positivista do Brasil.
A forma de assimilação dessa doutrina
por um e outro foi muito diversa, o que, entretanto, não impediu que alguns
pressupostos mais gerais e a essência ética da doutrina viessem a formar um
estrato básico na consciência de ambos, aflorando por toda parte em sua obra e
animando o seu projeto político e cultural.
A representação do real cheio de vícios
gritantes na distribuição do Poder e da Riqueza, recairá sobre a
infra-estrutura burocrática, civil e militar, correlacionada ao caráter
agroexportador e dependente do país, acentuado no início do século XIX. Os
reflexos últimos desta ficção dependente vão se desenhar no Policarpo quando
Lima fala da mentalidade preconceituosa, frívola e europeizante da classe média
suburbana; sobre a miséria do subproletariado em expansão nos “caixotins
humanos” do subúrbio onde mora Ricardo, a situação desanimadora da terra e da
população rural.
Verifica-se em Lima Barreto o anseio de
revelar em seus textos um retrato maciço e condensado do presente, carregado do
máximo de registros e notações dos vários níveis em que o saber do seu tempo
permitia captar e compreender o real. O próprio autor esclarece o efeito
estético e comunicativo que buscava ao promover esse adensamento extremo dos
dados e circunstâncias mais marcantes do seu tempo: “A realidade, diria o
escritor parafraseando o seu idolatrado Dostoïévski, é mais fantástica do que
tudo o que a nossa inteligência possa fantasiar”.
A exposição do presente como um vórtice
de situações históricas exemplares trazia consigo a dupla conseqüência de
sugerir mimeticamente a intensificação insólita dos processos de transformações
contemporâneos à sua obra e de introduzir uma feição expressionista em suas
imagens, pela exacerbação das suas próprias características. O real, assim
construído, perderia o aspecto frio e insensível que a rotina do cotidiano lhe
assinala, provocando a anuência indiferente dos indivíduos, para mostrar-se em
toda a crueza da sua nudez repentina.
Através desse método contundente, o
autor podia transmitir direta e rapidamente aos leitores a concepção e o
sentimento relativo aos eventos que o circundavam. Forçava-os assim a uma
tomada de posição e uma reação voluntária, na proporção do estímulo emitido. A
função crítica, combatente e ativista, ressalta por demais evidente dos textos
de Lima Barreto.
O temário de sua obra inclui:
movimentos históricos, relações sociais e raciais, transformações sociais,
políticas, econômicas e culturais; ideais sociais, políticos e econômicos;
crítica social, moral e cultural; discussões filosóficas e científicas,
referências ao presente imediato, recente e ao futuro próximo; ao cotidiano
urbano e suburbano, à política nacional e internacional, à burocracia, dados
biográficos, realidade do sertão, descrições geológicas e geográficas
(fragmentos) e análises históricas.
Todos esses temas são refletidos de tal
forma enovelados em seus textos, que não se pode dissociá-los ou isolar algum
deles sob pena de se comprometer o efeito grandioso propiciado pelo seu
concerto. Tudo concorre para compor um imenso mosaico, rude e turbulento, que
despoja a Belle Époque de seus atavios de opulência e frivolidade.
A galeria de seus personagens é uma das
mais vastas e variadas da literatura brasileira. Destacam-se nela, em
particular, os tipos escusos e execrados – mas mesmo esses se perdem dentre uma
legião de figuras representativas dos mais diversos meios. São burocratas,
apaniguados, padrinhos, “influências”, grandes, médios e pequenos burgueses,
arrivistas, charlatães, “almofadinhas”, “melindrosas”, aristocratas, militares,
populares, gente dos subúrbios, operários, artesãos, caixeiros, subempregados,
desempregados, violeiros, vadios, mendigos, mandriões, ébrios, capangas, cabos
eleitorais, capoeiras, prostitutas, policiais, intelectuais, jornalistas,
bacharéis, ex-escravos agregados, criados, políticos, sertanejos, moças casadeiras,
noivas, solteironas, recém-casadas, mulheres arrimo de família, crianças,
casais, loucos, tuberculosos, leprosos, criminosos, adúlteros, uxoricidas,
agitadores, estrangeiros, usuários, mascates grandes e pequenos comerciantes,
atravessadores, banqueiros, desportistas, artistas de teatro, cançonetistas,
coristas e alcoviteiras. É praticamente todo o Rio de Janeiro do seu tempo que
nos aparece agitado e tenso, condensado mais nos seus vícios do que nas suas
virtudes. Todas as personagens trazem a marca do seu meio e constituem o objeto
privilegiado da crítica social do autor.
