#BANQUETE DOS PÁSSAROS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto/GRAÇA FONTIS: PROSA POIÉTICA




Epígrafe:


"O que pulsa no outro em mim está pensando, sentindo; o que busco no outro em mim está gemendo. Que é a ec-sistência senão estar exercitando para a vida verdadeira que se vislumbra no sono? O que sangra no outro em mim está ferido, o que abraço no outro em mim está florindo, o que afago no outro em mim está orando, o que toco no outro está desejando a plen-itude da entrega. Que é a luta senão canção de liberdade para a vida verdadeira que se tece na vigília, nas palavras de versos soltos ou amarrados na cauda de uma estrela distante?" (Manoel Ferreira Neto)


Não é erudição sin-cronizada na moldura
A imagem lúdica inversamente sexual,
Reversamente erótica, ad-versamente sensual,
Tepídos re-flexos arranjados nas bordas,
Re-presentação de sinistros pensamentos
Percorrendo re-cônditos sítios da alma,
Contra-luz das idéias que ensaiam as performances,
Perspectivas do solene inferno de metafísicas,
Ainda nada de sinas e sagas
Que só mudam de endereço ao longo das cenas
Luzes fosforescentes no proscênio piscam as palavras,
Respiração,
Inspiração germina origens e fontes
Onde saciar a sede da casa-do-ser,
Onde seivar a fome da margem da alameda,
Não na precipitação humana e sem medidas,
Sombras não assumidas ou mortes
Que as mãos não restituem,
Na noite de vícios é furto de cores,
É florido, invernoso,
Onde a solidão hiberna, a mente não mente
Só... reflete num labiríntico circular,
Da meditação e surdez as vozes perdidas
Entre lâminas e lama,
O tempo, a temperatura, a noite escura,
Não há luar, menos estrelas que saúdam
Apenas a força da conveniência
Na precipitação de ocasos/acasos
Sob olhares de revolta distantes dos sinais
Exteriores da benevolência aos corações
Úmidos e amargos...


O silêncio deserta ritmos de cuidar a língua
Lácia do íntimo da alma, velar-lhe as quimeras,
Labirinto dos sons,
Clava-me o verbo da metáfora,
Sussurros, murmúrios, ruminações,
Entre medos e hesitações da escolha imperfeita
Que perfecciona presenças e outroras...
Ilhas, exílios, bosques, fugas,
Onde/aquando o assustador não são gritos inconsequentes,
Mas o silêncio dos sábios
Nas bordas do abismo viscoso
Que corrompe e atrai
O escrito nas estrelas sensibiliza de chamas calientes
As constelações de por trás da moldura da gravura
Des-clavam notas ceifadas e arranjadas
Noutras melodias que sentimentos e humanidades
Conciliam sorrelfas e fantasias,
Ziguezague de criatividade e ausências...


Que existam cedros a fivelarem-se
Aos bosques amenos em que jogos são cânticos
Perdas são doçuras, suaves perfumes
E fartos sejam o banquete dos pássaros silvestres
E dos poetas no repouso das almas enfastiadas
No tempo que não descansa.


Já não vou à busca da essência – o que me importaria nesse instante, momento-limite, se me re-velasse em toda a sua pureza, sublimidade, onde nenhum diamante poderia cortar-lhes as dimensões sensíveis, como é de sua natureza fazê-lo e realizá-lo? Na pureza e na sublimidade, a minha verdade maior estivesse não apenas inscrita, escrita, mas biblizada na minha contingência, isenta de dogmas, preceitos, fábulas, quem me dera?! Ficaria boquiaberto de tantos êxtases e volúpias? As pupilas se dilatariam em conseqüência de a alma haver-se insuflado, empolado, aberto os seus cofres mais secretos, de as idéias e pensamentos haverem-se re-colhido na caverna do in-ec-sistente, de os instintos haverem-se a-colhido o que há de mistérios na carne e nos verbos que nela se trans-formaram, que con-jugaram instintos e sensações? Quiçá me sentisse pleno, sublime, na alma o frescor de uma manhã de in-verno, na beleza de seus panoramas no descampado, no espírito o voo da águia que desbrava o infinito, descortina o nada de todos os horizontes e uni-versos, des-lumbra os vazios na travessia do espaço ao in-finito, des-venda as solidões que cobrem o silêncio de dúvidas, medos, inseguranças...


Cinzas cristalizadas
Ideais niilizados, idéias fenecidas
Pensamentos nadificados
Desejos nulificados, esperanças destruídas,
Fé esquecida,
Sonhos tergi-versados, adulterados
Nada, nonsense, vazio
Na moldura do tempo que segue a sua trajetória...


Não, não é moldura
Suspensa nas paredes da vida humana.
Apenas parecem.
São alizares miseráveis das janelas,
Sempre fechadas, feito celas.
E dentro delas - o que se vê, o que se enxerga?
O que se ouvem?
Veem-se vazios, nadas
Enxergam-se dores, sofrimentos,
Sussurros, gemidos, uivos, ruminações.
Ouvem-se desolações, desconsolos
Escutam-se angústias, solidões,
Ouvem-se medos, frustrações
Escutam-se tristezas...
Só o coração escuta!
Só a razão ouve!


Não é pintura de artista famoso,
Não são obras-primas de escritores, poetas consagrados.
É a obra homérica
Da sociedade hipócrita, falsa, medíocre e mesquinha,
Da sociedade gananciosa e egoísta,
Da sociedade dos bens materiais,
Dos interesses e ideologias escusos,
Incapaz de lançar o olhar
Além das próprias janelas;
De arejar a alma, além dos próprios quintais de jardins floridos,
Árvores frondosas de frutos deliciosos,
Desejando sempre, e, cada vez, mais,
De espairecer as idéias,
Além dos desejos e vontades dos projetos individuais.


#RIODEJANEIRO#, 02 DE FEVEREIRO DE 2019#

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