Ana Júlia Machado ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ANALISA E INTERPRETA A SÁTIRA Santa Maria ****


Ana Júlia Machado ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ANALISA E INTERPRETA A SÁTIRA Santa Maria

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Nesta sátira do escritor Manoel Ferreira Neto intitulada “SANTA MARIA”!... Pois é mesmo de chamar pela Santa. Pois sátira não é qualquer um que faz e depois é muito criticada e mesmo muita a ser censurada. Aqui, ele mais uma vez exorciza seus sentimentos da mediocridade da sociedade e do não saber.

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Penso mesmo, ter a desgostosa sensação de que a mescla do polidamente íntegro com a ignorância operante concluiu por trucidar a faculdade da sátira no Brasil Hodierno, em que o autor fala mesmo isso nas entrelinhas... Como verbaliza no texto o seguinte que afirma bem o que se passa no país: ”Não, não, não é! Creu com breu não é rima intencional. Creu é simplesmente a terceira pessoa do singular do pretérito imperfeito de “Crer”, não havendo aluno em sala de aula que não se levante alucinado com a feiúra deste tempo, e até o professor lhes dizendo para nunca dizerem este termo nas rodas de amigos, no seio da família, se o fizerem, vão ser tachados de ridículos, havendo sempre este rótulo na testa “ridículo” A sátira, que permanece desde os antigos gregos, é uma arte literária, em prosa ou verso, que possui por objetivo satirizar um assunto para evocar o sentido sobre ele. Para alcançar tal propósito o autor socorre-se às espacejas, ao humor, ao escracho que na gíria quer dizer “Retrato tirado na polícia”., à zombaria, ao nonsense, ao escárnio, à corrosão, ao adverso sensu, à caricatura, enfim. Para tanto se fortifica da restrição ou expansão de um facto ou de uma reflexão até torná-la caricata, posição em pés de equidade factos de tamanhos ou grandezas díspares.

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Para a sátira ter êxito, tem de existir recebedores minimamente compreendidos, que possam decifrar nas espacejas, perceber as conexões, o adverso sensu, e que possua raciocínio de qualidade da pessoa bem-humorada, feliz, divertida. Humor. Fora dessas espécies o que vai existir é um horrível estrépito.

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Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno, é o considerado o maior escritor satírico, viveu na Bahia entre 1636 e 1696 e avezava satirizar as praxes e os hábitos corruptos da era. Jonathan Swift, escritor irlandês do século 18, autor de “As Viagens de Gulliver”, é um dos escritores satíricos mais falados globalmente. Em 1729, para evocar o tento da colectividade sobre a existência de miséria da população mais pobre do Reino Unido (era o início da Revolução Industrial), Swift escreveu a famosa sátira “Uma Modesta Proposta”, em que sugere que os frutos dos desgraçados sejam usados como pitéus e a tez deles, por ser muito viçosa, seria adubada e usada no fabrico de luvas para as damas utilizarem no decorrer do frio.

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No Brasil de hoje , uma sátira como o autor descreveu irá atiçar uma ira hedionda e escasso sentido, diria que será como cursar por dentro de uma guerra de revolta popular: acarretar quiçá com ofensa de todos os lados. Por isso, há que ter coragem em concebê-la.

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Mas vale os que remanescem... Alguns leitores que ainda são idóneos de decifrar e entender uma sátira. Mas efetivamente é invulgar. A preponderância do astuciosamente íntegro ligado à ignorância funcional e o tipo de ensino concluiu por anular a aptidão de fazer erudições nas espacejas. Presentemente o texto carece presentear uma faculdade de leitura restrita, assim como os manuseáveis de estabelecimento ou de autoajuda.

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E como refere o autor e para concluir esta sumária análise da sátira e suas consequências:

Idealizando esperto com a reputação e o êxito com a aptidão de estampar o selo da perpetuidade com os breus internos, aquele que adopta resoluções através dos sentidos da alma que é avidez dos anseios, sensações e intenções, incorpóreas, com outro aforismo do nonsense magníficos “Lá em cima do morro tem um pé de manacá, os trouxas da flor roxa do amor não sentem como acá”....

Ana Júlia Machado

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SANTA MARIA!...