Os ambientes em
que Lima Barreto vai buscar e apresenta os seus heróis e vilãos são também os
mais diversos e desnivelados. Suas descrições envolvem: interiores domésticos
burgueses e populares, estabelecimentos de grande e pequeno comércio, cassinos
e bancas de jogo do bicho, festas e cerimônias burguesas, cosmopolitas, cívicas
e populares, bares, malocas, bordéis, alcovas, pensões baratas, hotéis, frèges,
pardieiros, repartições públicas, ministérios, gabinete presidencial, cortiços,
favelas, prisões, hospícios, redações, livrarias, confeitarias, interior de
navios, trens, automóveis e bondes, zonas rurais, ruas, praias, jardins,
teatros, cinemas, estações ferroviárias, pontos de bonde, cais, portos,
escolas, academias, clubes, ligas cívicas, casernas, cabarets, cemitérios,
circos, teatros de marionete, tribunais e oficinas.
São de larga amplitude, igualmente, os
registros históricos que ele entremeia em seus escritos. Compreendem: anotações
locais, nacionais e internacionais, todas envolvendo uma rigorosa análise dos
níveis social, político, econômico e cultural (não necessariamente simultâneos
e sistemáticos, é evidente), marcados por uma aguda precisão cronológica e por
uma perspectiva relativista, ética e voluntarista.
Essa perspectiva peculiar releva também
de suas discussões sobre filosofia da história. Lima Barreto possuía uma visão
extremamente clara dos limites e das propriedades do saber humano, e em
particular do grande mito de seu tempo – a ciência.
Sua compreensão do processo do
conhecimento revela um fundo de kantismo, talvez traduzido de Schopenhauer, de
quem era leitor assíduo, que compreende todo o saber como u´a mera
representação subjetiva da consciência. Resulta daí um relativismo definitivo,
que rejeita a priori qualquer interpretação determinista ou naturalista, de
base animista, que pretendia descortinar no comportamento humano ou nos
processos históricos a ação de leis naturais imponderáveis.
A literatura de Lima Barreto se
distribui por cinco gêneros: romance, sátira, conto, crônica, epistolografia e
memórias. Os processos literários com que desenvolve esses gêneros correspondem
à narrativa caracterizada pela combinação simultânea de gêneros, estéticas e estilos,
à rejeição de artifícios retóricos, à linguagem comum e descuidada, à ironia
tendente à sátira e à paródia.
A originalidade que particulariza a sua
obra em especial, contudo, é a coerência com que destrói e abandona as teorias
clássicas da separação dos estilos e a regra das três unidades. Vemos assim o
autor tratar de temas, ambientes e personagens referidos ao cotidiano, ao
doméstico, às baixas classes sociais e, portanto, segundo a tradição, somente
merecedores de um entrecho de comédia burlesca ou de farsa popular.
Em suas mãos, um conteúdo de pantomima
é metamorfoseado, recebendo um tratamento épico ou sofrendo as ressonâncias de
um fundo trágico. Os estilos são confundidos, havendo predominantemente a
interpenetração entre o baixo e o elevado. O estilo médio aflora e repercute em
estado puro em seus textos, mas somente para logo ser submetido e
descaracterizado em contato com os outros. A constante é a fusão; é ela que dá
à obra um tom geral homogêneo.
Os recursos básicos de sua ficção
consistem inelutavelmente na ironia e na caricatura. A ironia, “a suculenta
ironia”, Lima Barreto a concebia numa envergadura bastante ampla, “que vai da
simples malícia ao mais profundo humor”, abrangendo praticamente a inteireza de
sua obra.
