QUERO# GRAÇA FONTIS: FOTO Manoel Ferreira Neto: POEMA




Quero
O sol tostando a pele,
O ente querido, amado e eu,
Pirimbando com as coisas mesmas,
Dando carta de otário às vulgaridades
Do presente, tomando uma cervejinha,
De quando em vez um banho de mar,
Sentindo o longínquo na distância que as águas alcançam,
A coruja dos bosques e ilhas marítimos,
Cantando os silêncios enigmas, culturas, mistérios, equívocos,
Abraços esfusiantes, alucinados, o mar tocando os corpos.


Quero
o sibilo de vento entre salsas e merengues,
quero
o vazio no templo das quimeras,
quero
o vácuo no instante dos idílios.


Quero
Ébrio de sons, kambaio,
De claves,
Melodias pers de utopias,
Na metalinguística da expectativa
Da liberdade em questão,
Na meta-estilística da esperança
De o Ser ventanear pelas alamedas
Das Contingências, deixando a sensação
Das etern-itudes
Orlear pela chão de areia as questões
De ser imagem refletindo no espelho
Do bem-estar, de êxtase de amor,
Sentir o ente amado, por inteiro entregue,
Doado, cedido, con-sentido;
Ritmos retros de fantasias
A revelarem os acordes do tempo
Sentimentos que florescem
No des-abrochar
Da pétala da existência
Mais reverenciada,
Mais irreverente,
Mais rebelde,
Mais polêmica, insolente,
Essa singeleza
De esvaecer trevas e mistérios
Que entre
Os sibilos do vento se filtra.


Quero
a ausência no momento dos devaneios,
quero
o oco no minuto da solidão,
quero
o opaco no segundo da certeza.


Quero
Ébrio de sons, "berbido" de idéias,
Assim dissera-me gaúcho,
Água na Boca, almoço delicioso,
'Berbido" é mais do que embriagado,
Sibilos do vento
Musicalizando anunciações
De sentimentos que reverenciam
Ideais, utopias da Káritas,
Bêrbado de imagens, perspectivas,
Luzes, contra-luzes,
A cor do lápis, da tinta,
Tonalizando presentificações
De sensações que verbalizam
O íntimo, o abismo do ser
No despetalar do estar-no-mundo
Por que o Ser e não o Nada?
Corre o tempo
Nas cordas do violão
De encontros, desencontros
Amores, desamores.


Quero
o eco no átimo da confiança,
quero
o carinho no tempo da desilusão,
quero
a ternura no tempo do fracasso.


Ébrio de sons,
Quero mergulhar na música
Afogar-me nela
Sentir as notas do espírito,
Dançar baladas
No palco do infinito...
Panorama de imagens,
Paisagem de pinturas
Quiçá pintar peças
No camarim do universo
Sob a luz das constelações,
Dos raios de sol.


Quero
a carícia no momento da angústia,
quero
a compreensão na hora da dúvida.


Quero
a meiguice no minuto da insegurança,
quero
o amor no segundo do tédio...


Quero
a felicidade no tempo de amor,
a alegria no minuto do prazer,
o prazer no instante de paz,
a paz na hora do gozo,
o contentamento no segundo do clímax.


Quero
In-versar o re-verso sem colocar
O avesso e as suas re-vezes de lado,
Trocando de pele a cada primavera per-versa:
Cada vez mais jovem, mais voltado para o há-de ser,
Cravar minhas raízes cada vez mais rigorosamente
Nas profundezas,
No mesmo instante-limite abraçar os céus,
Joelhar aos pés da terra cada vez mais amoroso
E extensamente, absorvendo sua luz, com avidez
Inda maior,
Com todos os meus ramos e folhas.


Quero
Re-versar o avesso dos ideais,
Solsticiados de volos e vontades da plen-itude,
In-versando os re-vezes no ínterim do alvorecer
Do crepúsculo, do entardecer, do anoitecer,
Alvorecendo as idéias, os pensamentos,
Con-templar é saciar a sede do conhecimento,
Anoitecendo e madrugando as fantasias e ilusões,
E intimamente, sorver o sabor da busca do saber.


Quero re-vezar os solipsismos
Com as teias das ipseidades,
Com as linhas das dialécticas,
Nas ondas de poeira que o vento artificia
Na sua passagem pelas estradas de terra,
Pro-jetar os suplementos poéticos do eterno
Alhures, voando nos algures do silêncio e da luz.


É isso, é isso
que não consigo assumir: o poema
caminha para o devaneio.
Tudo é futuro
e, no presente,
nada existe.
Nem mesmo o homem.


Só palavras...


#RIODEJANEIRO#, 24 DE FEVEREIRO DE 2019#

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