#VERBOS ENTRE-{VADOS} NO SUJEITO DEFECTIVO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA ***


#VERBOS  ENTRE-{VADOS} NO SUJEITO DEFECTIVO#

GRAÇA FONTIS: PINTURA

Manoel Ferreira Neto: POEMA

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Epígrafe:

Do jeito que os verbos se revelam inéditos, efetivamente vão crucificar a Língua Portuguesa#

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Venham os verbos {{entre}}-#vados# no sujeito defectivo

Efectivando as orações essenciais dos termos pagãos,

Integrantes das verborreias e falácias das sintáticas sarcásticas

Acessórias das facécias analíticas das dialéticas cínicas!

Guardarei sigilo perpétuo de nossos inter-câmbios e comércios,

Cambiocozados de déficits e falências do senso

Coméstico de inteligência sui generis...

Na voz, travo algum de zanga ou moléstias psíquicas,

Sem me decifrarem os pretéritos, sem me ouvirem,

Deslizam,

Perpassam as coisas levianas e tornam-me o rosto face ao leste,

Possuem-me nestes silvos, sem itinerário, sem porto,

Não há sevícia que os levem des-entravados,

Na marca dos devaneios,

Neste tacto suave e frágil, deixam-se sentir, degustar,

Lutas com as suas regências e concordâncias,

Sonoridades e ações

Sugere sem fruto, não tem carne e sangue,

Contudo, a luta é término que não termina, segue-se deslumbrado,

Deixam-se enlaçar, tontos às carícias do tacto, do toque,

E súbito escafedem-se, nada há que os retorne,

Criá-los, re-criá-los, in-ventá-los, tudo o que lhes segue,

Independentes dos sinuosos becos coloniais

Onde passeiam ratos e morcegos noturnos.

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Verbos esplendem, na curva da noite, que todos os princípios

Carecem deles,

Todos movimentos cênicos da dança de performances e gestos

São deles necessários, palavra que não separa da língua

Em riste de significados,

Paixões conjugam-lhes, regenciam-lhes,

Concordam-lhes ad infinitum

No pecúlio, cerradas as pontas, ceifadas as beiradas,

Nada há que os faça ausentes por átimo

De milésimos de segundo, movem-se,

Rodam,

Voam,

Flanam.

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Trans-literal-izados projectos do além póstumo,

Além póstero consumado

Na superfície e bordas do há-de perenizar, perecer,

Aglutinados aos in-fin-itivos

De gerúndios de sorrelfas compactas,

Con-solidados aos subjuntivos dos instantes

Indescritíveis e limítrofes,

Aos indicativos das sombras incompreensíveis

Que permeiam os recônditos do insondável,

Re-finadas nos ventos uivantes das colinas longínquas

Dos morros invisíveis, dos sons desérticos entre os montes,

In-terditas nos prazeres #ludo-luso#

Do panorama do bosque edênico,

Paradisíaco do outro lado das coisas, dos lugares,

Hadisíaco na margem contrária dos objetos...

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Uma brisa sopra nesta noite, empurrando bolas de nevoeiro pelo chão. Kambaleio bebericado de líquido ardente em campo aberto por um momento, logo sou engolido pela névoa espessa, volto a emergir num trecho limpo. À luz das estrelas, posso ver, contemplar as bolas prateadas de nevoeiro rolando pelos campos ao redor. Sorrio de mim mesmo, prosseguindo em meu caminho, pensando como tenho a capacidade de alterar a natureza, deturpar as raízes verbais das florestas indevassáveis – enfim nestas terras não cai neve, apenas o orvalho na madrugada molhando as folhas das árvores e a grama dos quintais, terrenos, canteiros de flores, regatos, pelos de cães vira-latas ao léu noctívago, velos de ovelhas à mercê das ampulhetas da contradicção -, para ajustá-la aos meus próprios pensamentos, para ajustá-la aos hiatos de vaga insônia aderida às náuseas santificadas e deificadas, já que é um dom do espírito desvencilhar-se daquilo que a consciência se recusa a assimilar, talento do instinto re-colher-se daquilo que a razão negligencia as origens.

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Nas adjacências do uni-verso, que re-flete sombras líquidas,

Ah, éritos

Do pretérito consignados aos sonhos de futurais particípios,

Havendo

Finos indícios de horizontes perspectivados de liberdade

Espiritual nas imagens

Que se esplendem nos imperativos do tempo,

Luzes emitem às cafuas in-finitas, compondo a face

Egrégia de semblante angelical, fisionomia demoníaca,

Onde se lê a sutileza do espírito puro, alma herege, profana,

A claridade que se ilumina, ilumina as ruas, os sítios,

Os cômodos de casa, porões de barracos e choupanas,

As germânicas vias negras dos chapadões do bugre,

Onde o ser beberica o si-mesmo

No sonho de travessia a outras contingências e ausências,

A labuta árdua continua...

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Há um momento melancólico, hora hermética e difícil,

A cor-agem impulsiona os atos e atitudes,

Os gestos, em que "a dúvida, prosseguindo nas ruas do sono,

Penetra a alma ou nenhum fragor denuncia?,

Instante-limite entre o tudo e o nada palmilhando as

Terras do submundo,

Passando solitária, a rua do olhar me tateia, toca-me, a fitar-me

Quem in-voca, evoca exausto "fitar o contínuo nas suas sinuosidades",

Imagino olhos, calmos, solitários...

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Velas,

Velando veladas dimensões da etern-idade

Eterna, eternizam com as achas do fogo milenar,

Com os raios das chamas seculares,

Solstícios do crepúsculo de flores que exalam perfumes

No amor

Eivado de volos espirituais, ex-tases do sublime;

O corpo ranger, re-fluir, enlaçar, errar em coisas retrógradas,

Sob eles soterradas, sem recalcadas dores ignóbeis,

Neurotizados sofrimentos pueris,

Lesões que nada justificam, exemplificam,

Esclarecem, explicam,

Nem piedade,

Confiar ao que bem me importa do sono.

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As águas, aquando tornam a cair sobre si mesmas, rompem o tempo verbal com um som similar àquele do vento entre serras, um som sibilante. Quanto a mim, sei que as águas me precedem e me seguem, elas sabem que o outro do "livre-arbítrio" reside na liberdade in-édita de criar e re-inventar os valores à face estética e ética das etern-itudes pós a consumação das etern-idades e eterno.

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A noite não cai sobre as águas de um rio, não será levada ao longo dos sítios e terras sinuosas, seguindo os aclives e declives da jornada, esvaecer-se-á no prelúdio do alvorecer, suntuosa e magnânima, re-nascendo dos termos sem termos, das regências sem gerências do pós sem ad infinitum dos vernáculos, ela cai sobre as montanhas, sobre as colinas.

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A noite emerge do fundo das águas.

Rio de Janeiro(RJ), 19 de maio de 2021, 03:27 a.m.

 

 

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