PRINCÍPIOS DAS CERTEZAS E EXATIDÃO DOS CÁLCULOS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ****


PRINCÍPIOS DAS CERTEZAS E EXATIDÃO DOS CÁLCULOS
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA
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Se a soma dos catetos e da hipotenusa excederem em muito a teoria da relatividade – isto é relativo, deve-se pensar bem antes de qualquer afirmação concludente; aquilo é relativo, mister primeiro avaliar e investigar para obter uma visão mais ampla e nítida, visão que a língua seja capaz de verbalizar com eficiência, aliás, o que não é relativo nestas conjunturas das ciências ocultas e das letras apagadas?; triste, mas uma verdade irrefragável! –, não se deve cogitar que na operação tenha havido um erro substancial, sendo necessário revê-la, corrigi-la, e continuar operando até que o resultado seja condizente com todos os princípios, normas e regras matemáticas e físicas, deve-se-lhe dar continuidade, pois que alguma cosita nova pode acontecer, revolucionando as ciências, legando à humanidade outras esperanças de Ordem e Progresso neste mundo desordenado e caótico, outros sonhos de banhar-se no rio Ládon, rio que tem o poder de apagar as mágoas mais latentes com os sistemas e ideologias, que ocasionaram todas as moléstias psíquicas, desregramentos da inteligência e da razão, perdição da sensibilidade e dos instintos, uma desgraça sem fios e pavios, e que ocasionaram as multidões invadirem as igrejas com desejos e vontades de pedir perdão a Deus, proteção e amparo, perdão e comiseração, havendo carência de hóstias e vinhos clericais, as indústrias contratando funcionários para darem conta do recado de proverem os padres e fiéis, não se sabendo nem como se chama a cabeça de um parafuso de tanta labuta, ajudando os homens a cuidarem de suas terras e plantações, de seus bens materiais e concretos, de seus tesouros da razão in-versa, do intelecto enviesado, sem ser preciso trazer uma foice na mão esquerda e, na direita, espigas de milho viçosas e papoulas, dando aquela vontade irresistível de degustar um milho assado na brasa, acompanhado de uma tequila texana, que dizem ser a mais deliciosa que o mundo já conheceu, assim todos saltitando felizes na chuva, no sol, ao redor de uma casinha de sapê, sorrisos, risos e gargalhadas ingênuos, inocentes, não sendo mais necessário queimar as pestanas à busca de conceituar o amor, liberdade, solidariedade, compaixão, remoer no peito angústias, tristezas, desesperos, tremores e temores com a morte inevitável a todos, isto porque perderam os freios dos pecados, dos perjúrios, das blasfêmias, sendo impossível saber se o céu será o lar eterno ou se o inferno será o limbo imortal; e, em pensando nisto de ter havido algum erro na operação da soma dos catetos e das hipotenusas, valendo à pena sublinhar, ressaltar ser em demasia comum haverem erros, equívocos em quaisquer dimensões da vida humana, sendo eles o solo fértil para a busca implacável da verdade, dos princípios da certeza e da exatidão dos cálculos, embora, mesmo depois de serem respondidas todas as questões científicas possíveis, os problemas da vida permanecerem completamente intactos, cada pequeno ajuste no mecanismo parece levar a nada, apenas quando tudo entra no lugar a porta se abre, e, abrindo-se, chega-se à conclusão de que o conhecimento é uma ilha cercada por um oceano de mistério, e para dizer com toda a exatidão de princípios que defendo a unhas e dentes, preferir-se o oceano à ilha, se bem que nada é mais prazeroso do que um piquenique numa ilha cercada de bosque, sabendo ao menos que as contradições e dialéticas só se encontram no infinito, assim a jornada prolongando-se por tempo ilimitado, aquela convicção de que à cata de algo sempre surgem oportunidades valiosas para o encontro da felicidade e da alegria tão carentes nesta velha terra sem poeiras, e mesmo que só muito pouco haja sido efetivado o sonho não acabou, permanecerá por todos os séculos dos séculos “amém nós tudo”, não se devendo esquecer de que a dificuldade de entendimento e compreensão maior não ser propriamente a efemeridade das coisas, sofrimentos e dores serem pontes inolvidáveis para a travessia do não-ser ao ser, mas a falta de fundamento para as questões do bem e do mal, no cerne do mal habitar o bem, no núcleo do bem residir o mal, o que deixa qualquer criatura de Deus completamente despirocada, dando nó em pingo dágua, chamando urubu de meu louro, isto sendo apenas uma pontinha do iceberg, pior ainda, catando cavacos no asfalto da Rodovia dos Bandeirantes em plena noite de lua nova, triste, muito triste, ninguém imaginando o nível de tanta tristeza, mas considerando que a vida é assim mesmo, nada é capaz de orientar as suas diretrizes no sentido de tornar-lhe o fogo originário de virtudes e proporcionar força e saúde, força íntima e quase invencível do homem que vive este minuto decisivo da soma das hipotenusas e catetos que excedem em muito a teoria da relatividade, mas as leis que a regem são precisamente ao mesmo tempo algo de positivo em si, isto é, a forma de uma causalidade intelectual, ou seja, da liberdade, ela é ao mesmo tempo um objeto de respeito à medida em que, em oposição com o que a contraria subjetivamente, a saber, as inclinações nos homens, ela enfraquece a presunção e, na medida em que ela abate a esta, ou seja, a humilha, ela é o objeto do maior respeito, por conseguinte, também o fundamento de um sentimento positivo que não é de origem empírica e que é conhecido a priori.
Rio de Janeiro(RJ), 24 de maio de 2021, 07:23 a.m.

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