#INSTINTOS DA DESOVA PSÍQUICA NAS MOVEDIÇAS FRONTEIRAS DA LEMBRANÇA E DO ESQUECIMENTO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ***


#INSTINTOS DA DESOVA PSÍQUICA NAS MOVEDIÇAS FRONTEIRAS DA LEMBRANÇA E DO ESQUECIMENTO

GRAÇA FONTIS: PINTURA

Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA

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O sol deita-se e as nuvens azuis colorem os terraços brancos,   as telhas de amianto, as ruas de pedra sabão, as águas fedorentas do Rio Grande, em direção à favela da Palha, o jardim do Seminário São Judas Tadeu, a calçada da Cúria Metropolitana, A Catedral ao lado da rua da Quitanda, o famoso   restaurante Baiúca, os grandes e famosos elaborando outros eventos para os turistas, o município crescerá bastante com a História da Escravatura, Patrimônio da Humanidade. Afigura-se-me haver distendido uma mola no interior, daquelas molas em espiral que saem repicando no chão, é só imaginar estas molas repicando por todas as descidas do município, soltaram-se algumas ruelas e parafusos dos princípios eruditos satíricos. Parece-me, em princípio, haver sentido uma eclosão, por haver dito com o mais profundo ser EU zero obtuso à esquerda, e , à direita, hein? – não seria o vazio de nada  zero de vazios?, pensarei no assunto -, sei que os instintos da desova psíquica ficaram excitados, manifestado-me bem para além do inteligível, das “movediças fronteiras da lembrança e do esquecimento”. Ouço à superfície das águas a eclosão dos sons, os sons do silêncio, das luzes, tudo isso oferecendo aos deuses, um espetáculo bem divertido de músicos nas janelas, a serenata rolando, rolando.... A exploração turística deslavada descendo os mais altos índices de sem-vergonhice, falta de escrúpulos...

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O mundo vil e vulgar termina à porta – daqui para dentro é o infinito, um mundo eterno, superior, esplendoroso, nosso, da preocupação e de mim, das moléstias macunaímicas, paulicéias instintivas, carioquéias das malandragens egocêntricas, sem regras, sem cardápios, sem figurinos, sem etiquetas, sem leis – um só mundo, uma só vida, uma só vontade, uma só afeição – a unidade sensível de todos os desejos e vontades pela exclusão das que me são adversas e controversas, e também às inversas a coroa de pedras preciosas que me relembre do dever de superar os outros em todas as virtudes.  Sentir um estímulo forte de querer ou não querer é assunto do intelecto interpretativo, que naturalmente trabalha em mim de forma inconsciente, digamos nestes termos, seguindo certos cânones súperos, embora para mim o seu estilo de ação e atitude é uma adesão dos instintos e razão in-versa. Sonhei esta madrugada que havia visto em carne e osso São Nunca, a sua batina era ornamentada com diamantes puros, encontrados no rio de Lavrinhas, batendo um papinho bem excitante com a Esfinge da mitologia grega,  sobre quando dizemos que o homem é bom por natureza ou que é mal por natureza,  isto está dando pano para mangas compridas e largas, conforme o figurino deles, diálogo acirrado sem limite para alguma conclusão e aperto de mãos, enquanto eu estava pescando peixinhos para o aquário particular com uma peneira adquirida na Loja Leandro Costa, especialista no gênero, pensando em como devesse recomendar, como um excelente meio para despertar os morais, excitar muitas vezes o sentimento da sublimidade de seu destino moral.  

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Deixo-me ser algo sem nome, uma sensibilidade no âmago. Comigo mesmo, penso ter sido a despedida mais original a que jamais me outorguei. Coloco em palavras os sentimentos, a intimidade do ato, da atitude, da ação, do sonho, da utopia. Pela última vez, piso estas ruas, alamedas, becos. Deixo-as irem consigo mesmas em toda a viagem, uma viagem de carruagem guiada por cavalos de pura raça, três, e um jegue iniciante na labuta é sempre agradável, proporciona os prazeres mais indecentes e indecorosos, no balanço tweedle dee, tweedle dum das estradas do vale. Fecho-me sobre águas calmas. Por onde passei, a minha busca, as ondas voluteiam imensas e suaves. Procuro um original no âmago e essência.

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Irá haver um abismo entre a subjetividade e as palavras, um caminho da roça entre a caverna e a ponte movediça da metafísica e exegese, da metalinguagem lacaniana e teoria do conhecimento à la Habermas, de Erasmo de Rotterdam, Kant. O rosto fica na sombra sob o ouro do diadema brilhante.

Não esperei votos de ninguém, exerço a urticária e a náusea por muitos, não reclamei ofertas e dádivas aleatórias e mesquinhas, expiatórias devido a um pormenor, num ato de culto. Não fiz tremer céus e terras, se os outros deuses foram convidados, merecendo esclarecer “convidados de honra e todas as dignidades”, e representaram mui bien seus papéis, deixando-me em casa, da sacada observando os transeuntes, as montanhas ao redor, ou mesmo se não fui admitido para sentir o odor das vítimas imoladas. Mui simples, se não, simples demais, se não mais pisar os pés neste lugar. Um tempo terminou, fora o tempo do caminho de luz nas trevas, sigo a jornada, só me faltaria ser agora as ondas do mar  na orla, bebendo uma cervejinha, bem à vontade, fumando cachimbo e ouvindo Dylan no carro, na calçada. Brincadeira, modo de dizer.

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A distância vai-se efemerizando lentamente. Aos saltos, realizo-me. O declive do vale favorece as enormes passadas. As enormes passadas são favorecidas pelo prado do declive.

Alcanço a água do rio sem margens, sem pressa, resfolegando. Teço um longo discurso, laureando a sublimidade do mundo e da terra, mas não há palavras, só alguns sons sussurrados, quando do sarcasmo, ritmos cochichados, quando do ácido cínico destilado, melodias desenxabidas. Mergulho com grandes gargalhadas, quando do rasga-verbo afiado, metáforas ardentes das chamas do destino que segue as suas vias tweedling dee, twweedling dum...

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Há, como nas obras célebres, o passo da simulação e da reconciliação. Nas obras vulgares, o cata-cavaco da hipocrisia e da interação social. Só ao longo da grande planície, das orlas marítimas, da temperatura “cozinha miolos”, das paqueras, malandragens au concourt é-se possível um encontro com as origens, essências, com o sol da meia-noite fantasmagórico, telúrico, psicodélico, jogando dardos, levantando brindes, bebendo e cantando cada um por sua vez, passando a murta após a canção, dançar, pular...

Rio de Janeiro(RJ), 26 de maio de 2021, 22:58 p.m.

 

 

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