Na maioria dos casos, os personagens de
Lima são mestiços, e da ambigüidade étnica é que deriva a “rachadura” da
consciência. Às vezes, a desagregação interior decorre da elevação da
sensibilidade e da espiritualidade, em contraste com a mesquinhez da vida
material, como é o caso de Adélia, marcada por um distanciamento entre o corpo
aviltado e a pureza do olhar. Também o desencontro entre a vida pretensamente
civilizada e os impulsos primários do organismo acarreta a dessedimentação da
personalidade, como ocorre com Cló.
O caso mais expressivo contudo é o do
personagem do conto Dentes negros e cabelos azuis, melancólico portador dessa
aberração. Essa narrativa reúne e resume todas as características acima. Vítima
de um assalto, esse mutante, solicitado pelo ladrão, confessa-lhe o traumatismo
doloroso provocado na sua personalidade por um processo impiedoso de abominação
e segregação social, envolvendo a sua natureza, sensibilidade, anseios,
alterando o seu equilíbrio mental e inspirando-lhe obsessões, medos e fantasias
paranóicas.
Lima Barreto reponta sua obra por toda
parte e revestido de características particularmente agônicas, como na
confissão do Diário do hospício: “Queria matar em mim todo o desejo, aniquilar
aos poucos a minha vida e sumir-me no todo universal”. Sua fixação nirvânica
sempre exalou um forte aroma de pessimismo, tristeza e amargura, nas quais
aliás o autor presumia encontrar as diretrizes mais gerais da existência
humana. “A vida é cousa séria e o sério na vida está na dor, na desgraça, na
miséria, na humildade”.
Desse conjunto de elementos se destaca
uma das peculiaridades mais marcantes do imaginário do escritor, sua manifesta
fascinação relativa “ao mistério, ao espesso mistério impenetrável, em nós e
fora de nós”. Essa entidade fazia transcender da sua própria substância
enigmática um halo místico que significava a identidade e solidariedade íntima
de todos os seres, nas suas limitações e na sua pequenez, diante do imensurável
e do incognoscível.
Pensemos acerca dos “mistérios da
inconsciência” na obra dos românticos. Se os românticos não inventaram o
inconsciente, foram os primeiros a falar dele livremente e em toda a sua
extensão. O inconsciente era usado para explicar não só o processo criativo,
mas também o “lado noturno” da vida humana, o mundo dos sonhos, os monstros e
as aparições. Era mais um conceito metafísico do que científico.
O artista era normalmente representado
como uma planta crescendo inconscientemente, ou como um meio através do qual o
Eterno atuava e se expressava. Alguns, como o artista e o poeta William Blake,
acreditavam no automatismo poético. “Escrevi este Poema”, diz Blake no seu Milton
“espontaneamente... sem premeditação e mesmo contra a minha vontade”. É claro
que o inconsciente se expressava de um modo proeminente nos sonhos. Aqui, o
contraste entre o pensamento romântico e o Iluminismo é impressionante. O
último procura reduzir o sonho a um fenômeno natural, originado pela
experiência dos sentidos e explicável pelas leis mecanicistas.
Lembremo-nos aqui da desolada indagação
da personagem Olga, ao ver
[...] a miséria
geral, a falta de cultivo, a pobreza das casas, o ar triste, abatido da gente
pobre (...) Por que ao redor dessas casas, não havia culturas, uma horta, um
pomar[8].
O teor concreto da observação,
desembocando numa pergunta de impossível resposta imediata, desencadeando novas
interrogações constitui um aspecto da postura analítica de Lima Barreto na
construção dos seus episódios narrativos: eles serão elaborados de modo a expor
quase didaticamente o emaranhado de inter-relações que nos levam a inserir num
quadro amplo e problemático o “caso” – só aparentemente individual, familiar ou
grupal – vivido por todas os personagens do romance que, assim, são situados e
justificados em sua forma de atuação.
Lima Barreto, desde cedo, sabia o que
queria, o que procurava. Nada de arte desinteressada. Nada de artifícios
verbais. Literatura, sim, mas com objetivo certo e definido, estabelecendo
entre o escritor e o público um compromisso, para ajudá-lo a conhecer não
apenas o drama íntimo de cada um, como também as competições, erros e misérias
da sociedade em que vivemos. Literatura militante, como a que sempre praticaram
Lima Barreto no Brasil, Eça de Queirós em Portugal, seguindo a lição de Taine e
Brunetière, Sartre na França, tratando de tudo o que pertence ao destino de
todos nós, uma vez que – justificaria o próprio escritor – “a solidariedade
humana, mais do que nenhuma outra coisa, interessa o destino da humanidade”,
com certeza aprendido nas páginas dostoïévskianas.