GRAÇA FONTIS: PINTURA

Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA

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Creu não é intenção escusa de rimar o breu íntimo e almático com a claridade dos nonsenses viçosos e ávidos que floram na mente e deixam a língua excitada por lhes expressar de modo que nada mais possa superar-lhes, abarcaram todas as instâncias do imortal, até a eternidade admirando-se com isto de o absoluto dos nonsenses ser realizado com tanto primor, ser per siempre lembrados pelos homens, citados em todos os encontros nas esquinas, bares, aniversários comemorativos, bailes, discursos de vereadores na Câmara Municipal, e até os clérigos se servindo deles em seus sermões para solidificar a idéia de que a perfeição humana pode ser realizada, os casais, após a cópula, citarem excertos para inda mais sentirem prazeres inolvidáveis, diálogo acirrado sobre “o amor é flor roxa que nasce no coração dos trouxas”, numa tentativa de ampliar a visão desta máxima, senti-la ardente nos instintos, os casais de namorados na varanda em plena lua cheia fazerem suas promessas de vida perene com algumas passagens, nas escolas haverem disciplina que estuda a profundidade de suas mensagens, mestres, doutores universitários fazendo palestras, escrevendo teses que inda mais esclarecem o cerne de suas verdades, lançando ao futuro perspectivas para as ciências se servirem deles para auxiliarem na construção de uma humanidade ciente, cônscia de seus valores, virtudes, suas éticas e morais nonsenticas, e não mais necessitarem de inspiração nas idéias, pensamentos sublimes, alvissareiros, que são semens para a espiritualidade...

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Não, não é!... Creu não é rima com breu, não é intenção de ironizar o breu mental de quem creu na probabilidade e possibilidade de o existir ser a luz suprema para todos os sonhos, esperanças, utopias serem patenteados, a felicidade ser uma questão de luz interior, todos os desejos, vontades serem realizados com perfeição divina, serem consumados, a alegria, contentamento se mostrarem no sorriso límpido de orelha a orelha, isto é papo-de-onça largada no bosque, morrendo de vontade de comer a carne deliciosa de um veado, depois tomar água no córrego Santa Maria, o mesmo que dizer ser o homem imbecilóide de galocha e boné de palha por crer nestas coisas, deveria mais crer que “pedra dura em água mole afunda e não mais emerge”, isto é que é pura intuição, percepção do mundo das coisas supimpas, inteligência das mais elevadas, dessas inteligências nobres, geniais que só Einstein desfrutou dela, fora o lídimo representante, e teve a oportunidade de degustar de todos os reconhecimentos da humanidade, coisa que é em demasia difícil de ter, até hoje citado como o maior gênio que o mundo já conheceu; fosse até intenção de ironizar a rima de breu com creu com aquela intenção sui generis, não de merecer elogios elevados pela pobreza poética, mas alcançar o ápice da “breudade” crida como de excelência na construção de indivíduos inimigos da verdade, inda nestas instâncias nonsenticas haveria a intenção primordial de ser no breu do creu que nasceu o nonsense puro, mais profundo que a Razão Pura de Kant, a verdade irrefragável que eleva os homens às nuvens de onde contemplam as mentiras que os séculos pretéritos tornaram pergaminhos de investigação de ser na continuidade delas que a espiritualidade torna-se presente, as angústias, desesperos serem escafedidos para sempre, e nada sobrar para ao menos contar como se deu o “causo”, não mais ser mister lutas e labutas por artificiá-la a critério e rigor, por institucioná-la, aí sim todos sem quaisquer exceções tocarem anu para Cantagalo na maior displicência, dispersão, tomando suco de graviola, comendo biscoitinhos de maizena...

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Não, não, não é! Creu com breu não é rima intencional. Creu é simplesmente a terceira pessoa do singular do pretérito imperfeito de “Crer”, não havendo aluno em sala de aula que não se levante alucinado com a feiúra deste tempo, e até o professor lhes dizendo para nunca dizerem este termo nas rodas de amigos, no seio da família, se o fizerem, vão ser tachados de ridículos, havendo sempre este rótulo na testa “ridículo”, ninguém vai querer por causa do creu ser para sempre lembrado, permitir que sua imagem vá direto para a sarjeta. O creu do breu que excitou a língua para revelar o puro nonsense nada mais fora que a fuga das regras e da moralidade dos princípios solenes que regem a modernidade, não havendo qualquer referência crítica às rimas pobres, censura aos poetas, não de modo algum, sim que só no breu dos nonsenses que o creu pode ser conjugado e gerenciado com perfeição divina, pode ser dito livremente e ser motivo sine qua non para o mérito de um busto de bronze em praça pública para o deleite dos transeuntes, para o footing das noites de lua minguante e estrelas alucinadas de brio e brilho, e mesmo para aqueles que não acham qualquer graça nisto de footing e desejam com todas as forças o descanso debaixo do pé de manacá no morro, sonhando acordado com a fama e o sucesso com a capacidade de imprimir o selo da eternidade com os breus íntimos, almáticos, espirituais, com outra máxima do nonsense supimpa “Lá em cima do morro tem um pé de manacá, os trouxas da flor roxa do amor não sentem como acá”....

Rio de Janeiro(RJ), 22 de maio de 2021, 05:59 a.m.

 

 

 

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