#DA CORAGEM AO COR-AÇÃO SEDENTO DE APETITES🥨# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA ***


Ah... sentir-o-silêncio-ser-o-exílio-das-relações-nada-haver-a-ser-dito!...

Ah, ter-a-evidência-ácida-do-mistério-de-quem-sou, do-que-sou!...

Ah!... esta-fronteira-da-lembrança-e-do-esquecimento, este-sonho-de-rompimento, entrar-em-sintonia-e-harmonia-com-a construção, com-a-[id]-{ent}-idade-histórica!...

Ah!... essa-quimera-de-ser-quem-sou-e-já-que-é-quimera-não-há-como-não-ser!...

Ah!... esse-nada-vazio-de-utopias, esse-aconchegar-ninhadas-de-pensamentos-ideias, esse-inverno-que-se-anuncia!

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A chuva custa a passar, os lábios falam com dificuldade, como se fala numa noite em que o demasiado frio adormece as maçãs do rosto. Creio que se faz necessário que aprenda aquilo que é comum nas outras pessoas, como por exemplo o prazer de jantar num Domingo de Chuva, à noite. Minha história é de escuridão densa, de raiz adormecida na sua força, de odor que não tem perfume, de semente seca de por baixo do pensamento. Quase não tem carne... Reproduzir de ouvido esta música de jantar num domingo chuvoso, não é possível cantá-la sem tê-la memorizado, é em si e de si. Como memorizar uma coisa que está inda nos recônditos da alma? Veja só esta coxa de frango, quando se separa a carne branca e deliciosa do osso, é como se fosse um instante de júbilo! Por que não triturar este osso, como fazem os cães, sentindo prazeres inusitados? Deve ser para o nosso coração tão sedento de apetites, imemorável e sensível quanto para um jovem pela primeira vez aliciar a face de sua namoradinha.

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Não. O meu abandono ao instante de chuva é tão simples e tão completo que estou aberto por inteiro ao mesmo tempo a toda emoção prazerosa, a todas as sensações serenas, como a toda angústia que provenha dos mais profundos sítios da alma, e tudo saboreio até ao fim, com volúpia e êxtase, e degusto com as retinas do olhar os ex-tases do ser.

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Não quero ser deslocamento histórico, mas observador da história. A intenção não é olhar para trás para criticar ou erigir opiniões compulsivas, esquecendo o sentimento e a vivência de cada época. Minha consciência não quer ser cortesia do “eu penso” por “eu sinto”. Não sou “caixa de ferramentas” com peças que só servem para instantes quando algo está errado. Quero ser “amortecedor” novo de um pensar consciente, desenvolvendo a habilidade de lidar com sentimentos capazes de transformar a intenção em ação e, sobretudo, ter um coração que perceba, sinta e aceite a capacidade que o eu e o outro têm para transformar nossa comunidade, sociedade e mundo, não medindo ou pesando distância, não traçando linhas verticais, horizontes lineares, isto não interessa, mas fazer reinar o primeiro passo. Quero ser corajoso, a exemplo d´Aquele que anunciou o Reino dos Céus, comparando-O a um grão de mostarda.

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Haveria alguma dúvida da presença de mim a mim próprio e a tudo que me cerca, envolve-me de mistérios, envela-me de anúncios, é de dentro de mim que o sei – não do olhar dos outros, do pensamento dos outros.

Rio de Janeiro(RJ), 07 de maio de 2021, 08:49 a.m.

 

 


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