O tema da peça Os seqüestrados de
Altona de Sartre não é a liberdade, tão evidente nas suas obras
existencialistas, mas a fatalidade: o homem condenado por sua natureza a fazer
o mal. Sartre com efeito pensara na criminalidade do século XX. Quem ou o quê
era responsável por isso? A voz do “herói” Franz Von Gerlach vinda de um
gravador, depois de sua morte, dá a resposta:
O século
poderia ter sido bom, se não fosse o homem estar vigiado, desde tempos
imemoriais, pelo cruel inimigo que jurou destruí-lo, essa besta sem pêlo,
demoníaco devoradora de carne – o próprio homem[9].
Von Gerlach, o “carniceiro de Smolensk”
nazi, começara por bater na besta que via nos olhos dos seus próximos, por
razões da autodefesa. Contudo, após, descobriu a besta que vivia em si próprio,
e começou a sentir-se culpado e condenado. “O homem está morto e eu sou a sua
testemunha”[10].
Num artigo, intitulado Jean-Paul Sartre responde, cujo
tema é o estruturalismo, ele assim comenta sobre o homem estar morto:
O problema,
como vê não é o de saber se o sujeito está “centrado” ou não. Em certo sentido,
ele está sempre descentrado. O “homem” não existe, e Marx rejeitara-o muito
antes de Foucault ou Lacan, quando dizia: “Não vejo o homem, não vejo senão
operários, burgueses, intelectuais”[11].
Note-se a indisfarçável “torcida” autoprojetiva de
autor onisciente no decurso dessa caminhada para a aquisição da consciência
problemática, penosamente vivenciada pela personagem Policarpo Quaresma. A
emoção que preside à sua caracterização como pessoa destituída de ambições
mesquinhas, pura e terna como os grandes sábios e inventores. Sinta-se nesta
intervenção ostensiva a dinâmica do subjetivismo, não disciplinado que acaba
por “consagrar” virtualmente as limitações ideológicas de Quaresma (ou as dele
próprio, Lima Barreto?) O autor/narrador toma a palavra:
É raro encontrar homens assim, mas os há e,
quando se os encontra mesmo tocados de um grão de loucura, a gente sente mais
simpatia pela nossa espécie, mais orgulho de ser homem e mais esperança na
felicidade da raça[12]
.
Em termos de estrutura narrativa, o que
é todo o enredo do romance senão a procura malograda de viver mais
brasileiramente em um Brasil que já estava deixando de o ser, ao menos naquele
sentido romântico e meufanista que o pobre Major ainda quer cultivar?
A grandeza de
Lima Barreto reside justamente no ter fixado o desencontro entre “um” ideal e
“o” real, sem esterilizar o fulcro do tema – o caso o protagonista idealizador
– isto é, sem reduzi-lo a símbolo imóvel de um só comportamento. O desencontro
vem a ser, desse modo, a constante social e psíquica do romance e explica
igualmente as suas defasagens em relação ao nível da língua rigidamente
gramaticalizada do Pré-Modernismo[13].
Para a maior parte dos românticos,
especialmente após a Revolução, a nação ou o Estado-Nação constituía a forma
mais elevada de organismo social. Por isso, a última não era, necessariamente,
um conceito reacionário. O Romantismo contribuiu mais para a ascensão do
nacionalismo, que se tornaria em breve um dos maiores mitos modernos europeus,
do que os jacobinos ou Napoleão. Devemos ter presente que este racionalismo
romântico não negava o individualismo romântico. É verdade que o espetáculo da
Revolução deu origem a um forte sentimento de identidade entre o indivíduo e o
Estado, sobretudo na Alemanha.
No entanto, os românticos tiveram o
cuidado, mesmo no auge da Guerra de Libertação da Alemanha, de preservar a
dignidade individual, especialmente do gênio. O novo pensamento era que o
indivíduo podia desenvolver melhor as suas potencialidades na comunidade
corporativa e com a ajuda do Estado, que era agora representado como um guia
cultural.
No limiar dos quarenta anos, podendo
olhar o caminho que já percorrera no romance, no conto e na crônica de jornal
para um reexame talvez definitivo, continua Lima Barreto defendendo a sua tese
predileta, em matéria de doutrina estética, com aquela nota de sinceridade que
jamais o abandonou.
Ao mesmo tempo em que reafirma a
constante do seu pensamento estético, o escritor, que pouco depois morreria
celibatário, sem que dele se conhecesse nenhum traço de amor feminino, além do
contato passageiro, quando não mercenário, de alguma mulher, o escritor
solitário proclama a sua paixão pela literatura, que é, em suma, a sua própria
razão de existir. Está tão integrado nela que chega a dizer, com a naturalidade
dos amantes que não temem o ridículo, nas suas expansões de ternura:
Mais do que
qualquer outra atividade espiritual da nossa espécie, a Arte, especialmente a
Literatura, a que me dediquei e com quem me casei; mais do que ela, nenhum
outro qualquer meio de comunicação entre os homens, em virtude mesmo do seu
poder de contágio, teve, tem e terá um grande destino em nossa triste
humanidade[14].
Nas páginas de Dostoïévski, mais do que
em todos os autores acima, tendo ele influenciado Lima Barreto, através de
cenas e criaturas aparece tudo o que o homem possui de instintivo e sensível,
generoso e baixo, a pequenez do ladrão que se esconde por causa de uma quantia
insignificante. É a sordidez dos ambientes, o porão do navio imundo, das celas
fétidas das penitenciárias. Os problemas da vida em comum, quando os
prisioneiros se mostram em sua verdadeira dimensão, com a ausência de disfarces
a que a vida nos obriga. Na promiscuidade, geram-se estranhos sentimentos e
impulsos.
Já disse que
durante os meus anos de presídio jamais constatei entre os meus companheiros o
menor remorso[15],
o menor rebate de consciência; no seu fôro íntimo, a maioria deles considerava
que agira bem. Isso é um fato. Evidentemente, a vaidade, os maus exemplos, as
bravatas, o respeito humano, deve, nesse caso, ser levados em consideração.
Mas, por outro lado, quem se pode gabar de haver sondado essas almas decaídas[16],
de ter descoberto no seu mistério o que fica escondido ao universo inteiro? De
qualquer forma, porém, no decorrer de tantos anos, eu deveria ter surpreendido
em alguns daqueles corações um indício qualquer de sofrimento, de desespero. E,
positivamente, nada descobri. É claro que não se devem fazer julgamentos de acordo
com idéias preconcebidas, e decerto a filosofia do crime é mais completa do que
se imagina. O presídio, os trabalhos forçados, não melhoram o criminoso; apenas
o castigam, e garantem a sociedade contra os atentados que ele ainda poderia
cometer. O presídio, os trabalhos forçados, desenvolvem no criminoso apenas o
ódio, a sêde dos prazeres proibidos, e uma terrível indiferença espiritual. Por
outro lado, estou convencido de que o famoso sistema celular consegue atingir
apenas um resultado enganador. Aparente. Suga a seiva vital do indivíduo,
enerva-lhe a alma, enfraquece-o, assusta-o, e depois nos apresenta como um
modêlo de regeneração, de arrependimento, o que é apenas uma múmia ressequida e
meio louca[17].
Na Introdução, Recordações da casa dos
mortos, assim nos descreve o narrador, quem não é identificado nela:
Logo que pude,
interroguei Ivan Ivanitch a respeito do homem. Soube que Goriantchikov vivia de
modo irrepreensível – sem isso êle não lhe confiaria a educação das filhas, -
mas muitíssimo retraído. Instruidíssimo, lendo muito, fugia do convívio social,
e falava tão pouco, espontâneamente, que ninguém conseguia travar com êle uma
palestra demorada. Alguns o supunham louco – porém não viam nisso um defeito
grave. Os magnatas da cidade, na sua maioria, o viam com bons olhos. O homem
lhes prestava, às vezes, serviços importantes, redigindo petições, por exemplo.
Suspeitavam-no de pertencer a uma família de relêvo, de alta posição, talvez,
mas sabia-se também que, depois da deportação, cortara todas as relações com os
seus – em resumo, prejudicara-se muito. Todo o mundo, aliás, lhe conhecia a
história: logo no primeiro ano do casamento, matara a espôsa, levado pelo
ciúme, depois entregara-se voluntariamente à justiça – o que lhe proporcionara
as circunstâncias atenuantes. Em geral êsses crimes são encarados como
desgraças, e os seus autores despertam piedade. Entretanto, este excêntrico se
enterrava no seu canto, e dele não saía senão para dar aulas[18].
[1] Num texto famoso, Hegel escreve: “É a força do
falar como tal que leva a cabo o que deve ser realizado. Pois (a linguagem) é o
ser-aí (das Dasein) do puro Si mesmo como tal (dês reinen Selbst als Selbst);
nela, a singularidade para-si da Consciência-de-si (die für sich seiende
Einzelheit des SelbstbewuBtsein) entra como tal na existência, de ser que ela
existe para os Outros” (Phänomenologie des Geistes [ed. Hoffmeister], Hamburg,
Meiner, 1951, p. 362)
[2] BOSI, Alfredo. História concisa da literatura
brasileira. 2º edição. 9º impressão. Editora Cultrix. São Paulo. 1979. pág.
362.
[5] DOSTOÏÉVSKI, Fyodor Mikhailovitch. Os possessos. Trad.
Augusto Rodrigues. Editora Pan-Americana – S?A. Rio de Janeiro. pág. 115.
[7] “Nós, russos, nunca tivemos românticos etéreos como os
alemães e, sobre tudo, como os franceses, que não podem descer do céu ainda que
a França de esboroasse nas barricadas e nos tremores de terra. Falo dos
românticos. É que, às vezes, censurava-me de romântico. Pois bem – dizia – os
franceses são idiotas, e não temos essa gente na Rússia. Todos conhecem esta
verdade: é particularmente por isso que nos diferenciamos dos países
estrangeiros. Somos muito pouco etéreos, não somos espíritos puros. Nosso
romantismo é completamente oposto ao da Europa, de modo que, entre o desta e o
nosso, não pode haver nada de comum . (Estou falando, com licença, de
romantismo. É uma palavrinha que humildemente prestou seu serviço: é velha e
todos a conhecem” (O espírito
subterrâneo. Pág. 176).
[9] BAUMER, Franklin L. O pensamento europeu moderno. Vol.
II séculos XIX e XX. Trad. Maria Manuela Alberty. Edições 70. Rio de Janeiro.
1977. pág.
[11] FOUCAULT, Michel, DERRIDA, Jacques et al. Jean-Paul
Sartre responde in Estruturalismo antologia de textos teóricos. Trad. Maria
Eduarda Reis Colares, Antônio Ramos Rosa e Eduardo Prado Coelho. São Paulo.
Martins Fontes. Pág. 133.
[13] BOSI, Alfredo. História concisa da literatura
brasileira. Editora Cultrix. São Paulo. 1979. pág. 360.
[14] BARRETO, Lima. Recordações do Escrivão Isaías
Caminha. Prefácio de Francisco Alves Barbosa.Ediouro.
[15] Houve em Curvelo um assassinato por causa de
um muro que ultrapassava em poucos centímetros o terreno de outro proprietário,
gerando muitas discussões acirradas em os dois parentes, cunhados. O autor do
crime, professor de Matemática, após alguns anos de pena, servindo na Cadeia
Pública como secretário no atendimento da comunidade, confessou-me que não
havia se arrependido de seu crime, faria o mesmo se sentisse necessidade.
[16] Assim nos diz a mãe de Raskolnikov, Crime e Castigo,
numa carta que escrevera a seu filho: “... para conhecermos uma pessoa, é
preciso têrmos convivido com ela, observando-a a cada momento; do contrário,
cometem-se erros de apreciação, que por vezes são difíceis de corrigir”. (pág.
29).
[17] DOSTOÏÉVSKI, Fyodor Mikhailovitch. Recordações
da casa dos mortos. Trad. Raquel de Queiroz. Livraria José Olympio Editora. Rio
de Janeiro. 1956. pág. 48.
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